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If you wish to be acquainted with my groundbreaking work in philosophy, take a look at this blogg. It is the biggest, the broadest, the deepest. It is so deep that I guess that the narrowed focus of your mind eyes will prevent you to see its full deepness.

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Claudio Costa: PHILOSOPHICAL TEXTS - TEXTOS DE FILOSOFIA

                 THIS "BLOG" WAS IDEALIZED AS A WAY TO MAKE MY "OUTSTANDING" WORK IN PHILOSOPHY MORE ACCESSIBLE. IT CONTAINS MORE THAN 100 WRITINGS, THOUGH USUALLY IN DRAFT FORMS, IN ENGLISH AND/OR PORTUGUESE. THE PAPERS WITH INTEREST FOR THE RESEARCHER WERE MARKED WITH #.

ESSE "BLOG" FOI IDEALIZADO COMO UMA MANEIRA DE TORNAR MEU "FABULOSO" TRABALHO FILOSÓFICO FACILMENTE ACESSÍVEL A PESSOAS LEGITIMAMENTE INTERESSADAS EM BUSCAR A VERDADE. ELE CONTÉM MAIS DE 100 ESCRITOS, MUITOS DELES EM PORTUGUÊS. ALGUNS SÃO DIDÁTICOS, OUTROS NÃO. OS TRABALHOS DE INTERESSE PARA PESQUISADORES FORAM MARCADOS COM #



FROM MY CURRICULUM

I was born in Vila Seropedica, near to Rio de Janeiro, Brazil, 1954. After an intellectually boring medicine undergraduate study, I gained my MS in philosophy at the IFCS (Rio de Janeiro) and a Ph.D. in philosophy at the University of Konstanz (Germany). Since 1992, I have worked as a researcher and professor at the UFRN (Natal), secluded in the beautiful Northeastern of Brazil, though always in contact with the international philosophical discussion through many grants taken at the universities of Konstanz, Munich, Berkeley, Oxford, Göteborg, and Ecóle Normale Supérieure (INS). Even if dealing with contemporary analytic philosophy, I am at odds with the lack of comprehensiveness of the present mainstream philosophy. I have social dyslexia (a light degree of autism), which explains not only my lack of sociability but also my obsessive interests and intellectual independence. The books I am not ashamed to have written are "The Philosophical Inquiry" (Lanham: UPA, 2002), which develops a thesis on the nature of philosophy, Lines of Thought: Rethinking Philosophical Assumptions" (Cambridge Scholars Publishing, 2014), and "Philosophical Semantics: Reintegrating Theoretical Philosophy" (Cambridge Scholars Publishing, 2018). The book from 2014 is a selection of essays (some of them, in my view, really relevant), while the long book from 2018 can be read as a comprehensive analysis of a cluster of concepts regarding philosophical methodology, the concept of meaning, verificationism, and truth, as investigated by philosophers from Frege to Wittgenstein. The last published book, "How do Proper Names Really Work?" (De Gruyter 2023), aims to overthrow the old stalemate between the new and the old orthodoxy in the philosophy of language. Personally, I believe this book should be a game-changer in the field. Finally, I have a light degree of autism, which is responsible for my lack of engagement with the philosophical community - I find this a positive quality.


SOME BOOKS (ALGUNS LIVROS):






 





















A REVOLUÇÃO CARTESIANA

  Draft para Introção histórica à filosofia...

 

V

A REVOLUÇÃO CARTESIANA

 

Descartes (1596-1650) foi um grande matemático, criador da geometria analítica, que permite representar figuras da geometria plana através de fórmulas algébricas. Sua maior influência, porém, foi como filósofo. Ele é tido como o fundador da filosofia moderna. A razão disso foi que ele operou a chamada revolução cartesiana, que mudou o eixo de investigação em filosofia teórica da metafísica para a epistemologia.

   As filosofias helenista, romana e medieval seguiram o mesmo paradigma estabelecido por Platão e Aristóteles, que punha a metafísica no centro da filosofia. O ponto de partida da filosofia teórica era a investigação metafísica dos constituintes últimos da realidade, do ser enquanto ser. Só secundariamente era desenvolvida uma investigação epistemológica sobre os a natureza e os limites de nossas capacidades cognitivas. O vetor da filosofia teórica vinha do ser para o pensamento. Com Descartes isso se inverteu. Ele já era ciente do quanto nossa capacidade de fazer investigações metafísicas dependia de nossa capacidade de conhecer, o que tornou razoável que começasse por investigar nossas capacidades cognitivas. Ele começou se perguntando pelo que somos capazes de saber com certeza, para só então, com mais segurança, chegar a se perguntar acerca daquilo que existe de mais fundamental. O resultado foi a construção de um edifício filosófico completamente novo, muito diferente daquele que a tradição grega havia tornado costumeiro. Com isso ele deslocou o vetor da filosofia teórica do pensamento para o ser. E aqui também a filosofia se comportou como a coruja de Minerva, pois foi só no crepúsculo do renascimento que ela tornou a preocupação fundamental dos renascentistas com o homem uma parte essencial do programa da filosofia.

 

1

 

O cogito. O culprit do desenvolvimento da filosofia cartesiana foi a disseminação do ceticismo na Europa. A obra de Sexto Empírico, defendendo o ceticismo pirrônico, havia sido traduzido em 1563 para o latim. O princípio do ceticismo é o de quedo pode ser duvidado. Mas se tudo pode ser duvidado, então também os mistérios da fé. Não seria, pois, um grande passo para o ceticismo colocar em questão a sobrevivência da alma ou até mesmo a existência de Deus... Descartes era um homem de fé. Ele havia sido educado pelos jesuítas em La Flèxe, o mais prestigioso colégio da França. Sabemos que ele foi instado por amigos a fazer uma defesa da religião que refutasse as objeções do ceticismo. O resultado terminou sendo a grande obra de argumentação filosófica e requinte estilístico chamada de Meditações de filosofia primeira (Meditationes de Prima Philosophia).

   O objetivo de Descartes nas Meditações era encontrar uma certeza que estivesse acima de qualquer possibilidade de dúvida. Uma vez que a encontrasse ele poderia dela deduzir outras coisas e, como veremos, com base nela ele de fato erigiu toda a sua filosofia. Para chegar a essa certeza ele começou por estabelecer um método, o da dúvida. Segundo esse método, tudo o que puder ser duvidado deve ser considerado como se fosse falso. Assim, Descartes começou por aplicar esse método a coisas vistas à distância. Claro, podemos nos enganar quanto a elas. Uma árvore vista na neblina à distância é por vezes confundida com um ser humano. Mas não parece que possamos nos enganar quanto a coisas que se encontram muito próximas de nós. Descartes apresentou então o argumento do sonho. Já aconteceu, notou ele, de eu estar aqui diante dessa lareira sonhando que o fogo está a crepitar quando na verdade ele já havia se apagado há algum tempo. Nada nos garante que a vida não seja um sonho e que as coisas ao nosso redor na verdade não existam. Se é possível que eu esteja sonhando, posso descartar o mundo sensível ao meu redor como objeto de certeza. Para magnificar seu raciocínio ele desenvolveu então a dúvida hiperbólica, que é a dúvida estendida a regiões acima de qualquer suspeita. Para aplicá-la ele imaginou um gênio maligno imensamente poderoso, que empregaria toda a sua astúcia para o enganar. O gênio maligno produziria em Descartes a alucinação de ser um filósofo vivendo na França no século XVII, quando na verdade ele poderia não passar de uma alma flutuando isolada no espaço vazio e sendo constantemente confundida. O gênio seria tão malevolente que até mesmo em seu pensamento matemático Descartes estaria sendo enganado. Ao somar 3 + 2 o gênio o levaria a concluir que o resultado é 5, quando na verdade todos sabem que é 6 (se você discorda, prezado leitor, pode bem ser que também esteja sendo confundido pelo gênio maligno).

   Contudo, imediatamente após isso Descartes descobriu algo capaz de resistir às mais incríveis artimanhas do gênio maligno. O gênio não pode, ao fazer com que alguém se engane, fazer com que esse alguém não exista. Afinal, para alguém ser enganado é preciso que exista e mesmo que pense (como escreveu Agostinho: “Si fallor sum”). Se alguém pensar que 3 + 2 = 7, esse alguém está obviamente enganado, mas não é possível que ao cometer esse erro de cálculo ele não exista ou não esteja pensando. Descartes resume sua grande descoberta nos enunciados “penso, logo existo” (cogito ergo sum) em seu Discurso do Método,[1] e no enunciado “Eu sou, eu existo” nas Meditações.[2] Ao menos no presente, enquanto estou pensando, não é possível duvidar de que eu existo como ser que pensa. Trata-se de algo que não pode ser falso, a certeza indevassável de que eu sou uma coisa que pensa (enquanto penso). Intérpretes contemporâneos identificaram o cogito com uma verdade “autoverificável” (Hintikka) ou “necessária a posteriori” (Harry Frankfurt). Veremos que para Descartes, tal como o ponto fixo da alavanca, que permitiria a Arquimedes levantar o mundo, a certeza do cogito é o que lhe permitirá erigir seu sistema metafísico.

   Nos passos seguintes de seu argumento Descartes cuida de construir seu sistema. Vou resumir. Uma vez que ele já sabe que existe como ser pensante, ele considera que é capaz de pensar algo que lhe é infinitamente superior, qual seja, Deus. Ele possui, pois, uma ideia inata de Deus. Mas como ele é um ser humano limitado, ele não seria capaz de pensar Deus, algo infinitamente superior a si mesmo, a menos que existisse esse ser infinitamente superior e que ele tivesse posto em sua na mente a ideia de si mesmo, a ideia de Deus. Por conseguinte, Deus existe. Além disso Descartes apresenta sua versão própria da prova ontológica da existência de Deus de Anselmo: já que concebemos Deus como um ser com infinitas perfeições, ele deve possuir a perfeição da existência, caso contrário não seríamos capazes de concebê-lo. Deus, possuindo infinitas perfeições, precisa também ser infinitamente bom. Ora, sendo Deus infinitamente bom, ele não permitiria o engano sistemático, nem a existência do gênio maligno a nos fazer alucinar um mundo externo que na verdade não existe, ou a nos enganar na mais simples operação aritmética. Eis porque podemos estar certos de que o mundo externo existe e de que ideias claras e distintas como 3 + 2 = 5 são verdadeiras.

 

2

 

Elvino. A muitos também parece intuitivo que nada daquilo que é conhecimento empírico deve ser totalmente imune ao erro. O conhecimento do cogito é empírico. Cabe então a pergunta: seria possível imaginar uma situação na qual ele é falso? Talvez sim, por uma identificação enganosa. Para tornar esse ponto compreensível, imagine que um senhor idoso e um pouco caduco chamado Elvino desapareça nas mãos de um cientista do mal. Esse cientista substitui Elvino por um androide extremamente sofisticado e perfeitamente idêntico a Elvino, que fala e age como ele, mas que não tem nada na cabeça, a não ser um mecanismo implantado que faz com que seu comportamento seja inteiramente controlado à distância pelo cientista. Os familiares de Elvino não conseguem explicar seu súbito desaparecimento. Mas um certo dia o androide do Elvino bate à porta de sua casa. Quando lhe abrem ele se apresenta dizendo: “Sou eu mesmo, o Elvino; e fiquem sabendo que eu ainda existo como um ser pensante”. Todos ficam felizes por o terem de volta... Mas o proferimento “eu... existo como um ser pensante” é agora falso, pois Elvino já não existe mais e não há nenhuma consciência pensante ocupando o autômato... Logo, o cogito falso é possível!

   A isso o defensor de Descartes poderá responder que o proferimento “Eu existo como ser pensante” continua sendo verdadeiro, mas com relação ao cientista maligno que controla o androide e que é o verdadeiro autor desse pensamento, precisando ser apenas reinterpretado.

   Mas aqui surge um problema. Se o cientista maligno estivesse se referindo a si mesmo, o “Eu existo como ser pensante” por ele pensado seria verdadeiro. Mas o seu objetivo é precisamente o de enganar as pessoas, pondo essas palavras na boca do androide e fazendo com que o pronome pessoal ‘eu’ se refira a uma cópia mecânica de Elvino e não ao próprio Elvino, de modo que é errado dizer que com esse pronome pessoal o cientista do mal está se referindo a si mesmo. Ele se refere ao eu que ele tem em mente e quer que os outros tenham em mente, ou seja, a uma pessoa que não existe e que está sendo apenas mimetizado pelo androide. Por conseguinte, esse continua sendo um caso no qual o proferimento “Eu penso, eu existo” é simplesmente falso.

   Contra essa conclusão o defensor de Descartes poderá ainda objetar que a função do pronome pessoal ‘eu’ é sempre a de se referir àquele que fala no momento em que fala, ou seja, ao emissor do som, seja ele o que for. Como no exemplo de Elvino quem emite o som é um autômato, o ‘eu’ de “Eu existo” se refere ao autômato que de fato existe, e não a Elvino, o que torna o proferimento outra vez verdadeiro.

    Aqui surge um novo problema. É que ao usar o pronome pessoal ‘eu’ Descartes tinha em mente um sentido rico da palavra, no qual ele se referia a uma consciência ou mente pensante, e não a algo que seria satisfeito por um autômato ou um papagaio ou por um autofalante que proferisse os sons “Eu existo”. Ou seja: se, no proferimento do autômato for coerentemente preservado o sentido cartesiano da palavra ‘eu’, o “Eu existo” por ele referido ou não se refere a mais nada ou continuará sendo expressão do pensamento do cientista maligno que, por sua vez, está se referindo a uma pessoa que não existe, o que o torna de um ou de outro modo falso. Assim, se o autômato dissesse “Penso, logo existo”, isso seria falso, pois a pessoa tomada por Elvino nem pensa nem existe. Será essa conclusão correta? Deixo a resposta por conta do leitor.[3]

 

3

 

Interacionismo. É importante em Descartes a defesa do dualismo interacionista quanto ao que é hoje chamado de problema da relação mente-corpo. Para ele existem duas substâncias, (i) a substância extensa (res extensa) e (ii) a substância pensante (res cogitans). A substância extensa constitui o que hoje chamamos de mundo físico, conhecido interpessoalmente. Ele considera o atributo da extensão como sendo o mais distintivo do mundo físico, uma vez que podemos ter uma ideia clara e distinta da extensão. Já a substância pensante é constituída pelas mentes e por seus conteúdos, incluindo não só pensamentos, mas também emoções e sensações. A substância pensante pode ser de dois tipos: (ii-a) as substâncias pensantes finitas, que são nossas almas e as substâncias angélicas, e (ii-b) a substância pensante infinita, que é simplesmente Deus.

   Descartes tinha uma prova do dualismo de substâncias. Segundo essa prova, a mente não pode ser parte do corpo porque podemos duvidar que possuímos corpo, mas não podemos duvidar que possuímos mente. Contudo, esse argumento de Descartes é equívoco, pois ele ignora o contexto opaco introduzido por verbos de atitude proposicional como ‘duvidar’, ‘acreditar’, ‘ordenar’. Considere o seguinte argumento plenamente válido:

 

          (1)

O objeto a tem a propriedade F.

a = b.

O objeto b tem a propriedade F.

 

Compare esse argumento com o seguinte, no qual F cai sob o domínio do verbo duvidar, que é um verbo de atitude proposicional:

 

          (2)

Maria (a empregada na casa de Dom Diego) duvida que Zorro existe.

Zorro = Dom Diego.

Maria duvida que Dom Diego existe.

 

O problema é que, como é sabido, ninguém sabe que Zorro é Dom Diego, nem mesmo a Maria. O uso do verbo de crença proposicional introduz um contexto opaco que torna a conclusão falaciosa. O mesmo acontece no argumento:

 

          (3)

Descartes pode duvidar da existência de seu corpo.

Corpo = mente

Descartes pode duvidar da existência de sua mente.

 

Como a conclusão é obviamente falsa, Descartes concluiu que a segunda premissa precisa é que precisa ser falsa: a alma tem de ser algo diverso do corpo. Mas seu raciocínio é enganoso por assimilar a forma do argumento (3) à forma do argumento (1), quando na verdade sua forma é idêntica a (2). O argumento (3) é tornado inválido pelo fato de conter um verbo de atitude proposicional que introduz um contexto opaco.

   Um outro problema é a maneira como Descartes soluciona o assim chamado problema mente-corpo, o problema da relação entre a res cogitans e a res extensa. Ele acreditava que a mente se relaciona com o corpo através de uma interação causal. Assim, se eu piso em um caco de vidro isso causa um evento mental, que é a sensação de dor. Essa sensação desagradável me faz levantar o pé, pensar no que fazer e, em seguida, me pôr a fazer um curativo. O problema que aqui surge é o de explicar como é possível a interação entre algo que não ocupa espaço, o pensamento, e o mundo extenso, físico. A brilhante princesa Elisabeth da Bohemia colocou a questão em uma carta a Descartes:

 

(...) parece que toda determinação do movimento se dá por meio do impulso à coisa movida, de modo que ela seja impulsionada por aquela que a move, ou bem, pela qualificação e figura da superfície dessa última. O choque é exigido pelas duas primeiras condições e a extensão pela terceira. [4]

 

Frente a essa objeção Descartes não conseguiu ir muito além do reconhecimento de que há coisas que precisam ser aceitas como um mistério.

 

4

 

Ceticismo. Um outro ponto de ligação entre a filosofia de Descartes e a discussão contemporânea diz respeito ao ceticismo radical sobre o mundo externo. A hipótese do gênio maligno é o que hoje chamamos de uma hipótese cética. Há outras hipóteses céticas globais com o mesmo efeito, como a do mundo como sonho ou uma alucinação coerente. A versão preferida hoje é, aliás, a de que a pessoa seja um cérebro em uma cuba com os nervos aferentes e eferentes ligados a um supercomputador que lhe faz alucinar uma realidade virtual... com o mesmo efeito. Com base em qualquer uma dessas hipóteses céticas (escolho aqui a do gênio maligno) o seguinte argumento cético pode ser construído:

 

Se eu não sei que não estou sendo enganado por um gênio maligno então eu não sei se tenho duas mãos.

Eu não sei que não estou sendo enganado por um gênio maligno.

Logo: eu não sei se tenho duas mãos.

 

Esse argumento pode ser generalizado, pois o enunciado “eu não sei se tenho duas mãos” pode ser aqui substituído por qualquer outro enunciado trivial: eu não sei se estou sentado, eu não sei se estou escrevendo, eu não sei se a terra é realmente redonda... O ponto do argumento é que se ele for correto então o fato de eu não saber que a hipótese cética é falsa não me permite mais saber coisa alguma sobre o mundo externo.

   A contraposição do argumento cético é o argumento anticético. Ele parte da certeza de um enunciado trivial qualquer, digamos, “eu tenho duas mãos”, projetando essa certeza contra a hipótese cética assim:

 

Eu sei que tenho duas mãos.

Se eu sei que tenho duas mãos então sei que não estou sendo enganado por um gênio maligno.

Logo: eu sei que não estou sendo enganado por um gênio maligno.

 

O argumento anticético prova tanto quanto o argumento cético. A questão fica sendo a de quem pisca primeiro. Isso nos traz certo alivio. Ainda assim, a inquietação permanece quando pensamos que o cético tem tanto direito de estar certo quanto o anticético.

   Tenho uma maneira de refutar o argumento cético que é reminiscente da distinção feita por Rudolph Carnap entre questões internas e externas de existência, embora sem os seus defeitos.[5] Trata-se da introdução de uma distinção entre dois conceitos de realidade externa: inerente e aderente.[6] Vou explicá-la.

   A realidade inerente do mundo externo tem a ver com o fato de que o aparecimento e a ordem de nossa experiência sensível não dependem de nossas mentes. A atribuição de realidade externa depende minimamente de critérios herdados da tradição, os principais deles sendo;

 

(i)             Critério de intensidade: máxima intensidade sensorial,

(ii)           Critério de independência: independência da vontade,

(iii)         Critério de intersubjetividade: possibilidade de comprovação por acesso interpessoal,

(iv)         Critério de regularidade: seguimento de leis da natureza e regularidades...

               (para maiores detalhes ver cap. XI, sec. 14).

Minha proposta é que se esses critérios forem satisfeitos conjuntamente por uma dada entidade e pelo contexto no qual ela se encontra, então essa entidade pode ser afirmada como sendo externamente real no sentido inerente, que é o sentido normalmente aplicado por nós no dia a dia. Tais são os critérios que implicitamente temos em mente ao dizermos que as coisas ao nosso redor são “reais”. Podemos, aliás, sem muita dificuldade estender esses critérios para coisas indiretamente acessíveis, como eventos passados ou objetos microscópicos ou ainda coisas testemunhadas por outros, na medida em que seja possível produzir evidências sensíveis com as propriedades acima descritas (nisso se baseia o realismo científico).

   É fundamental notar que esses critérios precisam ser conjuntamente satisfeitos. Em uma alucinação realista, como a que se dá na alucinose alcóolica, a pessoa vê um cavalo branco com a máxima intensidade sensorial, essa visão é independente de sua vontade, o animal pode mesmo se comportar como é esperado de um cavalo, mas ele não será interpessoalmente acessível: outras pessoas lhe dirão que não existe cavalo algum. E só isso basta para evidenciar a alucinação.

   O sentido aderente do conceito de realidade externa, por sua vez, é o que diz respeito a cenários céticos de maior ou menor extensão, obedecendo critérios muito diversos. Se eu for uma alma vagando no espaço e enganada por um gênio maligno, os critérios de (i) a (iv) estarão sendo satisfeitos em toda a sua intensidade, independência, intersubjetividade e regularidade. Mas em princípio eu posso vir a saber disso por comparação, se essa alma deixar de ser enganada e as outras almas me convencerem que eu havia vivido minha vida inteira sob a sistemática alucinação de ser um habitante do planeta terra... O critério de realidade externa é aqui comparativo e coerencial, bem diferente dos critérios inerentes encontrados acima.

   De posse dessa distinção podemos agora refazer os argumentos cético e anticético demonstrando que eles são ambos equívocos, uma vez que os significados de suas sentenças não mantêm identidade. Chamando a realidade aderente de realidade(A) e realidade inerente de realidade(I), eis como fica o argumento cético:

 

Se eu não sei que não estou sendo enganado por um gênio maligno então eu não sei se tenho realmente(A) duas mãos.

Eu não sei que não estou sendo enganado por um gênio maligno.

Logo: eu não sei se tenho realmente(I) duas mãos.

 

Eis como fica agora o argumento anticético:

 

Eu sei que tenho realmente(A) duas mãos.

Se eu sei que tenho realmente(I) duas mãos então não estou sendo enganado por um gênio maligno.

Logo: eu não estou sendo enganado por um gênio maligno.

 

Ambos os argumentos são equívocos e, portanto, falaciosos. A conclusão é que podemos demonstrar que nosso mundo é inerentemente real. Mas não podemos demonstrar que ele é real em um sentido absoluto, pois isso implicaria em demonstrar sua realidade aderente. O que fazemos, uma vez que não temos qualquer razão para admitir que nosso mundo não seja aderentemente irreal, é tomar como uma postulação semântica do mundo, segundo a qual ele é não só inerentemente, mas também aderentemente real. Essa postulação só poderá ser contestada se encontrarmos razões para colocá-la em dúvida. Isso acontecerá no caso de termos evidências de que a hipótese cética é verdadeira. Mas esse não é o caso. Voltaremos à questão quando tratarmos da filosofia de David Hume.

   Foi Wittgenstein desenvolveu um rationale que torna aceitável o que chamo de postulação semântica do mundo em um manuscrito inusitado intitulado Sobre a Certeza (Über Gewissheit). Ele defendeu que a dúvida só pode existir sob um fundo de certezas que é dado pelo sistema de crenças socialmente instituído em uma forma de vida; caso contrário a dúvida não faz sentido. Em nosso caso isso significa que uma hipótese cética só se justifica se houver alguma razão que a justifique, por exemplo, alguma evidência de que sejamos almas enganadas pelo gênio maligno ou cérebros em cubas. Como isso não acontece, a postulação semântica de que nosso mundo é também aderentemente real deve ser aceita como certa.

 

 

5

 

Racionalismo. Não quis entrar em detalhes sobre o sistema de Descartes aqui sinopticamente resumido. Quero apenas assinalar a importância de sua filosofia para a libertação das amarras do pensamento medieval e antigo. Ele destampou a garrafa da qual saiu a plêiade de gênios filosóficos da modernidade, cada qual criando uma concepção de mundo própria.

   Os filósofos modernos podem ser divididos em racionalistas e empiristas. Os racionalistas foram aqueles que, como Descartes, punham ênfase nos poderes da razão humana de produzir conhecimento com um mínimo de participação da experiência sensível. Eles importavam para a filosofia o ideal do pensamento matemático herdado da axiomatização da geometria por Euclides. Esse foi o caso dos filósofos continentais, como Spinoza, Leibniz e do próprio Descartes. Os empiristas, por sua vez, foram os que puseram ênfase na experiência empírica como a fonte principal (senão a única) do conhecimento humano, minimizando a participação da razão, quando não a excluindo. Eles importavam para a filosofia o modo de pensar de cientistas empíricos, como Galileu e Newton. Esse foi o caso dos filósofos britânicos como Locke, Berkeley, Hume e Stuart Mill. Kant foi quem tentou a grande síntese entre racionalismo e empirismo, fechando assim o ciclo iniciado por Descartes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Discurso do Método, Quarta Parte 4.

[2] Meditações Metafísicas, Meditação Segunda, sec. 4.

[3] Uma resposta seria a de que o cogito não precisa ser proferido: o androide poderia ser capaz de ser levado a pensar “eu sou, eu existo”. Mas se ele está se pensando como sendo o Elvino isso é falso, dado que Elvino nem existe nem pensa.

[4] Tradução de Rafael Teruel Coelho para a Revista Instauratio Magna, da Universidade Federal do ABC, v. 1, n. 2, 2021. “Elisabeth a Descartes” – 6/16 Mai 1643. In Oeuv. Res. De Descartes, vol III, Correspondance. Org. Charles Adam & Paul Tannery, Paris: Libraria Philosophique, J. Vrin, pp. 660-2, 1996.

[5] Ver Rudolph Carnap: “Empiricism, Semantics, and Ontology,” publicado como suplemento a Meaning and Necessity (Chicago: The University of Chicago Press 1958).

[6] A forma mais desenvolvida desse argumento encontra-se em meu artigo “The Sceptical Deal with our Concept of External Reality,” in Lines of Thought: Rethinking Philosophical Assumptions (Newcastle upon Tyne: CSP 2014), cap. 6. Há muitas tentativas de solucionar o problema, mas creio que a minha é de fato a mais plausível.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

UNIVERSALIZING TROPES: A SIMPLE WAY

 Draft of a paper to be published

 


UNIVERSALIZING TROPES: A SIMPLE WAY

 

 

Summary:

Donald Williams suggested that under the assumption of a trope ontology, universals can be understood as sets of tropes. My aim in this article is to show that there is an easier and more convincing way to construct universals using tropes. It consists of appropriating Berkeley’s solution to the problem of universals by the trope theorist. Instead of similarities between ideas associated with conceptual words and the ideas given by perception, as Berkeley’s solution demanded, what must be required is simply the ability to identify precise similarities between tropes used as models and tropes given by experience. This alone will explain the conceptual word's general applicability, dropping a more controversial demand for extensional universals. 

Keywords:

Trope theory, ontology, universals, metaphysics

 

I begin with a summary of Donald Williams’ solution to the problem of universals using tropes, then present some main objections to his solution. Afterward, by contrast, I present the solution to the problem of universals as defended by the empiricist philosophers Berkeley and Hume. I suggest replacing the word ‘idea’ with ‘trope’ in these solutions. This move opens the way to a renewed solution to the problem of universals using tropes. Furthermore, I suggest that this solution can be refined beyond the narrow limits of the imagistic view of empiricist philosophers in ways that aren’t also open to the difficulties we have found in Williams’ strategy.

 

1

 

As Donald Williams wrote in his characterization of the universal of color component (named ‘Harlac’) of a lollipop (called by him Heraplen):

 

…the set or sum or tropes precisely similar to a trope, say Harlac again, may be supposed to be, or at least to correspond formally to, the abstract universal or ‘essence’ which it may be said to exemplify a definite shade of redness. (The tropes approximately similar to the given one provide a less definite universal. (1953a: 9)

 

For him, universals are sets or sums of tropes that are precisely similar to a given trope. Consider, for instance, the universal red. For a Platonist, it should be the idea or form of red or, as Plato also would have said, “that very thing that red is,” “the redness,” or, as I will use here, “the-red-in-itself.” (See Kenny 2004: 50). For a class nominalist, it could be, to put it in its most accessible way, the class of red objects (Armstrong 1989: 8-14). However, following Williams’ view, it could be paraphrased as nothing but the set of all tropes that are precisely similar to each other as tropes of red. So, one could interpret “Red is a color” as “the set of precisely similar tropes of red is contained in the set of precisely similar tropes of color.”

 

2

 

A standard objection against William’s view is that if we need to identify a set of tropes by their precise similarity, we get a problem concerning the ontological status of precise similarity (Campbell 1990: 32-42). The problem can be stated as follows: Assuming that precise similarities are also tropes, we are led to ask what the ontological status of a precise similarity is. Accepting William’s stance that all ontologically relevant elements in our world must be tropes, it seems that a precise similarity must be a trope. However, if so, precise similarities of the tropes belonging to the set of precisely similar tropes must be precisely similar. But in this case, we have generated a second-order set of precise similarity tropes. Since these second-order tropes must also be precisely similar, we need to admit a third-order set of tropes of precise similarity, and so on indefinitely. The conclusion is that a kind of “pyramidal” regression of similarities is inevitable.

   The question is whether such a regression is virtuous or vicious. A regression is virtuous if it can be stopped as one wishes. Otherwise, it is not. (Cf. Maurin 2007). Consider, for instance, Plato’s doctrine of ideas. The explanation of the doctrine contains ideas of ideas. But he later criticized his theory, which means that he had, in his criticism, inevitably appealed to ideas of ideas of ideas... This points to a regression, but it is clear that none of these steps demands the consideration of ideas at a higher level. Thus, it is a virtuous regress. One could argue that the same goes for the concept of precisely similar tropes in William’s definition of universals. If there is regression, it is virtuous. Hence, we don’t need to get bored with it.

   However, William’s solution has more worrisome drawbacks. What is the ontological status of the universal as a set of tropes? Is the set a trope? How can we grasp the universal as a set of tropes? For medical reasons, we cannot grasp any huge set of tropes as the universal. Suppose that the set is infinite. In this case, it would be logically impossible for us to grasp the universal.

   Moreover, a set can grow or shrink in size. But can a universal grow or shrink? An alternative would be to treat a tropical universal as an open set. But isn’t an open set a construction existing only in our minds, while things are more completely determined in the outside nature? And what would be its minimal size?

 

3

 

At this point, an advocate of William’s view could suggest that we must distinguish two questions. The first is ontological: are there universals meant as sets or classes built from tropes? The second is epistemological: how can we grasp universals meant as classes built from tropes? The really exciting question, she would argue, is the first one since it is the only genuinely metaphysical one. As the problems above seem to arise from epistemological issues, we do not need to worry too much about them.

   Nonetheless, a closer look into this vein of reasoning would show that this would be a big mistake. It is not true that the metaphysical problem comes first, but rather the other way around. In my view, disregarding this point lurks the main trouble of Williams’s approach. Next, I will explain why.

   We can justify the priority of the epistemological question by going back in time to the origins of the problem of universals. They remounted to Plato and Aristotle. The problem arises from the issue of how we can apply the same predicate to many different things. Plato well-known answer is: “We are in the habit of positing a simple idea or form in the case of the various multiplicities to which we give the same name” (1961: 596a-b). That is, he appealed to an idea or form as a universal that would be “copied” by many different things or from which those many things would “participate” in order to explain how we are able to apply the same general term to many different things. Aristotle, from his side, coined the term ‘universal’ (catholou), aiming to say “that which is by its nature predicated of a number of things” (1984a: 17a 38). According to a widespread interpretation, the universal would be, for him, the non-transcendent unifying form of those many diferent things. Considering this, it is clear that the critical problem initially posed was not metaphysical but epistemological and that the appeal to universals is subsequent. So, the fundamental question was always the following:

 

How can we apply the same general term to many different things?

How is predication cognitively possible?

How can we achieve this most fundamental kind of synthesis?

 

Nothing would be lost if we could answer these questions without appealing to universals. Indeed, with his doctrine of ideas, Plato offered a metaphysical solution to a linguistically formulated epistemological problem that came first. In other words, Plato’s metaphysical solution that leads to the problem of universals arose from an epistemological question concerning our cognitive capacities. The same can be said of Aristotle’s solution since, according to a plausible interpretation, he appealed to his forms to warrant that we can say the same of many (1984b 1034a 5-8). Hence, we will have nothing to lose if we can answer the epistemological question without further metaphysical embroilment.

 

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Assuming the priority of the epistemological problem, the question of universals regarding tropes can be stated as follows: how can we apply the same conceptual word to many different things, assuming that the conceptual word designates a trope? The answer to this question does not need to include the hypothesis that we are acquainted with a set or class of tropes. I suggest we get a much better answer when we remember how bishop Berkeley solved the problem of universals without appealing to metaphysical entities— a solution considered by Hume “one of the greatest and the most valuable discoveries in the republic of letters,” as he tried to improve on it (1978: I, I, VII). According to Berkeley, all of the universe, except the spirits (like we and God) is made of ideas. Ideas, he considered, can be general but not abstract, intending to say that they cannot be Platonic entities. Now, how can ideas be general without having to be abstract? Well, because we associate a general term with a particular idea or group of similar ideas, using it as a pattern to identify external things given to us insofar as these things are sufficiently similar to the pattern. As Berkeley writes:

 

But it seems that a word becomes general by being made the sign, not of an abstract general idea but of several particular ideas, any one of which it indifferently suggests to the mind. (1975a: Intr. Sec. 11)

 

This means that to identify a given object as a triangle, we only need to retrieve some particular ideas (meant as images) of triangles like the isosceles, the scalenus, the obtuse, etc., which we associate in our minds with the word ‘triangle,’ and by perceptually experiencing the object, we look for the similarities. Consider, for example, the concept of ‘chair’: we can have stocked in our minds the images of a table chair, an armchair, an easy chair, a rocking chair, a wheelchair, a beach chair, an electric chair, and a throne, associating them with the word ‘chair.’ By being presented with a new chair, we only need to retrieve a similar image and see that it matches sufficiently. The same would work with a concept like ‘dog.’ At first, a person would associate the word ‘dog’ with a bunch of appearances of dogs, say, a Labrador, a German Shepard dog, a poodle, a bulldog, and a Pekingese. With these images in mind, it will not be difficult to identify a new dog, such as a golden retriever, as a dog insofar as one finds similar to the image of a Labrador.

   We will later consider the problems with this view. Important for now is to understand that Berkeley’s solution to the problem of universals is an epistemological solution in which all that is needed is a mental operation, which can be called a universalizing operation, which does not require any further metaphysical commitment with universals.

 

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The gist of my approach to the problem of universals consists of replacing the term ‘idea’ with the term ‘trope’ in a fundamentally Berkeleyan strategy. To recast a similar procedure using tropes instead of ideas, what we need is that the epistemic agent had previous contact or information about a particular trope and its name and, afterward, is able to identify any given trope that is precisely similar to the trope or tropes to which he was initially acquainted with. Having this in mind, the solution to the problem of predication of the same of many is the following: we can apply the same conceptual word to many different referents insofar as we make ourselves able to distinguish any given tropical referent precisely similar to a trope model or to those trope-models we remember to have experienced in association with the name. We really don’t need universals. All we need is to have the ability to perform a universalizing operation.

   Consider, for instance, a very specific trope like the color of burnt Siena. Let’s say that Karen took a painting course and gained familiarity with this shade of color and its name. After that, she visited Italy, where she identified many buildings painted the same color. Indeed, this will suffice for us to agree that she has the general concept of the Siena earth color. But what can we mean by this? Certainly not that she access the immense set of precisely similar tropes of Sienese earth, even if such a set exists. That was the path taken by Williams. All we need to mean is that she possesses the memory of the burnt Siena earth model associated with the general term ‘burnt Sienna’, a memory resulting from her multiple contacts with this color and with its name when she took his painting course and that she is now able to identify precisely similar tropes when they are presented to her.

   Memory has here a complementary role. We can imagine a language game that clarifies the essentials to show this. A group of people lacking color memories is placed within an exhibition of paintings to find which paintings a specific tonality of color belongs to. To make this possible, each person receives a tablet with a patch with a shade of color, its name, and a sheet of paper to mark the number of the painting where the same shade of color is found. For instance, suppose that the color is burnt Siena and that the person has marked paintings 1, 5, and 8 under 12. Now, this is an exercise of finding the one under the many in which the memory of the model isn’t necessary. Furthermore, the operation will generate a set, which is the set of tropes of burnt Siena, namely {T1, T5, T8}. Following Williams, this set of burnt Siena tropes could be seen as a universal, though limited to a particular domain. In contrast to him, our adaptation of Berkeley’s suggestion says that all we need to consider is the ability to universalize, namely, to identify the tropes. Moreover, suppose we insist on speaking of universals. In that case, we can define the universal here as the trope model of burnt Sienna in the tablet or any other patch of color that, in the domain, is precisely similar to the model prescribed on the tablet. It is true that my suggestion also generates the set {T1, T5, T8}. However, this set is not part of our explanation of how the same predicate applies to many different referents. We do not need to explain why we can say the same of many.

   As noted, the epistemic approach is the only necessary one insofar as it can explain how we can apply the same general term to many diverse things without further aid. We answer it by a cognitive operation in which we can identify any trope precisely similar to the trope chosen as a model. We can, however, look for the extensional set {p1, p5, p8}, which can be generated by comparing the model and the patches. Its establishment was the finality of the game, and it can be abstracted from the operations the person applies the same general term to many different things. But the formation of this set is irrelevant to our original problem, which was limited to the predication of the same from many since the set {p1, p5, p8} takes no part of our explanation of how the same predicate applies to many different objects. It is not a universal since it has no role in explaining predication. To summarize, instead of a universal, all we must have is the operation of universalization through which we discover patches similar to the model.

   Going beyond our language game, we can now consider how a model trope can be used in the ability to operate universalization regarding the color of burnt Siena:

 

The ability to perform the universalization operation regarding the trope of burned Siena (Df.) = the ability to identify any given model trope of burnt Siena as precisely similar to a (randomly chosen) model trope of burnt Siena.

 

Understood this way, the operation can always, in principle, generate a set of tropes, which is often impossible to determine in an actual situation. No one knows the innumerable patches of burned Siena that could be found worldwide. And no one cares since the real problem is already solved before such metaphysical commitment occurs.

   The explanation of how we can apply the same conceptual word to many different things lies in our universalizing ability, defined as follows:

 

The ability to perform the universalizing operation for a trope T (Df.) = the ability to identify any given trope Tm as precisely similar to a (randomly chosen) model trope Tm.

 

This view has the immense advantage of simplicity. It does not generate infinite regression since we do not need to verify whether the precise similarities between models and examples are precisely similar.

   Needless to say, we usually appeal to memory, unlike the language game presented above. We hold in our memory the model trope, which we once learned to attach with the conceptual word, in the most basic cases by perceiving one or more tropes in the interpersonal circumstances of teaching the names of things. But memory has no mystery. It is like a copy of something by something that we learned to trust because it usually works well enough to be trusted. Moreover, we do not need to appeal to any fixed model, and we can change our memorized model arbitrarily as long as it remains precisely the same as some model trope initially associated with the conceptual word by convention.

 

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By all its merits, the empiricist solution to the problem of universals is generally viewed as flawed because of the imagistic conception of the ideas of empiricist philosophers like Berkeley and Hume. After all, many conceptual words are not linked with any image, and many are only vaguely associated with images. In his discussion of schematism, Kant has replaced the imagistic empiricist view with a more sophisticated one, in which concepts are abilities governed by rules, though conceding that these abilities usually require producing images as criteria. As he wrote:

 

The concept of a dog signifies a rule according to which my imagination can trace, delineate, or draw a general outline, figure, or shape of a four-footed animal without being restricted to any single and particular shape supplied by experience. (1970: A 141).

 

Far from refuting our explanation of generalization as a capacity to identify precisely similar tropes, replacing the empiricist explanation employing imagistic ideas with tropes shows here a further advantage. Tropes do not need to be imagistic. A trope can be defined as a spatiotemporally localizable property of any complexity and degree of vagueness. Consequently, we can identify concepts as the ability to follow rules with tropes. After all, we can see the ability to follow a rule as a disposition, namely, the disposition of, under adequate circumstances, to follow the conceptual rule, enabling us to identify a new trope precisely the same as some pattern. Such a disposition can be a trope since it is also inevitably spatially and temporally localizable in the mind-brain of the ruler’s user, even if not in the most precise way. The conclusion is that the general applicability of a conceptual word must demand an ability to follow a rule in the sense of a disposition to follow it, which is nothing but a trope. We can call it a conceptual trope.

   Interestingly, a conceptual trope can be associated with imagistic criteria. So, a triangle is defined as a three-sided polygon consisting of three edges and three vertices. This definition expresses the rule for the construction of triangles. We can acquire the ability to follow this rule as a disposition to derive individual images of triangles like an equilateral triangle, an isosceles triangle, a scalenus triangle, a right triangle… Having this ability, when we have the sensory experience of a geometric figure like a triangle, we can match the triangle we are experiencing with the image of a triangle generated by our ability to follow the rule prescribed by its definition. All these phenomena are spatiotemporally localizable tropical phenomena. Now, we can conceive our ability to follow a tropical rule as the dispositional ability to perform a universalizing operation insofar as we can apply this rule to any given triangle. In this way, we can conceive of applying one conceptual word to many individuals without appealing to Platonic ideas or sets of tropes as universals.

 

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I can provide further examples to clarify things. Consider the concept of dance, exemplified by Hume as a “mode.” A dance can be defined as a set of rhythmic body movements typically accompanied by music. We associate this definition with a set of different moving images, such as classical ballet, valse, tango, samba, and rock-and-roll.  The definition is a dispositional trope, and the other moving images are tropes that can match the experience in a way that remembers Kant’s schemata. By these means, we produce tropical arrangements that are precisely similar in their essences. Our ability to identify tropical dance arrangements as precisely similar to the tropical arrangements we have derived from our definition is, again, the application of our capacity for universalization.

   There are also cases of count-names, concepts with objects and not properties in their extensions that go beyond Williams’ definition of universals as sets of precisely similar tropes. Consider the concept of a dog, a count noun, and of a natural species. A dog is defined as a domesticated wolf descendant, artificially selected in many different breeds. To this definition, some identifying characteristics of a dog as a domestic quadruped that barks, that is akin to humans, etc., must be added. Moreover, a collection of different images associated with these animals in their evolutionary origin is of great importance for identifying dogs since the image of a chihuahua differs significantly from that of a saint Bernardo. However, the definition of a dog can be explained by combinations of localizable properties extended in time (the process of domestication…), and the further criteria for the identification of dogs can also be seen as space-temporally localizable properties (barking figures of different breads…). This means that to identify a dog, we need to have the universalizing operation for the tropical object dog, which is the capacity to identify any given set of images given as a dog as, in essence, precisely similar to images derived from the tropical object model of a dog.

   Consider now the concept of a chair, an artifact, and a count name. A chair is an artifact that can be defined as a non-vehicular seat with a backrest designed for use by only one person at a time (it usually has four legs, sometimes has armrests, is sometimes upholstered, etc.) (Costa 2018: 214). Now, this definition expresses a rule for the identification of a chair. With the help of it, we can identify many different chairs: table chairs, armchairs, easy chairs, rocking chairs, wheelchairs, beach chairs, electric chairs, thrones… We identify them as chairs because the images we form of these chairs can match images we might produce employing the definition. These images are criteria that can be or cannot be satisfied. In the case of a seat, for example, it isn’t a chair because it lacks the backrest. The image of a sit cannot match any criterial image derived from the definition of a chair, leaving the criteria unsatisfied. The same is true of seats in cars and airplanes. They cannot be called chairs because they are vehicular, and their images within vehicles oppose any criterial image derived from the definition. A sofa isn’t a chair because it is made to be seated by two or more persons. It cannot satisfy the criterial image of being seated by only one person at a time. Last but not least, we cannot imagine a chair that the winds have carved into the seaside rocks to be a chair in a proper sense since the wind is no craftsman. All these images and our (dispositional) ability to employ the rule are tropes.

    I wonder if this explanation of concepts through tropes as space-temporally localizable entities can be extended to all conceptual words. However, I cannot find any prior hindrance to this view. If we insist on using the term ‘universal,’ we can identify it with our capacity for universalization, understood as the dispositional trope of an ability to perform the universalizing operation regarding a conceptual rule.

 

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Why have Williams and many others after he found the appeal to universals as sets or classes of tropes necessary? The answer is a misleading emphasis originated from an unnecessary metaphysical commitment to universals, forgetting that this commitment has only arisen as a sequel of the relevant epistemic problem. Traditionally, Platonists viewed the universal as the reference of nominalized predicates, while nominalists viewed them as extensions. Following this lead, Williams had the original idea of identifying the universal with a class of tropes that are precisely similar. However, in the end, his choice has betrayed one of those insistent “images” that often trouble philosophers because they forget to consider what they should be looking for in the first place.

 

 

Literature:

Aristotle (1984a): De Interpretatione. The Complete Works of Aristotle: The Revised Oxford Translation. Ed. Jonathan Barnes, Princeton: Princeton University Press.

Aristotle (1984b): Metaphysics. The Complete Works of Aristotle: The Revised Oxford Translation. Ed. Jonathan Barnes, Princeton: Princeton University Press.

Armstrong, D. M. (1989): Universals. Boulder: Westview Press.

Allison, H. E. (2004): Kant’s Transcendental Idealism: An Interpretation and Defense. New Haven: Yale University Press.

Berkeley, George (1973a): The Principles of Human Knowledge. In Philosophical Works Including the Works on Vision ed. by M. R, Ayers, London: Everyman.

Campbell, Keith (1990): Abstract Particulars. Oxford: Basil Blackwell. 

Costa, Claudio (2018): Philosophical Semantics: Reintegrating Theoretical Philosophy. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing.

Hume, David (1978): A Treatise of Human Nature. Edited by L. A. Selby-Bigge, Oxford: Clarendon Press.

Kant, Emmanuel (1970): Kritik der reinen Vernunft: Akademie Textausgabe (Berlin: De Gruyter).

Kenny, Anthony (2004): A New History of Western Philosophy, vol. I: Ancient Philosophy. (Oxford: Clarendon Press)

Maurin, Anna-Sofia (2007): “Infinite Regress: Virtue or Vice?”, in: Hommage à Wlodek. Philosophical Papers Dedicated to Wlodek Rabinowicz. Ed. T. Rønnow-Rasmussen, B. Petersson, J. Josefsson, & D. Egonsson.

Plato (1961): The Republic. In The Collected Dialogues of Plato. Edited by Edith Hamilton and Huntington Cairns. Princeton: Princeton University Press.

Williams, D. C. (1953a) “On the Elements of Being I.” Review of Metaphysics, 7(1) 3-18,

Williams, D. C. (1953b) “On the Elements of Being II.” Review of Metaphysics 7(1) 171-92.

Wolterstorff, Nicholas (1970): On Universals: An Essay in Ontology. Chicago: Chicago University Press).