DA SUBTRAÇÃO DA INTELIGÊNCIA PELA HABILIDADE EM FILOSOFIA A EXEMPLO DO PRINCÍPIO DA EXPLOSÃO
A inteligência, como notou muito corretamente um por demais conhecido pensador, é a capacidade de apreender a verdade. Esse acesso demanda a aplicação e o desenvolvimento de habilidades de apreensão da verdade. Daí o erro comum que consiste em confundir a inteligência com as habilidades de acesso à verdade, como fazem os testes de inteligência.
O problema é que se essas habilidades forem desenvolvidas e aplicadas para não se chegar à verdade, elas se tornam mecanismos de desinteligência, para usar um neologismo não ofensivo. Essa é a raiz de um mal que muito aflige a academia, especialmente nas humanas, onde não é tão óbvio onde é que está a verdade.
Confundindo as duas coisas, grupos intelectuais facilmente terminam suas pobres vidas discutindo quantos filósofos são capazes de dançar na ponta de uma agulha e coisas do gênero. Como o processo de desinteligenciamento é coletivo, de dentro ninguém percebe, só de fora, de onde ninguém sequer quer se dar o trabalho de olhar.
Quero dar um exemplo com o princípio da explosão da lógica clássica. Segundo esse princípio absurdo, de uma contradição tudo se segue. Por exemplo: se está chovendo e não está chovendo então eu sou um urso branco.
Eis uma formalização bastante simples. Dada a contradição P e não-P, por simplificação chega-se a P e a ~P. Usando então a regra de introdução da disjunção você conclui de P que P v Q, onde Q é uma frase qualquer, verdadeira ou falsa. Como você já concluiu que não-P, usando a regra do silogismo disjuntivo você conclui que, dado que P v Q e não-P então Q é verdadeira.
O argumento é válido, posto que por definição um argumento é válido quando, sendo todas as premissas verdadeiras, a conclusão não pode ser falsa. Ele é trivialmente válido porque por causa da contradição, de P & não-P, nunca acontece de todas as premissas serem verdadeiras.
A solução do problema dentro do escopo da lógica clássica é em meu juízo tão simples que estou certo que já sugerida por outros. Basta adicionar possibilidade à noção de validade, por exemplo:
Um argumento é por definição válido quando, sendo possível que todas as premissas sejam verdadeiras, se elas forem todas verdadeiras a conclusão não poderá ser falsa.
Como no caso da explosão é impossível que todas as premissas sejam verdadeiras, o argumento passa a ser inválido e a bomba é desativada logo de início, salvando coisas óbvias como a regra da introdução da disjunção.
Lógicas disjuntivas e dialeteístas tem uma maneira alternativa de resolver o problema. Como elas rejeitam a regra da introdução da disjunção, elas cancelam o argumento onde essa regra se aplica, impedindo a explosão em benefício próprio e culpando a lógica clássica por esse princípio absurdo.
Como a solução óbvia é a que foi apresentada acima, o jeito é fazer de conta que ela não existe para poder exercer “bigodagem” no interior da lógica. Isso permite a eles a produção de uma imensidade discussão bastante fátua resultante da rejeição da lógica clássica, em exercício de habilidades intelectivas sem nenhuma inteligência no sentido de apreensão da verdade.
Li umas páginas de Graham Priest, por exemplo, e vi que era tudo fácil de refutar, para mim, pelo menos.
Mas os lógicos ilógicos têm lá as suas razões. A mais comum é a simples inocência. Outra consiste no fato de que, como diria o Henfil, as pessoas precisam sobreviver. Ainda outra, mais profunda, seria a de que o erro imaginativo é útil à filosofia em termos dialéticos. Um erro, quando perseguido até suas últimas consequências, pode ser até bastante instrutivo.
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