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domingo, 21 de julho de 2024

ARISTÓTELES E A METAFÍSICA (III)

  draft para o livro Introd. hist. fil.

 

  

 

III

ARISTÓTELES E A METAFÍSICA

 

Em seu melhor o homem é o mais nobre dos animais. Fora da lei e da justiça ele é o pior de todos.

Aristóteles

 

 

Aristóteles (384-322 a.C.) teve uma vida mais difícil que a de Platão. Ele nasceu em Estagira, na Macedônia, filho do médico da corte de Amintas III, que foi avô de Alexandre o Grande. Aos 18 anos foi para Atenas e passou os próximos vinte anos estudando junto a Platão. Após a morte do último não lhe herdou o lugar na academia, o que o fez deixar Atenas. Foi então para Assos, onde se converteu em conselheiro e amigo do Tirano Hermias, casando-se com sua sobrinha Pítias. Três anos depois ele passou algum tempo na ilha de Mitilene, onde fez observações sobre a vida de animais e plantas acompanhado de seu amigo Teofrasto, um botânico. Só para dar um exemplo de suas pesquisas: foi ele quem primeiro teve a ideia de fazer um furo no ovo fertilizado de uma galinha para observar o coração do embrião batendo, descrevendo pela primeira vez a origem de uma criatura viva. Seu conhecimento de história natural teve influência direta nos conceitos que desenvolveu em sua metafísica, como os de potencialidade e atualidade, matéria e forma. Depois disso foi chamado à Pela, onde viveu por oito anos, tendo sido, pelo que sabemos, preceptor de Alexandre.

   Depois vieram os anos de sorte. Com a Conquista de toda a Grécia por Alexandre ele pôde voltar para Atenas e fundar o Liceu, que se tornou o primeiro instituto científico da história, recebendo consideráveis fundos do governo. Chegou até a construir um zoológico. Nos treze anos seguintes ele trabalhou como duramente, desenvolvendo a sua filosofia na forma madura pela qual hoje a conhecemos. Mesmo assim as coisas não parecem ter sido sempre tão fáceis. Conta-se que uma vez ele escreveu a Alexandre reclamando por este ter condenado à morte um filósofo inocente. A resposta teria sido “Eu também mato filósofos”. Aristóteles deve ter engolido em seco.

   Com a inesperada morte de Alexandre, vitimado pela febre aos 32 anos, o céu veio abaixo. Livres do domínio macedônio, os atenienses decidiram vingar-se de estrangeiros como Aristóteles. Como a Sócrates, acusaram-no de impiedade (desconsideração para com os deuses), o que significava pena de morte. Para salvar sua vida ele teve de exilar-se em Assos, adoecendo e vindo a morrer meses depois aos 62 anos de idade. Platão morreu dormindo aos 80 anos.

   Aristóteles escreveu uma obra vasta opinando, certo ou errado, sobre quase tudo o que era investigado na época. Ele fez surgir a lógica entre os gregos com a teoria do silogismo, contribuiu para a filosofia da ciência, para a filosofia da mente, para a teoria política e para a ética. E sua contribuição para a metafísica foi imensamente influente.

   No Diálogo Sofista Platão dividiu as pessoas entre os “amigos das ideias” e os “gigantes da terra”. Os amigos das ideias eram pessoas razoáveis como ele mesmo, que buscavam um mundo de coisas perfeitas e imutáveis: as ideias. Eram idealistas geralmente versados nas matemáticas. Já os gigantes da terra eram barulhentos e só acreditavam naquilo que podiam ver e tocar com as próprias mãos e até mesmo espremer...[1] Não creio que Platão tivesse em mente Aristóteles ao escrever isso, mas o fato é que este último se distinguia do mestre pelo naturalismo e por uma forte tendência empirista, ainda que com eventuais recaídas platônicas.[2]

 

1

 

Metafísica. Metafísica é uma coleção de quatorze livros que costumam tratar do que Aristóteles chamava de filosofia primeira ou ciência buscada. Somente dois séculos e meio mais tarde Andrônico de Rhodes, que pela primeira vez publicou as obras de Aristóteles em Roma, teve a ideia de chamar o conjunto dos escritos relacionados à filosofia primeira de metafísica, o que significa “depois da física” ou “para além da física”. A razão foi talvez casual: na ordem dos escritos, os manuscritos de filosofia primeira vinham depois da física, que Aristóteles chamava de filosofia segunda. Mas em sendo fortuito foi um acaso feliz, uma vez que “meta” também pode significar “além de”, “acima de”, e o objeto da filosofia primeira era para Aristóteles superior ao de todas as outras ciências.

   O que foi chamado de Metafísica são na verdade anotações de aula, uma barafunda confusa, textos especulativos, aporéticos, desconexos e incoerentes, que não cessaram de quebrar as cabeças dos intérpretes nos últimos dois mil anos, de sorte que não é possível fazer uma exposição não-controversa desses escritos. É possível, porém, encontrar um fio condutor nas caracterizações que ele fez de sua filosofia primeira. Eis as quatro mais conhecidas:

 

1.    A investigação do ser enquanto ser,

2.    A investigação da substância,

3.    A investigação da causas e princípios primeiros,

4.    A investigação de Deus e da substância suprassensível.

 

Essas caracterizações se encontram interrelacionadas: A investigação do ser enquanto ser é primariamente a da substância (a arché aristotélica). Substâncias suprassensíveis – como é o caso do Deus aristotélico – são  investigadas pela teologia, as quais são também causas primeiras.

   A substância, as causas e princípios primeiros, além de Deus como substância suprassensível, são tópicos pertencentes ao estudo da metafísica, de modo que dizer que a metafísica os investiga não serve como definição do que ela seja. O que mais se aproxima de uma definição é somente (1): “A investigação do ser enquanto ser.” Mas o que Aristóteles queria dizer com isso? Eis sua resposta:

 

Há uma ciência que investiga o ser enquanto ser e os atributos que convém a ele em virtude de sua própria natureza. Isso não é o mesmo que qualquer uma das assim chamadas ciências especiais, pois nenhuma delas lida de maneira geral com o ser enquanto ser – antes, cada uma recorta uma parte do ser e investiga os atributos dessa parte. Isso, por exemplo, é o que as matemáticas fazem.[3]

 

Ser é aqui qualquer indivíduo, qualquer particular objetivamente dado, de modo que ao investigar o ser enquanto ser Aristótelesestava querendo dizer que pretendia investigar as coisas enquanto elas mesmas – o que ele chamou de substâncias primeiras – além de tudo aquilo que o envolve, ou seja, daqueles atributos gerais que lhe são mais peculiares.

   Ciências especiais, diversamente da metafísica, investigam classes de substâncias e aquelas propriedades que lhe são específicas. Hoje diríamos que a física estuda a matéria e suas propriedades específicas, a biologia estuda os seres vivos e suas propriedades específicas, a matemática investiga os números e suas propriedades relacionais específicas. Mas a metafísica investiga a natureza dos indivíduos (substâncias) em geral, quaisquer que eles sejam, além de tudo aquilo que os envolve, como suas mais peculiares propriedades ou atributos. Em resumo: a metafísica investiga tudo o que envolve indivíduos em geral, por ele chamados de substâncias, as quais são entidades que percorrem domínios os mais diversos, o que a torna, digamos assim, “tópico-neutra.”

   O ponto fica mais claro quanto comparamos as sugestões de Aristóteles com as investigações feitas pela metafísica contemporânea. Essa última trata daquilo que não é investigado por nenhuma das ciências particulares, mas que é sempre pressuposto em suas investigações, aparecendo em suas terminologias sem ser questionado. São questões que atravessam as variadas ciências particulares, daí podermos dizer que também concernem à moldura através da qual pensamos o universo. Como bem definiu A. E. Taylor há mais de um século, a metafísica deve expor os “princípios estruturantes universais sem os quais não poderia existir nenhum sistema ordenado de objetos conhecíveis”.[4]

   Essas caracterizações ficam mais claras quando consideramos alguns exemplos de conceitos investigados pela metafísica contemporânea:

 

Propriedade, causalidade, espaço e tempo, objetos materiais, número, existência, necessidade, possibilidade, o todo e a parte, princípios lógicos universais...

 

No interior das ciências particulares falamos o tempo todo de propriedades, existências, relações causais, números, etc. Considere o caso das propriedades: tudo o que existe possui propriedades. Existem propriedades matemáticas, físicas, químicas, biológicas, psicológicas e sociais, embora nenhuma ciência particular objetive explicar o que é uma propriedade. Considere o caso das relações causais: todas as ciências particulares empíricas consideram em seu vocabulário relações causais entre os fenômenos por elas estudados, sem nunca tematizar o que seja a causalidade. Os fenômenos por elas estudados ocorrem sempre no espaço e no tempo, mas só a metafísica investiga os últimos. Finalmente, todas as ciências consideram números de entidades, sejam elas matemáticas, físicas, químicas, biológicas ou sociais… e também consideram a existência ou inexistências das entidades pertencentes aos seus domínios... Fica claro que embora todas essas ciências apliquem conceitos como indivíduo, propriedade, causalidade, número e existência – conceitos investigados pela metafísica – nenhuma delas se ocupa da investigação da natureza e função desses conceitos ou das relações que eles possam ter entre si. Mais ainda, esses conceitos são hoje geralmente considerados como sendo empíricos, embora não pareçam ser tais pelo fato de que seu campo de aplicação ser tão amplo que eles dizem respeito, senão a tudo o que existe, ao menos a grande parte do que existe.

   Aristóteles merece o crédito de ter sido a primeira pessoa a perceber que conceitos pertencentes a âmbitos de aplicação os mais diversos demandam uma investigação própria: a de sua filosofia primeira. Como e o quão justificadamente ele à desenvolveu é outra questão.

 

2

 

Substância. Comecemos, pois, considerando o conceito aristotélico mais fundamental, que foi o de substância (ousia). Como Aristóteles chegou até ele? A resposta é que ele foi particularmente movido pelo exame da estrutura da linguagem. Ele pressupôs que a estrutura da linguagem representativa fosse capaz de refletir a estrutura última da realidade.

    Ora, a mais fundamental unidade do dizer em nossa linguagem é a frase predicativa singular. Por exemplo: “Sócrates é calvo”, “Veneza é uma bela cidade”, “Este cão é um caramelo”. Tais frases tem a forma Fa, onde é um predicado com respeito a uma propriedade e a é um sujeito com respeito a um indivíduo. Para Aristóteles o predicado se refere a um atributo ou propriedade, como veremos mais tarde. Mas o sujeito se refere ao que ele chamou de ousia, que significa ‘o ser’, o que é ou existe no sentido mais forte da palavra. Por vezes Aristóteles usou também a palavra ‘hypokeímenon’, que significa “o que está sob,” o que deu origem à enganosa tradução latina de ousia como ‘substância’ (sub-stare = ‘estar sob’). Para Aristóteles a substância (ousia) é o que há de mais fundamental porque é o que existe sem precisar de outras coisas para existir. Essa independência se demonstra gramaticalmente no fato de que a substância pode ser repositório de muitos predicados, mas não pode ser predicada de nada. Em um exemplo: Se digo que Sócrates é sábio, a sapiência de Sócrates precisa de Sócrates para existir. Mas Sócrates não precisa ser sábio para existir. Mais além, posso predicar de Sócrates muitas propriedades (é filósofo, baixinho, barbudo, calvo, tagarela...), mas não posso usar o nome próprio Sócrates para predicar coisa alguma. Mesmo uma frase como “Aquele é Sócrates”, onde Sócrates é o predicado aparente, se analisada com os recursos da lógica contemporânea, fica sendo “Aquele homem = (é o mesmo que) Sócrates”, formalmente “a = b”, onde ‘=’ (é o mesmo que) é um predicado relacional. Logo, parece que o indivíduo Sócrates é a substância, a ousia, o existente primário.

   O fato de a substância ser aquilo que é referido pelo termo singular não é suficiente para que possamos identificá-la de forma precisa. Uma frase como “O ócio é o humus do espírito” tem como sujeito ‘o ócio’, mas ele não se refere a uma substância. Aristóteles precisava, pois, descobrir critérios de identificação mais adequados para o que ele queria entender como sendo aquilo que existe sem precisar de outra coisa para existir. Podemos distinguir pelo menos dois momentos no desenvolvimento desses critérios: os de sua exposição nas Categorias e, posteriormente, em sua Metafísica.

   No texto inicial, que é o das Categorias, Aristóteles distinguiu dois sentidos da palavra ‘substância’. O sentido próprio é o que ele chamou de (i) substância primeira. Trata-se aqui do indivíduo espaço-temporalmente localizável, do particular concreto, como Sócrates ou Bucéfalo. Quando digo “Sócrates é sábio” estou me referindo ao indivíduo de nome Sócrates que em um certo momento se encontra em um lugar específico. Mas há também um sentido complementar do termo substância, que Aristóteles chamou de (ii) substância segunda. Trata-se da espécie de coisa à qual o indivíduo referido essencialmente pertence. No caso de Sócrates trata-se do fato de que ele é um ser humano. Assim, se digo “Sócrates é um homem” estou por meio do predicado ‘...é um homem’ me referindo à substância segunda.

   No texto da Metafísica Aristóteles revelou-se insatisfeito com a definição de substância apresentada nas Categorias. A razão é que já em sua Física ele passara a contrastar a identificação da substância primeira com o indivíduo particular por meio da distinção por ele introduzida entre forma e matéria do indivíduo, com o objetivo de explicar a mudança. Sem entrar em detalhes podemos definir provisoriamente a forma como a estrutura que faz um indivíduo ser o que ele é, enquanto a matéria é aquilo de que ele é composto, dado que essas são noções intuitivas, certamente anteriores a Aristóteles. Com base nisso a pergunta que Aristóteles se fez é se a substância é primariamente (a) a matéria do indivíduo, (b) a sua forma (como espécie ou como gênero), ou (c) o composto da forma e da matéria desse indivíduo.

   Contra (a) deve ser feita uma importante consideração. A substância não pode ser a matéria tomada isoladamente, pois sempre que falamos da matéria temos de nos referir a uma forma. Assim, uma esfera de cobre possui a forma esférica e sua matéria, o cobre, é aquilo de que a esfera é feita... Um ser humano possui uma matéria de ossos, músculos, gordura, etc.  Contudo, ao explicitarmos a matéria dessas formas vemos que elas só são capazes de serem apreendidas como formas: o cobre é um metal cuja matéria é o elemento de número atômico 29, que é enquanto tal uma forma, enquanto a matéria do músculo, por exemplo, é a forma de miofibrilas proteicas.

   No livro VI Aristóteles fez uma interessante experiência em pensamento, retirando uma a uma as propriedades de um indivíduo particular de modo a tentar fazer restar só a matéria.[5] O resultado é que simplesmente nada de dizível ou cognoscível restou! Como ele mesmo concluiu: “A pura matéria destituída de qualquer forma é incognoscível”.[6] Se a substância fosse apenas a pura matéria (chamada pela tradição de ‘matéria prima’) ela seria incognoscível. O resultado é que a alternativa (a) deixa de ser aceitável. O problema de se definir a substância passa a ser então o de escolher entre (b) a forma (ou formas), ou (c) o composto de forma e matéria.

   Podemos chegar a uma resposta analisando uma muito citada passagem da Metafísica, na qual ele sugere dois sentidos fundamentais no entendimento do que é a substância:

 

Segue-se que substância tem dois sentidos: (i) um substrato último que não é mais predicado de coisa alguma. Uma substância é (ii) um esse tal-e-tal (tode ti) separável – que por natureza é a feição ou forma de qualquer coisa.[7]

 

Comecemos analisando a primeira frase da citação: “uma substância é um substrato último que já não é mais predicado de coisa alguma”. Essa frase parece indicar sobretudo matéria como substrato último. Com efeito, da matéria como substrato último nada pode ser predicado, uma vez que ela não se deixa sequer explicitar pela linguagem.

   Fazendo um aparte, podemos aqui nos perguntar sobre a referência de um nome próprio como ‘Sócrates’. Imagine que Platão queira apresentar Sócrates a alguém e diga: “Esse é Sócrates”. Esse proferimento pode ser explicitado como: “Isso tem as múltiplas propriedades com base nas quais aplicamos-lhe o nome ‘Sócrates’.” Esse parece ser um equivalente ao que o filósofo W. V-O. Quine parafrasearia como “Isso socratiza”, onde o nome ‘Sócrates’ aparece como um predicado que representa as múltiplas propriedades que o individuam. Mas nesse caso parece que sequer o nome ‘Sócrates’ serve para fazer referência à substância como o indivíduo que é “sujeito último e que já não é dito de qualquer outra coisa”. Parece, pois, que a única maneira de nos referirmos à substância primeira não predicável é usando o pronome demonstrativo ‘esse’ que, com ajuda de um gesto, apenas indica uma certa região espaço-temporal. Com efeito, enquanto tal, o ‘esse’ não pode ser predicado de coisa alguma. Se aponto para algo e digo “Esse é esse”, só posso estar dizendo “Esse = (é o mesmo que) esse”, o que não transforma o ‘é esse’ em um predicado.

   Se estou certo então essas constatações facilitam a interpretação da segunda frase da citação de Aristóteles: “Uma substância é aquilo que é um esse tal-e-tal e que também é separável”. Essa segunda caracterização é a mais completa e abrange também a primeira, resolvendo para Aristóteles o problema da definição da substância. Isso é possível porque a expressão demonstrativa “esse tal-e-tal” aponta para o que pode ser capturado pela linguagem. Como? Ora, primeiro através da localização espaço-temporal obtida pelo uso do demonstrativo ‘esse’. Depois através do ‘tal-e-tal’, que está no lugar de alguma atribuição a ser acrescentada à referência do demonstrativo. Em outras palavras: com o demonstrativo ‘esse’ nós nos referimos a um algo, a um indivíduo espaço-temporalmente localizado, sem determiná-lo através de propriedades – algo sobre o que a única coisa que sabemos é que se trata de pura matéria espaço-temporalmente localizada. Mas se nós nos limitássemos a definir a substância como qualquer coisa que seja espaço-temporalmente localizável apenas pelo demonstrativo ‘esse’, estaríamos condenados a deixá-la fora da linguagem. Contudo, isso não acontece, pois podemos acrescentar ao local indicado pelo demonstrativo ‘esse’ o tal-e-tal através do qual predicamos uma propriedade. Mas que propriedade, afinal, deve ser esse tal-e-tal? Trata-se, para Aristóteles, da essência definível do sujeito indicado, ou seja, de sua forma substancial, que para ele (como um bom biólogo) era primordialmente a predicação de uma espécie (ou gênero) da zoologia ou botânica. Exemplos: “esse homem”, “aquela rosa.” Essa forma substancial poderia ser estendida a indivíduos físicos como Marte (um planeta) e o Sol (uma estrela) e mesmo, talvez, a artefatos como uma certa cama.[8]

   Posso tornar o ponto mais claro mediante um exemplo. Suponha agora que nos encontremos diante de Sócrates dizendo: “Isso é um homem”. Essa é uma frase do tipo “esse tal-e-tal.” Através dela indicamos um algo que enquanto tal não pode ser predicado de coisa alguma e a seguir predicamos desse algo a humanidade. Pois bem: uma substância no sentido mais próprio é uma coisa qualquer localizada, à qual se atribui uma forma substancial, que para Aristóteles nada mais é do que a espécie à qual a coisa, o substrato, pertence. No exemplo dado essa espécie é a humana. A substância é assim capturada pela linguagem como uma pura matéria localizada, contendo uma forma que é uma essência (toti ên einai). Aristóteles entende essa essência como sendo algo susceptível de definição.[9] Afinal, ele definiu o ser humano como “um animal racional.” Assim, se digo “Isso é um homem”, estou dizendo o mesmo que “Isso... é um animal racional”, ou seja, estou oferecendo duma definição real do indivíduo designado pelo demonstrativo ‘isso’ como sendo um animal racional. Como é bem sabido, para Aristóteles uma definição real seria aquela na qual distinguimos a diferença específica de um gênero próximo, a diferença específica sendo um subconjunto pertencente ao próximo conjunto mais geral, que é o gênero próximo. Aqui o gênero próximo é o da animalidade e a diferença específica é a da racionalidade. A espécie natural, à qual pertence o que é indicado pelo ‘isso’, é aqui a dos animais racionais.

   Finalmente, faltou ser considerada a segunda condição da frase (ii), segundo a qual a substância “também é separável”. Ele quer dizer com isso que ela é ontologicamente fundamental no sentido de que a substância como um todo apresenta uma unidade e independência intrínsecas. Ela não é um mero agregado como no caso de um monte de lixo, nem é parte de algo, como uma mão, nem é algo dependente, como a palidez de Sócrates... Espécies naturais são modelos de substâncias por serem separáveis.

   Podemos agora concluir. A substância aristotélica não pode ser exclusivamente (a) a matéria do indivíduo, uma vez que a pura matéria é em si mesma incognoscível e indizível. A substância deve ser (c) o composto da matéria – indicada pelo demonstrativo ‘esse’ – e da forma – indicada pelo seu complemento como sendo o ‘o tal-e-tal’ – ou seja, a espécie como forma substancial ou essência definível. Como a espécie pode ser dita de muitas coisas (por exemplo, dos muitos homens que são seres humanos, e não apenas de Sócrates), a substância precisa ser o composto, pois só assim a forma se individua na matéria. A interpretação (c) é, afinal, a mais razoável.

   Aristóteles não parece ter concordado com isso, reservando um lugar privilegiado para a interpretação (b) da substância simplesmente como forma. A razão parece ter sido que ele queria reservar um lugar especial para a forma como espécie substancial porque acreditava existirem substâncias que são formas sem matéria, como é o caso de seu Deus, das esferas celestes e da própria razão humana. Trata-se, ao que parece, de uma recaída no platonismo com a qual não precisamos concordar.

 

3

 

Formas aristotélicas. Como vimos, a substância (ousia) pode ser analisada como uma combinação de matéria (hylê), exemplificada como o referente do “isso”, e de forma (eidos ou morphê), exemplificada pelo referente de o “tal-e-tal”. A forma é aqui o remanescente da ideia platônica. Assim como para Platão nós só podemos adquirir conhecimento do mundo visível porque ele contém cópias imperfeitas das formas, Aristóteles irá dizer que é pela forma que identificamos as coisas do mundo visível, mas sem pretender que existam formas (ou ideias) separadas da matéria, como fazia o último. Diversamente de Platão, para Aristóteles a forma só existe no particular, no indivíduo, mas de modo idêntico a Platão, para Aristóteles é só a forma que torna o indivíduo inteligível. É a forma que permite caracterizar a substância como possuindo uma unidade intrínseca, como sendo algo determinado, algo que subsiste por si e separadamente das outras coisas. Assim, a matéria de uma esfera de cobre é o conteúdo material do cobre. A matéria de um corpo humano era para Aristóteles formada de uma composição de elementos como terra, água e fogo ou, para nós, de moléculas de água e da química do carbono. A matéria do estado, segundo Aristóteles, é dada por sua população, enquanto a sua forma é dada por sua constituição... Contudo, como já vimos, a matéria também pode ser vista como forma, o que a torna cognoscível. O conteúdo material da bola de cobre é formado por moléculas de cobre. A água do corpo humano é formada por moléculas. A população de um estado é formada por pessoas. Tudo isso são formas, mas de modo mais homogêneo. Notamos então que o grau de similaridade entre os componentes tende a aumentar. Para tornar essa intuição mais convincente, considere as partículas subatômicas como a matéria, ou ainda, as microcordas, imaginando que a teoria das cordas seja verdadeira. Nesse último caso todo o universo poderia ser visto como sendo composto de uma mesma matéria, que seriam as microcordas. E o resultado seria uma grande homogeneidade. Por isso podemos dizer que ao final a forma é o responsável pela heterogeneidade das determinações específicas, ou seja, pela diversidade de tudo o que existe no mundo.

 

                                                          4         

 

Categorias. Aristóteles adicionou à predicação da forma substancial mais nove gêneros supremos por ele chamados de categorias (katêgoria = predicado), que ele teria já encontrado em Platão. As categorias são as classes fundamentais do que pode ser predicado da substância primeira, refletindo classes fundamentais de coisas realmente existentes no universo. Por isso, sempre que predicamos nossa predicação pertence a alguma categoria. Considere, por exemplo, a categoria aristotélica de qualidade: a cor vermelha pertence à qualidade de cor; um círculo pertence à qualidade de forma; mas tanto a cor quanto a forma pertencem à mesma categoria geral de qualidade. Em conjunto, as categorias podem ser dispostas na seguinte tábua:

 

Substância         Exemplo: “(esse) ser humano” (Sócrates).

Qualidade          é sábio,

Quantidade        tem 1,60 m de altura,

Relação              é Casado com Xantipa,

Onde                  está na Ágora,

Quando              pelo meio-dia,

Posição              de pé,

Ter                     segura um bastão,

Fazer                  está falando,

Ser afetado        está sendo amofinado.

 

Para Aristóteles, tudo o que podemos dizer de mais genérico sobre a substância se deixa designar por esses predicados categoriais. Assim, apontando para Sócrates (o indivíduo, a substância primeira das Categorias) eu posso proferir uma frase do tipo “Esse tal-e-tal”, no caso, “Isso é um homem”, indicando a substância segunda, que é a substância como forma substancial do indivíduo, a qual é também uma essência definível (homemdf = animal racional). Mais além, eu posso dizer que esse homem (Sócrates) é sábio (predicando-lhe uma qualidade), que ele tem 1,60 m de altura ou que pesa 68 Kg. (quantidade), que é marido de Xantipa (relação), que se encontra na Ágora (onde) na manhã do dia 23 de julho do ano 398 a.C. (quando), que está de pé (posição), que segura um bastão (ter), que está falando (fazer) e que está sendo inquirido (está sendo afetado).[10]

   Aqui já podemos considerar uma propriedade da substância que terá grande importância no sistema de Aristóteles. Trata-se do fato de que a substância serve de substrato para a mudança. Como suporte para as outras categorias, a substância deve poder permanecer a mesma no tempo enquanto as outras categorias se modificam. Por exemplo, esse ser humano, Sócrates, é o mesmo e dele predicamos a sapiência. Mas não predicamos a sapiência dele quando ele era criança, nem que enquanto criança ele tinha 1,60 m de altura e era casado com Xantipa. Além disso, quando bebê ele não ficava de pé; ele andava de gatinho e sequer sabia falar. Mesmo assim, o Sócrates criança é certamente o mesmo Sócrates foi condenado a beber cicuta aos 70 anos. Contudo, em todos esses momentos podemos dizer que ele foi um ser humano, predicando dele uma mesma forma ou essência substancial.

 

5

 

Universais. Um problema que surge aqui é o quanto tem a ver a forma aristotélica com as ideias de Platão. Seriam as formas substanciais aristotélicas universais abstratos[11] ou propriedades individuais de coisas individuais? Há evidências textuais a favor de ambas alternativas, o que tem dividido os intérpretes. Segundo a primeira alternativa a forma aristotélica seria algo comum a um número maior ou menor de indivíduos, ainda que, diversamente da ideia platônica, seja sempre dependente deles para existir. Como ele escreveu na Metafísica:

 

O que resulta, enfim, é uma forma de determinada espécie, realizada nessas carnes e ossos: por exemplo Cálias e Sócrates; e eles são diferentes pela matéria (ela é diversa nos diversos indivíduos), mas são idênticos pela forma (a forma é, de fato, indivisível).[12]

 

Essa passagem é consistente com a constatação de Aristóteles de que só os universais são definíveis e nunca o indivíduo; por conseguinte, a forma substancial não pode ser uma coisa individual. Isso justifica a observação de que a diferença entre a ideia platônica e a forma aristotélica é que se o mundo deixasse de existir as ideias platônicas continuariam a existir, enquanto as formas aristotélicas desapareceriam. A forma aristotélica funciona aqui como se fosse um único lençol transparente, firmemente colado a todos os objetos que dela compartilham. O problema é que, caso adotada, essa sugestão conduz Aristóteles a problemas ainda maiores do que os considerados por Platão em a sua doutrina das ideias. Como pode, afinal, a forma universal de Aristóteles permanecer a mesma e ainda assim se dividir entre os muitos objetos aos quais se aplica?

   Aristóteles não foi consistente com essa sugestão. Na seção 13 do livro Z da Metafísica ele ofereceu uma série de argumentos que parecem destrui-la. A alternativa consiste em se admitir que uma nova e qualitativamente idêntica forma substancial se repete em cada indivíduo que dela é dito compartilhar, o que a aproximaria da ontologia dos tropos que discutiremos no final desse livro (Cap. XIX).

   Aristotélicos medievais embarcaram nessa. Eles sugeriram que não existem universais nas coisas físicas (in rebus). Eles existem somente antes das coisas (ante rem) na mente divina e depois das coisas (post rem) na mente humana. Todavia, não parece que as nossas mentes (que a ciência hoje reconhece como sendo materiais e finitas) tenham lugar para o universal abstrato post rem.

 

6

 

A mudança. Desde Heráclito tornou-se aceito que o mundo sensível é caracterizado pela mudança, movimento, transformação. Para explicar o que é a mudança Aristóteles lançou mão de uma nova dualidade conceptual: a distinção entre potência (dunamis) e ato (energeia). A potência é definida como a capacidade de vir a ser, enquanto o ato é simplesmente a capacidade de ser.

   O mais fácil exemplo explicativo é o de uma semente. Ela pode dar origem a uma laranjeira. Uma outra semente, quase igual à primeira, pode dar origem a um limoeiro. Sementes diversas tem o potencial de se transformar em coisas diversas. A semente da laranjeira é a laranjeira em potência, que posteriormente se transforma na laranjeira em ato. Para Aristóteles as substâncias são em geral constituídas não só de matéria e forma, mas ao mesmo tempo de potência e ato. Contudo, há em toda substância uma correlação entre o que dizemos ser matéria e potência de um lado e o que dizemos ser forma e atualidade de outro. A substância é ato na forma que presentemente possui. Mas ela é também potência na capacidade que possui de atualizar-se em outra forma. Por exemplo: uma semente tem a potencialidade de se transformar em uma árvore, mas ela não é árvore em ato, mas apenas em potência. A árvore foi semente em potência, mas agora é árvore em ato: ela adquiriu essa forma. Para Aristóteles matéria e forma podem ser até mesmo consideradas uma só coisa em diferentes aspectos. Pois a matéria é forma em potência, enquanto a forma é a matéria que se atualizou. A matéria é atualizada pela forma, que por sua vez atualiza a matéria.

   A distinção entre ato e potência permitiu a Aristóteles responder à afirmação de Parmênides de que o ser é imutável, pelo fato de que do não ser não pode advir o ser, caso contrário o não-ser seria, e do ser não pode advir o não-ser, a menos que o ser não seja. Aristóteles discordava. Sua resposta foi a seguinte: O ser pode advir do não-ser porque o não ser já é ser em potência, enquanto o não-ser pode advir do ser porque o ser já é não-ser em potência. Por isso, pensava ele, a mudança é no final das contas a passagem do ser para o ser; ela é a passagem do ser em potência para o ser em ato.[13]

   À sua explicação da mudança Aristóteles adicionou a famosa teoria das quatro causas, que pode ser facilmente tomada por um arcaísmo filosófico. Mas essa confusão só acontece quando confundimos seu conceito de causa com nosso conceito atual de causa eficiente. Na verdade, trata-se de uma teoria dos elementos envolvidos na explicação da mudança, na medida em que ela tiver caráter teleológico. Esses elementos são chamados de causa material, causa formal, causa eficiente e causa final.

   Para tornar isso claro, imagine que um artífice pretenda esculpir uma estátua. Ele precisa primeiro de uma pedra de mármore. Essa é a causa material. Além disso ele precisa ter uma ideia do que pretende fazer, por exemplo, uma estátua do deus Apolo. Essa é a causa formal, a forma ainda não atualizada. Além disso ele precisará trabalhar no bloco de mármore de modo a esculpir a estátua do deus Apolo. Essa é a causa eficiente. Por fim, a estátua do deus Apolo deverá ser colocada no templo, de modo a servir como objeto de adoração: essa é a assim chamada causa final – o propósito de toda a ação.

   A teoria das quatro causas não serve apenas para explicar as ações humanas intencionais. Ela também serve à biologia de Aristóteles. Assim, um pequeno arbusto para crescer e se transformar em uma árvore precisa de uma matéria, a madeira da qual é constituído. Mas ele também precisa de uma forma: o arbusto tem a finalidade inscrita em seu material genético de se transformar em árvore. Para que isso aconteça também são envolvidos elementos constitutivos da causa eficiente: é preciso haver luz, água e elementos nutritivos adequados para que o arbusto se transforme em árvore. Há, finalmente, a causa final: a árvore servirá para dar frutos de modo permitir a continuação da espécie à qual pertence.

   A teoria das quatro causas não serve, obviamente, para explicar eventos causais no mundo físico. Se um asteroide por acaso cai sobre o planeta Júpiter, ele não tem a finalidade de cair no planeta Júpiter, nem é o caso de que dessa maneira ele realize alguma finalidade, digamos, a de aumentar minimamente a massa desse planeta gigante. Se restrita aos seus limites próprios a teoria das quatro causas parece perfeitamente coerente.

 

7

 

Teologia. Uma última questão diz respeito ao Deus aristotélico, a dizer, à definição de metafísica como teologia e investigação das causas últimas. O argumento se inicia com uma questão acerca do tempo. Teve o tempo um início? A resposta é que se o tempo tivesse um início então não faria sentido perguntarmos o que havia antes do tempo. Mas ao usarmos a palavra ‘antes’ já estamos pressupondo o tempo. O mesmo acontece se nos perguntarmos se o tempo teria um fim. Nesse caso será possível perguntar o que acontecerá depois do tempo. Mas ao usar a palavra ‘depois’ nós também pressupomos o tempo. A conclusão é que o tempo não tem nem início nem fim: o tempo é eterno.

   Aristóteles também percebeu que a passagem do tempo é intrinsecamente ligada à mudança, ao movimento. Com efeito, nós marcamos o tempo através de relógios que se valem de mudanças cíclicas com idêntica duração. Era assim nos tempos primevos, quando os homens contavam os dias através da passagem do Sol e os anos através das estações. E é assim é também hoje, quando podemos fazer uso de relógios atômicos. E quando percebemos o passar do tempo é porque a natureza nos dotou de relógios biológicos internos. Daí segue a conclusão de que a mudança também é eterna, posto que o tempo, que é eterno, depende dela. E daí também se segue que em um mundo sem mudança o tempo também não poderia existir.

   Tentando conceber um tempo sem mudança, imagine que nosso universo inteiro se congele por um ano, permanecendo durante todo esse tempo sem qualquer mudança. À primeira vista isso parece possível. Mas quando imaginamos isso é porque já nos concebemos postados fora do universo, de uma perspectiva sob a qual somos plenamente capazes de averiguar a passagem do tempo, por exemplo, por possuirmos relógios capazes de medir a passagem de um ano. Contudo, nesse caso não estamos considerando mais o universo como um todo, pois nós e nossos relógios, que estamos cá fora, também devemos pertencer ao universo como um todo. A conclusão é que não faz sentido dizer que o universo, agora entendido como absolutamente tudo o que existe possa ficar congelado por um ano, pois ele não poderia incluir relógios capazes de marcar esse tempo. Parece, pois, que Aristóteles tinha razão.

   Tendo concluído que o tempo e a mudança são eternos, Aristóteles se perguntou sobre a causa última de todas as mudanças, de todos os movimentos, que para ele não é mera causa eficiente, mas causa final, um telos. Ele pensava que se o tempo-mudança é eterno, então a causa do tempo-mudança precisa ser também eterna. Contudo, aquilo que origina as sequências causais não pode ser algo temporal, pois a admissão disso implicaria em uma causa dessa causa e em uma progressão infinita de causas finais. Ora, para os gregos, a ideia de uma progressão realmente infinita era absurda. Como conclusão, deve existir uma causa que seja incausada, um movente imóvel, que Aristóteles chama de Deus (theos). Se tempo e mudança se encontram intrinsecamente ligados, a causa incausada é causa do próprio tempo. Essa causa incausada deve possuir três características: ela precisa ser eterna, imóvel e ato puro. Se não fosse eterna, o tempo-mudança que ela causa não seria eterno. Se fosse móvel ela seria causada e não seria mais a causa primeira, o primo motor. Se contivesse matéria ela teria potência e seria capaz de mudança. Logo, ela deve ser ato puro. Assim, ela deve ser o motor imóvel do universo, sendo por meio dela que Aristóteles oferece a razão última do mundo sensível.[14]

   Mas então, como é possível que o Deus aristotélico movimente sem se movimentar? Ora, precisamente porque ele não é causa eficiente, mas causa final. Para Aristóteles, da mesma forma que somos atraídos pelo bem e pelo belo, somos atraídos por Deus. O primo motor move o mundo da mesma forma que o objeto amado atrai o amante. Motivado pelo que ele figurativamente chamou de “amor” é o mundo que se move em direção a Deus.

   Quanto a esse Deus imaterial, direcionador do universo, Aristóteles especula que ele deva ser puro pensamento. Como esse pensamento deve ser perfeito, ele não pode pensar em nada que seja inferior a si mesmo, pois fazê-lo seria degradar-se. Por isso ele só pode ser o pensamento que se pensa a si mesmo, o pensamento do próprio pensamento.

   Estamos aqui muito longe do Deus pessoal da cristandade, que criou o mundo e responde aos clamores humanos e mesmo das deidades mitológicas, que intermediavam as ações humanas nos poemas épicos que os gregos tanto prezavam. O Deus aristotélico não se preocupa com o mundo, não interage com ele. Somos nós que, em nossa busca de perfeição, movemo-nos em direção a ele.

   Como se tudo isso não bastasse. Aristóteles adicionou que se Deus é pensamento então ele é vivo. Afinal, pensamento e inteligência são inerentes à vida. Como ele escreveu:

 

Se nessa feliz condição em que às vezes nos encontramos Deus se encontra perenemente, isso nos enche de maravilha. E se ele se encontra numa condição superior é ainda mais maravilhoso. E ele se encontra efetivamente nessa condição. E ele também é vida porque a atividade da inteligência é vida. E ele é precisamente essa atividade. E essa atividade subsistente por si é vida ótima e eterna.[15]

 

Diversamente do Deus cristão, o movente último aristotélico não pode ser onisciente nem onipotente, posto que ele nem pensa o mundo nem opera sobre ele. Mas ele não é só eterno como também onipresente: para Aristóteles esse último movente imóvel está em todo o universo e tudo faz mover e, sendo assim, também se encontra também dentro de nós, induzindo-nos à busca da perfeição. Deus, como o pensamento do que há de mais excelente (ele mesmo) é pura felicidade e em sua contemplação também consiste a nossa maior felicidade.

   Aristóteles queria saber quantas substâncias imóveis existem na esfera celeste e foi perguntar a um amigo astrônomo. Como o número de movimentos celestes rotatórios eternos é 55, o número de substâncias imóveis subjacentes a esses movimentos deve ser o mesmo. Mas ele acreditava haver além disso uma causa incausada superior às outras, capaz de ordená-las e que seria o movente último, o primo motor. O cristianismo transformou o primo motor aristotélico em Deus e as outras substâncias puras em inteligências angélicas.

   Einstein acreditava que as ideias vêm de Deus, que se demonstra nas leis eternas que regem o universo. Ingmar Bergman notou que Deus está no coração dos homens. C. S. Peirce postulou uma questionável evolução por amor criativo operando no cosmo (o agapismo). Teóricos do caos falam de organização espontânea e de atratores estranhos. Apesar de a terceira lei da termodinâmica prever a morte do universo pelo constante e inevitável aumento da entropia, há princípios de organização, como o da criação da vida, que concentram energia, embora na função de aumentar a entropia (a dissipação de energia) do sistema como um todo. Ainda assim, não é certo que algo como o conceito aristotélico do Deus seja pura metáfora poética inteiramente irresgatável. Não é impossível que existam mais coisas entre o céu e a terra do que nossa vã ciência nos tem permitido admitir.

 

8

 

Leis da lógica. Para Aristóteles os princípios lógicos fundamentais também pertencem à metafísica, dada a sua ubiquidade. Ele defendeu famosamente o princípio da não-contradição como sendo o mais fundamental no livro IV da Metafísica. Em sua versão ontológica o princípio diz que não é o caso que uma coisa seja ela mesma e diferente dela mesma ao mesmo tempo e sob a mesma perspectiva.[16] Quem quiser negar esse princípio, escreveu ele, deverá ficar mudo feito um tronco de árvore, pois não poderá dizer coisa alguma, uma vez que afirmar algo será o mesmo que negá-lo. Essa pessoa não conseguirá sequer negar o princípio, pois ao rejeitá-lo, assumindo sua falsidade, fará tanto quanto afirmá-lo. O princípio da não-contradição pode ser também linguisticamente expresso como dizendo que um enunciado não pode ser verdadeiro e falso no mesmo sentido. Formalmente ele pode ser expresso como ~(A & ~A).

   O princípio da não-contradição é complementado por outros dois: o princípio da identidade e o do meio excluído. O princípio da identidade nos diz (ontologicamente) que uma coisa é ela mesma ou (linguisticamente) que o sentido de um enunciado conserva seu valor-verdade. Formalmente podemos escrevê-lo como A → A.

   O princípio do meio excluído, por sua vez, nos diz (ontologicamente) que ou uma coisa é ela mesma ou ela não é ela mesma, não havendo uma terceira alternativa; ou ainda, ele nos diz (linguisticamente) que um enunciado, no mesmo sentido, é verdadeiro ou falso, não havendo meio termo. Ele pode ser formalmente apresentado como “A v ~A”. Os três princípios são logicamente equivalentes, pois se uma coisa é ela mesma (ao mesmo tempo e sob a mesma perspectiva), ou seja, se A → A, então não é possível que ela seja e não seja ela mesma; formalmente: ~(A & ~A). E se uma coisa é ela mesma, então ela não pode ser outra coisa senão ela mesma, ou seja: A v ~A.

   Esses princípios são verdades lógicas (tautologias) que servem como os verdadeiros axiomas da lógica sentencial. Contra a objeção de que existem, afinal, inúmeras verdades lógicas, é possível responder que eles têm a prerrogativa de serem os mais simples. Só por meio desses princípios somos capazes de construir tabelas de verdade que definem os conectivos lógicos, que por sua vez justificam as regras sobre as quais se baseia todo o cálculo sentencial.

   Bem entendidos, esses princípios são irrecusáveis. Quero considerar aqui apenas o mais disputado dentre eles, que é o princípio do terceiro excluído: “A v ~A”. Pode-se argumentar que deve haver algo que não é nem A nem não-A. Por exemplo, considere a frase “Está chovendo”. Pode ser que seja noite e que exista algo como um sereno, com minúsculas gotículas de água no ar que parecem estar lentamente descendo... mas não será apenas uma névoa? Simplesmente não há como decidir! Nesse caso, se alguém disser “Está chovendo”, não haverá como saber se a frase é verdadeira ou falsa. Estamos diante de uma fronteira indefinida (blurred boundary). Afinal, nem está chovendo nem não está chovendo. Não parece então que para esse caso limítrofe o princípio do terceiro excluído deve ser rejeitado?

   Uma consideração mais cuidadosa mostra que essa objeção se apoia em uma confusão, pois no contexto considerado a afirmação “Está chovendo” deixa de fazer sentido, o mesmo acontecendo com a afirmação de que não está chovendo, pois esses são proferimentos inverificáveis, que por isso mesmo não são capazes de enunciar coisa alguma. O proferimento “Está chovendo”, feito no contexto em questão, possui um sentido meramente gramatical, pois nada é capaz de dizer. Se alguém o proferisse diríamos: não faz sentido afirmar! Contudo, a lógica clássica trabalha com sentenças que possuem valor-verdade abstraído de enunciados com pretensão de verdade, constituindo asserções que expõem juízos, o que demanda verificação. Não há lugar para sentenças sem valor-verdade na lógica clássica. E com razão, posto que tais sentenças nada nos informam. Isso significa que a lógica deve excluir de consideração sentenças incapazes de se apoiar em procedimentos de verificação e que por isso mesmo não possuem sentido cognitivo, mas somente sentido gramatical (ver minha exposição do argumento de Wittgenstein a favor do verificacionismo semântico no cap. XVII, sec. 4 do presente livro).[17]

 

9

 

Ética. Nos tempos de Aristóteles não existia distinção entre ciência e filosofia e as ciências existiam em geral de forma embrionária. Assim, não importa considerar aqui sua detalhada divisão das ciências. De forma mais geral é hoje usual que nos apropriemos dessa divisão distinguindo entre dois domínios gerais da filosofia: o da filosofia teórica e o da filosofia prática. Podemos caracterizar a filosofia teórica como tendo a ver com o mundo e nosso acesso ao mundo (o input do mundo sobre nós), enquanto a filosofia prática pode ser caracterizada como tendo a ver com nossa resposta a esse acesso com os produtos dessa resposta (o nosso output sobre o mundo). Nesse sentido podemos dizer que a filosofia teórica tem tradicionalmente, como ramos principais, a metafísica e a epistemologia, além de outros mais específicos como a filosofia da ciência. A metafísica investiga os constituintes últimos da realidade, enquanto a epistemologia investiga nosso acesso cognitivo a esses constituintes e ao mundo em geral. Já a filosofia prática tem a ver com a investigação da ação humana e de seus produtos. Tradicionalmente, a ênfase na ação humana tem como objeto central a ética, mas ela também inclui coisas como a teoria da ação. Já no que diz respeito aos produtos da ação humana, podemos incluir a filosofia da cultura, da política, da história, da arte, etc. A mais conhecida contribuição de Aristóteles depois de sua metafísica foi para a ética.

   Antes de dizer algo sobre a ética aristotélica convém fazer um mapeamento geral das concepções morais. Existem três momentos da ação moral. O primeiro deles é o da intenção: uma pessoa pode querer fazer o bem ou o mal. O segundo é o da ação: a pessoa realiza uma boa ou má ação. O terceiro é o da consequência da ação, que também pode ser boa ou má. Geralmente, a boa intenção conduz a uma boa ação, a qual conduz a uma boa consequência. Mas nem sempre é assim.

   As éticas que colocam a origem dos valores morais na intenção do agente são chamadas de éticas da virtude. Esse foi o caso das éticas gregas em geral, que não eram individualistas e tinham como fim mostrar como o cidadão poderia melhor servir à polis. As éticas que colocam a origem do valor moral na própria ação são ditas deontológicas. Elas procuram estabelecer regras diferenciadoras da boa (ou má) ação, a exemplo dos dez mandamentos do Antigo Testamento. Finalmente, há as éticas que põem a origem do valor moral na consequência da ação. Essas são as éticas consequencialistas. Há também três tipos de consequencialismo: o egoísmo ético, defendendo que o bem deriva de cada um procurar obter o melhor para si mesmo (ex.: uma sociedade de celerados); o altruísmo ético, defendendo que o bem deriva de cada um procurar fazer o melhor para os outros membros da comunidade (ex.: os Amishes); e o utilitarismo, defendendo que cada um deve procurar fazer bem a todos, incluindo a si mesmo. Eis o esquema geral:

 

                      ÉTICA DA VIRTUDE

                      (intenção)

 

ÉTICA          DEONTOLOGIA

                      (ação)                                               Egoismo ético

 

                      CONSEQUENCIALISMO             Altruismo ético

                      (efeitos)

                                                                               Utilitarismo

                                                                               (utilitarismo hedonista)

 

Certamente, tanto a intenção quanto a ação e a consequência têm importância moral. Além disso, é claro que quando julgamos uma ação isolada, o que mais nos importa avaliar é a intenção do agente. Uma pessoa pode, com a melhor das boas intenções, realizar uma ação que, contra todas as expectativas, se demonstra funesta! Nesse caso ela não poderá ser considerada culpada. No caso individual, a direção do valor moral tende a ser da intenção para a ação e da ação para o efeito.

   Não obstante, muito diverso é o que acontece quando consideramos a fixação dos valores em uma sociedade ao longo do tempo. Do ponto de vista do que em uma sociedade ao longo do tempo acaba por ser estabelecido como possuindo maior valor moral, aquilo que realmente importa são as consequências. Geralmente, quando as consequências de certos tipos de ações humanas em uma sociedade se demonstram geralmente boas, isso acaba por levar à formação de regras que, uma vez seguidas, trazem boas consequências, tornando as ações dos que as seguem boas. (Por exemplo: imagine uma sociedade na qual os porcos estejam infestados de cisticercos causadores de teníase e que os líderes religiosos, percebendo a relação entre o alimento e a doença, decidem instaurar a regra de que Deus proibiu o povo de se alimentar de carne de porco... A atitude resultante torna-se boa pelo seu bom efeito.) É a permanência de consequências geralmente boas resultantes de um prolongado seguimento das regras que as produzem aquilo que passamos a chamar de virtude... Isso significa que as regras que fazem derivar boas ações podem mudar com a realidade social. Alasdair MacIntyre mostrou que essas regras podem sofrer alterações no curso da história: nos tempos homéricos a força física era considerada uma virtude, uma vez que através dela a sociedade era protegida... Nos romances de Jane Austen a constância torna-se uma virtude maior, uma vez que ela costuma ser um ingrediente indispensável para assegurar um casamento bem sucedido...[18] Vê-se que na formação das regras e dos valores morais de uma sociedade a direção é do efeito para a regra e da regra para a intenção.

   A conclusão desse raciocínio é que o centro irradiador último do valor moral é para ser encontrado nas éticas consequencialistas. Mas qual delas? O egoísmo ético tem poucas chances. Ele tem a limitação de restringir a felicidade social: quando cada qual age só pensando em seu próprio bem, resta pouco lugar para o amor, para a amizade, para o exercício do que há positivamente social na natureza humana. Uma dificuldade encontrada em algumas sociedades hoje economicamente muito desenvolvidas é que as pessoas “vivem para si mesmas”, sendo o bem comum mediado por leis impessoais, restando pouco espaço para o desenvolvimento de formas naturais de interação altruísta. O altruísmo ético também possui suas limitações. Ele tem a desvantagem de limitar a liberdade individual. Esse é o caso de sociedades como a dos Amishes, nas quais vivencia-se um altruísmo coletivo capaz de fazer bem a todos, mas sob um preço, que é a imposição de um forte compartilhamento de gostos e valores através do qual a liberdade de individuação de seus membros fica comprometida.

   Isso nos leva a pensar que o melhor dos consequencialismos deva ser aquele que propõe um equilíbrio entre o egoísmo e o altruísmo: o utilitarismo. Segundo o utilitarismo, a boa ação é aquela da qual resulta um bem maior para todos, incluindo o próprio agente. Uma forma adequada de utilitarismo poderia ser capaz de determinar as melhores regras e as melhores virtudes na melhor sociedade.[19] Desenvolver uma forma adequada de utilitarismo é, contudo, uma tarefa espinhosa, muito mais complexa do que se possa pensar a primeira vista. (Uma sugestão nesse sentido encontra-se na seção 6 do capítulo VI.)

   Aristóteles, mais interessado na ética da virtude, via a função da moralidade como a de maximizar a felicidade (eudaimonia) coletiva de modo a possibilitar a boa vida na sociedade através de valores gerados no interior da polis. Em vista disso ele inventou a moralidade do justo meio.[20] A ação moralmente correta é aquela realizada por um agente que sabe escolher o justo meio entre o extremo do excesso e o extremo da falta. Assim, uma pessoa corajosa é aquela que sabe escolher o justo meio entre a temeridade e a covardia. Uma pessoa generosa é aquela que sabe escolher um meio caminho entre a avareza e a prodigalidade. Uma pessoa justa é a que é capaz de escolher um meio caminho entre os ganhos e as perdas... Certamente, essas medidas devem ser calibradas em concordância com os diferentes agentes e circunstâncias. David não seria corajoso, mas temerário, se decidisse travar uma luta corpo a corpo com Golias. O cangaceiro Lampião observava a tática de fugir sempre que se via em desvantagem. Mas ele não fazia isso por covardia e sim por bom senso.

   Também interessante é que para Aristóteles o comportamento virtuoso é algo que pode ser socialmente aprendido: é como aprender a acertar os dardos no centro do alvo. É preciso exercício e experiência junto às pessoas certas em uma comunidade suficientemente bem ordenada para que alguém se torne capaz de escolher melhor o justo meio. O velho bordão “junta-te aos bons e serás um deles” encontra aqui uma justificação teórica.

   Uma questão que surge é sobre quem decide qual é o justo meio. Um senhor de escravos pode pretender se comportar segundo o justo meio da sociedade em que vive. Ele será considerado virtuoso pelos seus pares e talvez até mesmo pelos seus escravos, mas nada do que fizer será considerado virtuoso pelos que avaliam de fora as regras de uma sociedade perversa. A aplicação da ética do justo meio parece demandar aqui considerações adicionais.

 

 

 

 

 



[1] Platão: Sofista 246 a-e.

[2] A. E. Taylor notou que Aristóteles não conseguiu se desvencilhar por completo do idealismo de seu mestre. Embora conhecesse história natural, nota ele, para outras ciências empíricas ele era mal preparado. Diversamente de Platão, ele não acreditava no movimento da terra e rejeitava o atomismo e a posição de médicos como Hipócrates, segundo a qual o cérebro e não o coração é o centro do sistema nervoso. Ver A. E. Taylor, Aristotle (New York: Dover 1955), pp. 61-62.

[3] Aristóteles, Metafísica, livro III, 1003 a20-26. Ver Metaphysics, in The Complete Works of Aristotle, ed. Jonathan Barnes, vol. II. (Princeton: Princeton University Press 1984). Trad. port. Metafísica (Petrópolis: Vozes 2024).  

[4] A. E. Taylor, Aristotle. (New York: Dover 1956 (1916)), p. 42.

[5] Metafísica livro VII (Z), 1028b 10-25.

[6] Metafísica livro VII (Z), 1036a 8.

[7] Metafísica livro V (D) 8, 1017b 23-25.

[8] Ver Jonathan Barnes: Aristotle (Oxford: Oxford University Press 1966), p. 46.

[9] Metafísica, Livro VII (Z) 1029b13.

[10] O número de categorias proposto por Aristóteles variava, as últimas duas não aparecendo em todas as exposições. Não parece que ele tenha tido um critério sistemático para sua escolha.

[11] O termo ‘universal’ (katholou) foi cunhado por Aristóteles querendo dizer “aquilo que por natureza é predicado de muitos.” Da Interpretação, 17a 38.

[12] Metafísica 1034a 5-8.

[13] Aristóteles: Física I, sec. 8

[14] É preciso notar que a admissão de que Deus seja ato puro e de que existam substâncias imateriais (Deus, as inteligências celestes, a razão humana) contém uma grave inconsistência. Essas substâncias deveriam ser formas sem matéria, em outras palavras, deveriam ser formas ou ideias universais supostamente imutáveis, ou seja, ideias platônicas. Mas Aristóteles não prima pela consistência quando se trata de introduzir elementos platônicos em seu empirismo.

[15] Aristóteles: Metafísica XII (L), 7, 1072b 24-28.

[16] Metafísica 1005b 19.

 

[17] Um proferimento que parece aqui verdadeiro, como “Nem está chovendo nem não está chovendo”, quando analisado como tendo a forma “Nem está chovendo nem não está chovendo”, tem a forma “~P & ~ ~P”, que é o mesmo que a contradição “~P & P”. Por isso ele é melhor analisado como uma forma elíptica de se dizer “Não sei que P nem que não-P”, que é um proferimento de atitude proposicional verdadeiro.

[18] Alasdair MacIntyre: Depois da virtude (Bauru: EDUSC 2001).

[19] Ver “Razões para o utilitarismo (uma introdução utilitarista à ética)”, in Claudio Costa:  Arquiteturas Conceituais (Belo Horizonte: Dialética 2022).

[20] Aristóteles: Ética a Nicômano Livro II, sec. 6.

 

 


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