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segunda-feira, 14 de maio de 2018

Tradução da carta de Frege à Husserl sobre o conceito (Begriff)

GOTTLOB FREGE:
CARTA À HUSSERL, 24.5.1891

(...) Tudo o que eu gostaria de dizer agora é que parece haver uma diferença de opinião entre nós sobre como uma palavra-conceitual (nome comum) é relacionada a objetos. O seguinte esquema deve tornar minha concepção clara:

Proposição           nome próprio          palavra conceitual
       ↓                         ↓                              ↓
Sentido                sentido                    sentido de uma
de uma                de um nome            palavra
Proposição          próprio                    conceitual
(pensamento)
        ↓                         ↓                             ↓
BEDEUTUNG    BEDEUTUNG        BEDEUTUNG           →   Objeto que cai
Da proposição     do nome próprio      da palavra conceitual         sob o conceito
(valor-verdade)    (objeto)                   (conceito)

Com a palavra conceitual é preciso mais um degrau para se chegar ao objeto do que com o nome próprio e esse último degrau pode estar faltando – ou seja, o conceito (Begriff) pode ser vazio – sem a palavra conceitual cessar de ser cientificamente útil. Eu desenhei o passo do conceito ao objeto horizontalmente para indicar que estão no mesmo nível, que objetos e conceitos tem a mesma objetividade. No uso literário é suficiente que tudo tenha sentido; no uso científico é preciso ter Bedeutung. (...)
     Agora parece a mim que para você o esquema seria assim:

                                          Palavra conceitual
                                                       ↓
                                   Sentido da palavra conceitual
                                                       ↓
                                  Objeto caindo sob o conceito

Assim para você o número de degraus do nome próprio para o objeto seria o mesmo que o das palavras conceituais. A única diferença entre nomes próprios e palavras conceituais seria então que as primeiras poderiam se referir somente a um objeto e as segundas a mais de um. Uma palavra conceitual cujo conceito fosse vazio teria então de ser excluída da ciência assim como um nome próprio sem um objeto correspondente.

(Obs: Para Frege se o nome não tiver referência ele não servirá à ciência. Mas o predicado pode não ter referência e mesmo assim servir à ciência; logo, o predicado precisa ter como referência algo mesmo quando é vazio, ou seja, um “conceito”. Qual a razão de ser assim?)

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