TEXTO DIDÁTICO:
DEFINIÇÕES
Outro conceito importante é o de definição. Uma definição é a especificação do significado ou do conteúdo conceitual de uma expressão.
Há muitas formas de definição, algumas delas são as seguintes:
1. Definição ostensiva: é o simples apontar para o objeto ou mostrar o objeto ao qual o termo se aplica. É muito usada pelos pais quando eles ensinam o significado de nomes comuns aos filhos.
São possíveis enganos no aprendizado, mas esses enganos podem ser corrigidos em experiências de re-identificação interpessoal.
2. Definição verbal extensional. Os termos de nossa linguagem possuem intensão e extensão. A extensão de um termo é o conjunto dos objetos aos quais o termo se aplica. Assim, a extensão do termo ‘cão’ é o conjunto de todos os cães e a extensão do termo ‘aluno’ é o conjunto de todos os alunos.
A definição ostensiva é uma definição não-verbal extensional. Por exemplo: essa é a famosa torre Eiffel. A definição verbal extensional é a que nomeia verbalmente os membros do conjunto, ao invés de apontar para eles. Exemplo: Mônica tem três galinhas, cujos nomes são Anita Garibaldi, Tarsila do Amaral e Clarice Lispector (exemplo pueril).
3. Definição intensional. A intensão de um termo é o conjunto de todas as propriedades que uma coisa precisa necessariamente ter para que o termo se aplique a ela. A intensão determina a extensão. Quando uma definição intensional explícita de um termo é dada, uma frase cujo significado equivale ao do termo é enunciada. Por exemplo: (Df.) ‘solteiro’ = uma pessoa adulta, de sexo masculino, não-casada. Há dois tipos de definição intencional mais importantes:
a) Definição que mostra como uma palavra é comumente usada: é o caso de definições de dicionário em geral, chamadas de definições lexicais. Esse é também o caso de definições ditas reais, que intentam descobrir a essência, ou seja, condições metafisicamente necessárias para que algo seja uma coisa nomeada pelo termo que se quer definir.
Uma forma clássica de definição real é a aristotélica, na qual o definiendum (aquilo que se quer definir) é explicado pelo definiens (o que define); o definiens é constituído por um gênero próximo (distintivo da classe mais próxima à qual pertence) e por uma diferença específica (distintivo da classe que o caracteriza). Por exemplo:
1) homem (definiendum) = animal (gênero próximo) racional (diferença específica) (definiens);
2) casa (definiendum) = abrigo (gênero próximo) para seres vivos (diferença específica).
Definições reais e as definições em geral devem satisfazer as três condições seguintes:
(1) Elas devem dizer o que a coisa é e não o que ela não é. Ela não deve ser nem estreita nem larga demais, ou seja, deve enunciar as propriedades de todos os membros de sua classe extensional e somente desses membros.
Exemplos de definições largas demais: Faca = instrumento para cortar. É larga demais, pois uma tesoura é um instrumento para cortar e não é uma faca. Homem = bípede implume. Também é larga demais, pois é possível que existam bípedes implumes que não sejam homens, como a galinha depenada.
Exemplos de definições estreitas demais: Mesa = uma peça de mobília que tem um tampo horizontal e quatro pernas. Ela é estreita demais, pois há mesas de três pernas. Solteiro = estudante adulto não casado. É estreita demais, pois cobre menos que a extensão dos solteiros.
Há definições que são demasiado estreitas e largas ao mesmo tempo. Exemplo: Gato = animal doméstico. É larga porque cães também são animais domésticos e ao mesmo tempo estreita porque gatos selvagens também são gatos.
(2) O definiens deve ter uma vaguidade idêntica a do que se quer definir. Por exemplo, “Mulher = fêmea humana adulta”, está certo. Mas a definição “Mulher = fêmea humana de mais de 18 anos” é uma em que o definiens é demasiado preciso.
(3) Uma definição não pode ser circular. Definição circular é aquela que incorpora parte do definiendum no definiens. Exemplos: gramínea = qualquer planta verde que é comida por animais gramíneos; Sonífero = medicamento com virtude dormitiva.
b) Definição que introduz uma nova palavra na linguagem: Novas situações podem exigir a introdução de novas palavras, por exemplo, ‘astronauta’ = pessoa treinada para dirigir foguetes no espaço (de astro = estrela, nauta = marinheiro). Tais definições são chamadas de estipulativas. Elas evidenciam o caráter convencional da linguagem. Exigências: (i) não podem ser palavras que já tem um sentido standard amplamente aceito (Humpty-Dumpty). (ii) Precisa ser uma adição útil (o uso de jargão especializado desnecessário apenas dificulta o entendimento pelo leigo).
c) Definições que reduzem a vaguidade. Outro caso é o de redefinições de termos ordinários que reduzem a sua vaguidade para fins práticos. Um caso de definição que tipicamente reduz a vaguidade é o das assim chamadas definições teoréticas, que envolvem o compromisso com uma teoria. (Teoria = crença geral que é expressa em um conjunto de enunciados sobre a natureza do objeto.) Ex: pessoa morta = aquela cujas funções cerebrais cessaram. Envolve teoria sobre o caráter da vida humana. Ex: momento = produto da massa pela velocidade do corpo.
4. Definições operacionais (instrumentais): Bridgman e outros buscaram definir termos especificando os procedimentos empíricos nos quais eles são envolvidos. Exemplos: “Essa chama é azul = essa chama tem comprimento de onda entre 4,2 e 4,6 angstroms”; “Essa substância é solúvel em água = se colocada dentro d´água ela se dissolve.” Torna-se problemática quando se trata de termos altamente teóricos, como elétron, que demandam teorias sofisticadas para seu entendimento.
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Exercício:
1. Tente dar definições reais para as palavras ‘carro’ e ‘casa’.
2. Formule um exemplo de definição larga demais.
3. Formule um exemplo de definição circular.
4. Se definimos um ‘Zoodoobedahh’ como um “milionário excêntrico e bêbado”, que tipo de definição é essa?
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