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domingo, 18 de outubro de 2020

# COGNITIVISMO SEMÂNTICO (1): PRÓLOGO, CLASSIFICAÇÃO DOS TERMOS

 

DRAFT F

 

 

 

 

 

COGNITIVISMO SEMÂNTICO:

COMO TERMOS REFERENCIAIS REFEREM  

 

 

------------

Por uma concepção neo-descritivista da referência

 

 

 

 

 

 

 

 

(contracapa)

NESSE LIVRO É DESENVOLVIDA UMA CONCEPÇÃO FILOSÓFICA INOVADORA DOS MECANISMOS DE REFERÊNCIA DOS TERMOS SINGULARES E GERAIS EM FILOSOFIA DA LINGUAGEM. TRATA-SE DE UMA TEORIA BASICAMENTE NEODESCRITIVISTA, CAPAZ DE SER VANTAJOSAMENTE CONTRAPOSTA TANTO ÀS VELHAS TEORIAS DESCRITIVISTAS QUANTO ÀS MAIS NOVAS TEORIAS CAUSAIS-HISTÓRICAS, COM RESULTADOS BEM MAIS PROMISSORES.

O AUTOR É DOUTOR EM FILOSOFIA PELA UNIVERSIDADE DE KONSTANZ E PROFESSOR TITULAR NA UFRN, TENDO REALIZADO ESTUDOS PÓS-DOUTORAIS EM MUNIQUE, BERKELEY, OXFORD, GÖTEBORG E NA ÉCOLE NORMALE SUPÉRIEURE. SEUS PRINCIPAIS LIVROS ENCONTRAM-SE EM INGLÊS, SOB OS TÍTULOS DE THE PHILOSOPHICAL INQUIRY (2002) LINES OF THOUGHT (2014) E PHILOSOPHICAL SEMANTICS (2018).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Probleme kann man nicht mit derseben Denkweise lösen, durch die sie entstanden sind. [Problemas não podem ser resolvidos pela mesma maneira de pensar que os produziu.]

Einstein

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SUMÁRIO

 

 

                   PRÓLOGO

 

 

              PARTE I: TERMOS SINGULARES

 

1.     CLASSIFICANDO OS TERMOS SINGULARES

2.     TERMOS INDEXICAIS

3.     DESCRIÇÕES DEFINIDAS

4.     NOMES PRÓPRIOS (I): DESCRITIVISMO

5.     NOMES PRÓPRIOS (II): CAUSALISMO EFERENCIAL

6.     NOMES PRÓPRIOS (III): METADESCRITIVISMO

 

 

         PARTE II: TERMOS GERAIS

 

7.      INTRODUÇÃO: DESCRITIVISMO VERSUS CAUSALISMO

8.      PUTNAM, A TERRA GÊMEA E A FALÁCIA

      EXTERNALISTA

9.      IRREGULARIDADES DO TERRENO CONCEITUAL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PRÓLOGO

 

 

Meu primeiro encontro com as teorias filosóficas dos nomes próprios aconteceu há mais de trinta anos, quando me encontrava na Alemanha escrevendo uma tese sobre a concepção de significado na última filosofia de Wittgenstein. Como seria de se esperar de um neófito recém-convertido, a melhor resposta parecia-me ser a teoria do feixe de descrições definidas, tal como fora comentada pelo próprio Wittgenstein na seção 79 de suas Investigações Filosóficas. Por contraste, as poucas leituras que fiz na época sobre a concepção causal-histórica da referência dos nomes próprios proposta por Saul Kripke me deixaram escandalizado. O recurso ao batismo e às cadeias causais externas soava-me como uma explicação mágica da referência. Não que eu me sentisse à vontade com a teoria do feixe. Minha opinião era a de que seria necessário impor uma ordem ao apanhado arbitrário de descrições constitutivas do feixe e que isso só poderia ser feito pelo recurso a alguma regra de ordem superior, capaz de estabelecer o papel e o valor das descrições a ele pertencentes. Mas logo me esqueci do assunto.

   Só voltei a me interessar pela questão dos nomes próprios em 2006, por razões meramente acidentais. Lembrei-me então de meu antigo projeto. Escrevi um breve esboço no qual enfatizava o fato de que as descrições definidas pertencentes ao feixe deveriam ser interpretadas como expressões de regras de conexão do nome próprio com o seu objeto de referência. Mais do que isso, me pareceu que em seu aparato cognitivo qualquer falante competente deveria possuir de forma implícita uma regra de ordem superior, uma regra meta-descritiva para nomes próprios, capaz de conferir papel e valor aos diversos tipos de regra-descrição constitutivos de cada feixe de descrições associado a cada nome próprio. Tal regra meta-descritiva se aplicaria sobretudo a regras-descrições espaciotemporalmente localizadoras e caracterizadoras da razão pela qual o portador de um nome próprio é por nós referido.

   Apresentei meu esboço em várias ocasiões, sempre surpreso com a forte reação adversa da maioria dos ouvintes. Contudo, como ninguém me apontava um erro sério e como um pouco de reflexão me mostrava que as objeções poderiam ser facilmente respondidas, prossegui. A teoria metadescritivista dos nomes próprios daí resultante encontra-se exposta no capítulo 6 do presente livro, sendo o que ele tem de mais interessante a oferecer. Embora essa teoria não deixe de incorporar intuições provenientes da concepção causal-histórica, ela as condiciona a ideias de fundo claramente descritivista, o que faz com que se deixe melhor classificar como uma elaboração muito mais satisfatória da velha teoria do feixe de descrições.

   A teoria metadescritivista dos nomes próprios tem a sua maior complexidade justificada por sua coerência interna, além da posse de um poder explicativo claramente superior ao das teorias anteriores. Entre os bons atributos que a recomendam encontram-se: (i) ser capaz de explicar adequadamente como e por que o conteúdo cognitivo (sentido) do nome próprio pode contribuir para a identificação de seu portador (objeto ou referência); (ii) ser capaz de gerar a ideia de que nomes próprios são designadores rígidos do próprio interior do descritivismo; (iii) ser capaz de explicar, sob uma perspectiva descritivista, como e por que se dá o contraste entre a rigidez dos nomes próprios e a acidentalidade das descrições definidas e, finalmente, (iv) ser capaz de responder de forma muito mais convincente aos mais importantes exemplos já levantados contra a teoria do feixe.

   A resposta à questão da natureza do nome próprio é uma pedra angular da filosofia da linguagem. Se ela for alterada, tudo se altera. A teoria causal-histórica dos nomes próprios, advogada por Saul Kripke, Keith Donnellan e outros, produziu uma verdadeira revolução na maneira como entendemos outras expressões referenciais fundamentais, que são as descrições definidas, os indexicais, os termos gerais e mesmo os enunciados, inaugurando uma nova ortodoxia causalista e externalista em filosofia da linguagem. Se proponho uma teoria neodescritivista (metadescritivista) dos nomes próprios que se revele verdadeiramente convincente, o que estou sugerindo trás em seu cerne uma contra-revolução de fundo descritivista-cognitivista, que promete responder de modo mais satisfatório aos problemas que a nova ortodoxia tem gerado desde a década de 1970. Essa é, creio eu, a explicação última da reação de rejeição de parte de ouvintes diante da proposta de uma teoria metadescritivista dos nomes próprios: ela demanda uma inversão da perspectiva hoje mais comum.

   Isso também explica as direções que minha pesquisa precisou tomar em seguida. Uma vez que me encontrava investigando a função dos nomes próprios, meu interesse teve de se alargar para a história das teorias descritivistas e também para a necessidade de alcançar um entendimento crítico da concepção causal-histórica que fizesse justiça ao trabalho exponencial de Kripke.

   A investigação do funcionamento dos nomes próprios inevitavelmente me levou a considerar outras expressões referenciais, como descrições definidas, termos indexicais e mesmo termos gerais, onde a mesma disputa entre a nova ortodoxia do referencialismo causal-externalista e a velha ortodoxia do cognitivismo descritivista-internalista é mantida. Minha pergunta foi irreprimível. Se havia obtido tão bons resultados defendendo uma espécie de cognitivismo metadescritivista essencialmente internalista para o caso dos nomes próprios, por que semelhante maneira de ver não seria capaz de produzir resultados igualmente interessantes quando aplicada a outras expressões referenciais? A tarefa me parecia imensa, mas a intuição era boa, de modo que decidi considerar também essas questões. O objetivo era duplo. De um lado, queria demonstrar as limitações das teorias referencialistas-externalistas aplicadas a outros termos referenciais; de outro, considerando as objeções, queria desenvolver explicações basicamente cognitivistas-internalistas mais convincentes para os modos como descrições definidas, indexicais e termos gerais referem, mesmo que ainda incompletas.

   Alguns resultados podem ser de interesse. Entre eles está a compatibilização do descritivismo de “Russell” com o de “Frege”; uma defesa neofregeana da irrelevância das incongruências não-convencionais em um resgate descritivista do conteúdo semântico fregeano dos indexicais, por oposição à tese de John Perry da essencialidade do indexical; a tese da plasticidade do pensamento; uma crítica linguística detalhada à teoria externalista do significado de Putnam e, em complemento a isso, a proposta da existência de regras meta-descritivas por vezes análogas às dos termos singulares na constituição de regras de atribuição de termos gerais.

   Trata-se, como creio, de algo que nos aproxima um pouco mais de um conhecimento apto a obter consenso; mais aproximado, portanto, daquilo que em um linguajar genérico chamamos de ciência. Ainda assim, boa parte do que aqui se encontra escrito não vai muito além de esboços rudimentares, que lanço na espectativa de que possam ser melhor desenvolvidos por outros. Assim deve poder ser, dado que filosofia é work in progress por definição.

   Ao trabalhar com essas questões percebi, em retrospecto, que aquilo que estava tentando fazer poderia ser entendido como a retomada de um programa especulativamente desenvolvido por Ernst Tugendhat na década de 1970 em seu clássico livro Vorlesungen zur einführung in die sprachanalytische Philosophie (Lições introdutórias à filosofia analítica da linguagem) – um programa que pode ser considerado o canto de cisne da velha ortodoxia em filosofia da linguagem. Essa velha ortodoxia teve seus inícios com Frege e Wittgenstein, tendo sido fortemente influente até a década de 1980, pelo menos. Contudo, ela acabou perdendo sua força, à sombra do domínio sempre crescente das concepções externalistas e não-descritivistas do acesso à referência – a nova ortodoxia comandada por filósofos como Saul Kripke, Hilary Putnam e David Kaplan.

   Retomando de forma mais clara uma ideia já defendida na interpretação que Michael Dummett fez de Frege, Tugendhat sugeriu em seu livro que se entendesse o programa da velha ortodoxia como sendo, para o caso fundamental da frase enunciativa predicativa singular, o de analisar o sentido cognitivo (Sinn) do termo singular como sendo a sua regra de identificação (Identifikationsregel), o sentido cognitivo do termo geral como sendo a sua regra de aplicação (Verwendungsregel) – que prefiro chamar de regra de atribuição – e o sentido cognitivo ou epistêmico (epistemisches Gehalt) da frase enunciativa predicativa singular completa como sendo a sua regra de verificação (Verifikationsregel). Essa última regra seria a resultante da aplicação combinada das duas primeiras (da regra de identificação, que identificaria o objeto ao qual se aplicaria a regra de atribuição), o que foi concebido por Tugendhat como uma maneira analiticamente aprofundada de se falar da verificação em termos de significado e, ultimadamente, da verdade no sentido tradicional de correspondência (nada a ver aqui com as objeções feitas à espécie de verificacionismo dos positivistas lógicos). Ora, meu objetivo deixa-se também explicar como sendo o de justificar e analisar em algum detalhe cada uma dessas regras em sua natureza, estrutura, subdivisões e relações, além de tentar esclarecer seu status ontológico, assim como atributos a elas relacionados, como os de existência e verdade.

   Essas são as estações do presente texto, que foi escrito na intenção de ser entendido por leitores que, apesar de versados em filosofia, não precisassem possuir conhecimento especializado de filosofia da linguagem.

   Em adição, devo observar que o trabalho com esse livro foi interrompido em 2011 para que fosse possível escrever dois livros em inglês: Lines of Thought: Rethinking philosophical assumptions (2014) e Philosophical Semantics: Reintegrating Theoretical Philosophy (2018). Os conteúdos dos três livros são parcialmente inclusivos e complementares. Estou convencido de que juntos eles oferecem uma chave sistemática mais plausível para a solução de alguns problemas fundamentais da filosofia linguístico-analítica contemporânea, baseada simplesmente na escolha de variedade de pressupostos teóricos prima facie mais plausíveis (daí o grande número de referências cruzadas no presente texto).

   Um único exemplo para ilustrar a complementariedade em questão: foi só no livro Philosophical Semantics que tratei do enunciado completo, que não deixa de ser um caso especial de expressão referencial. O significado cognitivo do enunciado foi lá analisado em termos de regras verificacionais, o que foi feito juntamente com uma crítica a entendimentos formalistas seriamente equivocados que filósofos do Positivismo Lógico e sua descendência (que vem pelo menos de W. V. Quine a Saul Kripke, passando por Donald Davidson) tiveram do verificacionismo semântico originariamente proposto por Wittgenstein. Esses entendimentos equivocados geraram críticas igualmente equivocadas e, no final das contas, uma rejeição enganosa, posto que bloqueadora dos caminhos da investigação concernentes ao modo mais natural e potencialmente frutífero – creio que na verdade o único – de se analisar significados cognitivos de sentenças assertivas sem ter de reaplicar o próprio conceito de significado. Finalmente, também no livro Philosophical Semantics foi esboçada uma versão genuinamente abrangente da teoria correspondencial da verdade que se demonstrava compatível com o verificacionismo semântico. Tugendhat, acreditando nessa mesma compatibilidade, demonstrou-se mais uma vez presciente.

   Por fim, devo fazer uma advertência. Esse livro é como a proposta de solução de um quebra-cabeças que desafia muito da mainstream contemporânea – um quebra cabeças no qual as muitas peças precisam se encaixar perfeitamente umas às outras. Não se pode solucionar um quebra-cabeças considerando encaixes isolados. Por ser assim, cada capítulo, especialmente os mais importantes (capítulos 6 e 8), só adquire credibilidade quando visto como constituindo um argumento complexo, que precisa ser seguido com certo cuidado, podendo essa consideração ser estendida mesmo ao livro como um todo. É desejável, pois, que o leitor suspenda o juízo até ter compreendido como os sub-argumentos se combinam entre si de modo a constituirem um “modo de se ver o problema” – um todo complexo cuja plausibilidade se deve ao poder explicativo originado de sua coerência interna.

 

Konstanz, 2021

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AGRADECIMENTOS

 

 

Quero agradecer aos editores da revista Dissertatio pela permissão para republicar conteúdo inicialmente publicado sob forma de artigos naquela revista. Devo agradecer ao CNPq por uma bolsa de pós-doutorado na Universidade de Konstanz junto ao professor Wolfgang Spohn, onde permaneci no período de 2008 a 2010 e onde pude desenvolver as primeiras versões do presente texto. Tenho muito a agradecer a muitas pessoas, mas em especial gostaria de agradecer ao professor Wolfgang Spohn por ler e discutir comigo uma versão inicial de minhas ideias sobre como nomes próprios referem. Também gostaria de agradecer ao professor João Branquinho pelas discussões sobre nomes próprios nos colóquios da Universidade de Lisboa, além da professora Anna-Sofia Maurin e a seus bem preparados alunos da Universidade de Göteborg em 2016/1. Outras pessoas a quem sou grato são o professor Manuel Garcia-Carpintero, que em 2006 me incentivou a dar início a essa pesquisa, assim como aos professores Richard Swinburne, Peter Stemmer, Marco Antônio Caron Ruffino, Guido Imaguire, Daniel Durante, Ethel Rocha, Cinara Nahra, André Leclerc e Nelson Gomes, por objeções e estímulos. Sou também grato a François Recanati pela gentileza de me ter aceito para um pós-doutorado na École Normale Supérieure em 2016/2, quando tive a oportunidade de assistir seu excelente curso de filosofia da linguagem. Finalmente, devo manifestar meus agradecimentos aos meus ex-colegas Fernando Rodrigues e Fernando Fleck, além dos professores Raul Landim e Guido Antônio de Almeida, através dos quais há muitos anos descobri a importância das Vorlesungen de Ernst Tugendhat.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SUMÁRIO

 

 

                   PRÓLOGO

 

 

              PARTE I: TERMOS SINGULARES

 

10.  CLASSIFICANDO OS TERMOS SINGULARES

11.  TERMOS INDEXICAIS

12.  DESCRIÇÕES DEFINIDAS

13.  NOMES PRÓPRIOS (I): DESCRITIVISMO

14.  NOMES PRÓPRIOS (II): REFERENCIALISMO CAUSAL

15.   NOMES PRÓPRIOS (III): METADESCRITIVISMO

 

 

         PARTE II: TERMOS GERAIS

 

16.   INTRODUÇÃO: DESCRITIVISMO VERSUS CAUSALISMO

17.   PUTNAM, A TERRA GÊMEA E A FALÁCIA

      EXTERNALISTA

18.   IRREGULARIDADES DO TERRENO CONCEITUAL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PARTE I: TERMOS SINGULARES

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1

CLASSIFICANDO OS TERMOS SINGULARES

 

 

Quero começar mapeando brevemente o território a ser explorado ao expor a classificação tradicional dos termos singulares.

 

Tipos de termos singulares

Um termo singular é aquele que é usado para identificar um único objeto (um particular, um indivíduo), ao distingui-lo de uma multiplicidade de outros objetos.[1] Nas línguas européias, o termo singular costuma ser claramente divisível em indexical, descrição definida e nome próprio.

   Comecemos com os assim chamados termos indexicais.[2] Eles podem ser definidos como sendo aqueles termos singulares cuja referência costuma variar a cada diferente contexto de proferimento. Esse é o caso dos pronomes demonstrativos, como ‘esse’ e ‘aquele’, e pronomes pessoais, como ‘eu’ e ‘ela’. Podemos distinguir entre indexicais demonstrativos e puros.[3] Os primeiros são basicamente pronomes demonstrativos e possessivos como ‘esse’, ‘essa’, ‘isso’, ‘aquilo’, ‘ele’, ‘ela’, ‘meu’ ‘seu’, ‘sua’.[4] Eles precisam vir acompanhados de algo mais para poderem selecionar seus objetos de referência. Esse algo mais, além de ser interiormente uma intenção referencial, deve ser exteriormente algo que a demonstra, que pode ser um gesto de ostensão (ex: aponta-se para um objeto), quando não algum pressuposto contextual (ex: um raio visivel a todos caiu em uma região próxima) ou algum elemento descritivo complementar desambiguador capaz de esclarecer o que o falante intenciona referir (ex.: expressões como ‘essa bola’ ou ‘aquele livro de capa azul na estante’). Já os indexicais puros são aqueles cuja referência é automática, não dependendo nem de ações nem de intenções. Eles se exemplificam basicamente pelo pronome pessoal ‘eu’ e por advérbios como ‘aqui’, ‘agora’, ‘hoje’, ‘amanhã’...

   Há muitas outras expressões cujo conteúdo, em maior ou menor medida, depende do contexto. Como John Searle percebeu, é até mesmo razoável pensar que todos os nossos enunciados empíricos possuem algum traço de indexicalidade.[5] Considere, por exemplo, o enunciado singular “Galileu foi o primeiro a expor claramente a lei da inércia” e o enunciado universal “Todos os corpos materiais tem força gravitacional”. Parece claro que com o enunciado sobre a descoberta da lei da inércia estamos nos referindo indexicalmente a um acontecimento no planeta Terra no século XVII. Se em algum outro planeta habitado de outra galáxia alguém descobriu a lei da inércia há milhões de anos, isso não afetará a verdade desse enunciado, uma vez que ele foi indexado à história do desenvolvimento científico em nosso planeta. Quanto ao enunciado sobre a universalidade da “força” gravitacional, ele é considerado verdadeiro em relação ao nosso universo. Se existir um universo paralelo cujos corpos massivos não curvam o espaço-tempo ao seu redor de modo a produzir o que chamamos de gravidade, o enunciado não deixará por isso de ser verdadeiro, posto que a universalidade em questão é indexada ao nosso universo.

   Não obstante, mesmo que a maioria de nossos enunciados considerados não-indexicais contenha um elemento indexical oculto em seu pano de fundo contextual, isso não destrói nosso entendimento dos indexicais, pois ao falarmos de termos indexicais no sentido próprio estamos fazendo um uso muito mais restritivo da ideia em questão. Nós queremos nos limitar às expressões que, embora variem as suas referências com a variação do contexto de proferimento, fazem isso com a função prescípua de designar referentes em sua relação espaciotemporal interna ao contexto do proferimento (exs.: ‘isso’, ‘aquilo’, ‘eu’, ‘tu’, ‘agora’) ou ao menos proximamente associada a ele (exs: ‘acolá’, ‘amanhã’, ‘depois-de-amanhã’, ‘ontem’, ‘antes-de-ontem’, ‘na semana passada’...).

   Quando a relação espaciotemporal se encontra muito distante desse “aqui e agora” do proferimento do falante, o usual é que deixe de ser intuitiva a consideração do proferimento como propriamente indexical. Considere os proferimentos: “A Próxima do Centauro está a 4,243 anos luz de distância” e “Os estromatólitos viveram há 3,45 bilhões de anos atrás”. Expressões como ‘a 4,243 anos luz de distância’ e ‘há 3,45 bilhões de anos atrás” não são, pela caracterização acima, indexicais como ‘lá’ e ‘ontem’, posto que seus referentes estão respectivamente no espaço e no tempo demasiado distantes do contexto do proferimento (limites são aqui inevitavelmente vagos e outros fatores podem entrar em consideração).

   Passemos agora às descrições definidas. Elas são complexos nominais geralmente iniciados com um artigo definido no singular. Exemplos são ‘a dama das camélias’, ‘o marechal de ferro’, ‘a cidade luz’. Embora estandartizáveis sob essa forma, as descrições definidas nem sempre se apresentam assim: ao invés de ‘a avó que eu tenho’ costumo dizer ‘minha avó’. O que caracteriza as descrições definidas mais propriamente é que elas sejam capazes de representar ou conotar, através de seu sentido, propriedades distintivas do objeto ao qual se referem. Assim, a descrição ‘o pai de do filósofo Aristóteles’ é referencial por representar uma propriedade distintiva de uma pessoa de ser o pai de Aristóteles. Algo assim se aplica a outras descrições definidas listadas acima, capazes de conotar respectivamente as propriedades distintivas de gostar de camélias, de ser de uma dureza impiedosa, de ser uma cidade extraordinariamente bela. Por outro lado, uma expressão como ‘O Sacro Império Romano’ (o qual, como notou Voltaire, não era nem sacro nem império nem romano) não é uma descrição definida, mas um nome próprio (recebendo por isso iniciais maiúsculas), posto que não conota propriedades do objeto referido.

   As descrições definidas fazem contraste com as descrições indefinidas, que costumam começar com artigo indefinido como, por exemplo, ‘uma mulher’, ‘um terno azul’. Essas últimas nos permitem apenas falar de algum objeto qualquer pertencente a uma classe de objetos, mas sem demandar sua identificação. Por serem incapazes de identificar um único objeto específico distinto de todos os outros, elas não são termos singulares.

   Os nomes próprios, por fim, são expressões geralmente destituídas de complexidade sintática, ainda assim mantendo a função de designar um certo objeto singular na independência do contexto do proferimento.[6] Diversamente das descrições definidas, nomes próprios não exprimem um sentido único relacionado à identificação da referência. Por isso o filósofo J.S. Mill sugeriu que eles não conotam propriedades específicas do objeto referido; eles apenas o denotam. Mesmo quando eles possuem alguma complexidade sintática, como é o caso do nome ‘Touro Sentado’, ela geralmente de nada serve à referência.

   Nomes próprios são classificados nos livros escolares como nomes de pessoas, objetos ou lugares. Mas essa é uma classificação simplificadora se considerarmos a grande variedade de objetos particulares que podem ser referidos por eles. Além de nomes de pessoas e animais, há nomes de construções humanas como cidades, de objetos geológicos como montanhas e rios, de objetos astronômicos como planetas e nebulosas, de fenômenos naturais como furacões e vulcões, de regiões geográficas e de instituições financeiras, além de nomes de objetos abstratos como números.

 

Relações entre os tipos de termos singulares

Faz parte da concepção essencialmente cognitivista-descritivista a ser defendida nesse livro a sugestão de que não deve haver uma fronteira nítida a separar os indexicais de descrições definidas e essas últimas dos nomes próprios. Uma descrição definida como ‘o homem que está discursando naquele palanque’, por exemplo, é conotativa, mas contém o demonstrativo ‘naquele’ com função indexical. Nesse sentido ela não é uma descrição definida tão exclusiva quanto, digamos, ‘o sapo barbudo’. Considere agora um termo singular como ‘o Cristo Redentor’. Vindo antecedido de artigo definido, ele conota descritivamente a propriedade identificadora da estátua, que é a de ser uma homenagem ao Deus cristão. Ele contém, pois, elementos de descrição definida. Contudo, ele também possui alguns traços de nome próprio, na medida em que ao usá-lo não costumamos ter em mente apenas a homenagem ao filho do Deus cristão, mas à própria estátua do Cristo situada no alto do Corcovado. Assim, a expressão ‘o Cristo Redentor’ parece estar a meio caminho entre uma descrição definida e um nome próprio. Muito diferente é o caso de um nome próprio típico como ‘Machado de Assis’, referente ao grande escritor carioca. Mesmo que ‘machado’ conote uma ferramenta e ‘Assis’ uma cidade, esses elementos descritivos não tem nenhuma função identificadora, pois o escritor nem era um machado nem nasceu na cidade de Assis.

   Há uma hipótese vislumbrada por filósofos como P.F. Strawson[7], que ajuda a explicar a ausência de fronteiras nítidas entre indexicais, descrições definidas e nomes próprios. Queria expô-la como contendo a sugestão de que deve haver uma progressão genético-estrutural, que vai dos indexicais para as descrições definidas e delas para os nomes próprios.[8] Os indexicais parecem ter de algum modo prioridade como fontes originadoras da referência. Afinal, a maneira pela qual crianças aprendem a identificar objetos nos estágios iniciais do aprendizado da linguagem é por intermédio de atos de chamar a atenção e apontar por parte parte dos adultos que se encontram à volta. Como veremos, é bem razoável pensar que com base nesse uso indexical da linguagem por outros nós assimilamos regras de identificação, as quais podem mais tarde ser expressas por meio de descrições definidas que, diversamente dos indexicais, podem ser usadas para a comunicação mesmo na ausência dos objetos por elas referidos. Essa é a vantagem da constância presente nas descrições definidas e ausente nos indexicais. Finalmente, como as maneiras de se identificar um mesmo objeto, assim como as descrições correspondentes, podem se diversificar cada vez mais, aprendemos a colocar um nome próprio no lugar de toda a variedade de descrições definidas que podem ser usadas para designar um mesmo objeto, usando esse nome indistintamente para significar essa ou aquela descrição ou conjunção de descrições identificadoras.[9] Com isso podemos nos comunicar sobre objetos sem precisarmos nos preocupar com o compartilhamento dos conteúdos de todas as múltiplas descrições específicas. Ganham assim os nomes próprios, além da vantagem da constância, típica das descrições definidas, também a vantagem da flexibilidade. Essa progressão é sugestiva de nossa hipótese de trabalho e indicadora de um itinerário a ser seguido.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Tugendhat 1976, p. 425 ss.

[2] A palavra ‘indexical’ vem da noção de índice de C.S. Peirce. Outros termos usados no mesmo sentido são particulares egocêntricos (Russell), termos token-reflexivos (Hans Reichenbach), indicadores (Nelson Goodman, W.V. Quine), demonstrativos (John Perry) e dêiticos (Ernst Tugendhat, John Lyons, S.C. Levinson).

[3] Sigo aqui a proposta original de David Kaplan in 1989, pp. 490-491.

[4] Note-se que nem sempre esses termos funcionam como indexicais. Considere: (i) “Todo adolescente pensa que ele é um adulto” (ocorrência como variável ligada), (ii) “Maria teve um filho; ela está muito feliz” (ocorrência anafórica). Contudo, esses pronomes podem ser excluídos sem prejuízo do significado como em: (i’) “Todo adolescente pensa que é adulto” e (ii’) “Maria está muito feliz por ter tido um filho”. Isso indica que eles tem aqui uma função derivada, diversamente de suas funções indexicais primárias.

[5] Searle 1983, p. 221.

 

[6] Nomes próprios de pessoas costumam ser em sua expressão fonética e ortográfica multiplamente ambíguos, de modo que a unicidade de sua designação acaba por depender do contexto em que são usados. Contudo, esse fato não nos leva a confundir nomes próprios com indexicais, pois o contexto desambiguador do nome próprio não é o do proferimento, mas o de uma pluralidade de crenças interligadas conectadas ao contexto do proferimento, as quais, como veremos, fazem valer um certo domínio de objetos que contém aquele a ser selecionado por uma específica regra de identificação para o nome. (Cf. capítulo 6.)

[7] 1959, parte I.

[8] Mesmo admitindo que o indexical dependa do uso de conceitos para ser capaz de identificar algo, parece claro que o indexical deve ter um papel fundamental no aprendizado inicial de novos conceitos.

[9] Estou considerando esse processo em termos tendenciais. Naturalmente, um nome próprio também pode gerar uma descrição definida, como no caso da descrição laudatória ‘o mestre dos que sabem’ usada por Dante para se referir a Aristóteles.



sexta-feira, 16 de outubro de 2020

ON THE PRESENT'S DURATION (rough sketch)

 

This is only a rough sketch, the English wasn’t corrected, etc.

 

 

THE DURATION OF THE PRESENT

 

Once I asked the fruit-seller in the corner of my street what is the duration of the present. She answered without hesitation: the present endures 24 hours. For people trained in philosophy this might sound as an absurd, if not as a ridiculous answer. But in the end of this paper, I hope to show that there might be a grain of truth in an answer like that.

   If we ask philosophically what is the duration of the present, we soon reach the limits of paradox. If we suggest that it is a minute, it is a false answer because we are including seconds of the future and seconds of the past in this present, and our situation is not very much different from that of the fruit-seller. Since the minute has 60 seconds one could ask if this duration could not be of 1 second. But since the second has 1,000 milliseconds, there are future and past milliseconds involved in the second. And, of course, each millisecond can be also, so it seems, infinitely divided. This brings us to a prima facie answer regarding objective physical time: the present has no duration. But if the present has no duration, the present does not exist. The question about the duration of the present seems to lead us to the paradoxical conclusion its inexistence.

  There is a counter to this conclusion. Physicians believe that the shortest length in the universe is Planck’s length, which is about 1.6 x 10-35 m. Since the highest possible speed in any referential system is the speed of light, which is 3 x 108 m/s, the shortest time would be the time taken to pass the light through the shortest length. Since Δt = d/v, dividing the shortest length by the highest possible speed we would get the shortest time of the universe, which would be 53.39 x 10-44 sec.

     Naturally, even assuming that there is nothing wrong in the reasoning above, there is a serious problem for the explanation of what we properly and conventionally understand as the present. As much as Plank’s length, Plank’s time is so extremely small that cannot be effectively measured. It extends far above the minimal measure of time we have already arrived at, which is of 10-18 seconds. The consequence is that even if we consider the present as having the duration of the Plank unity of time, this would not be something that we would be able to feel or sense or experience as the present. This could be the present for the physicist. But it would not be the present as we understand it in our current usage of the word.

 

I

How to get rid of this dilemma? A first answer is to bite the bullet and to conclude that the present has indeed no existence, no reality. Some would say that the distinction between past, present and future is in the end only an illusion, though a persistent one. What exists is the earlier, the simultaneous and the later, regarding a chosen frame of reference. We would easily adopt eternalism, the block view of the universe, in which past, present and future are only sections of one only space-time…

   However, why we have this persistent tendency to find the present so special? Why are we all at least intuitively presentists, believing that only the present really exists, that the true reality is that of the present world surrounding us?

   One could answer rejecting presentism and endorsing eternalism. If the whole time, from the past to the future is real, then we should dismiss the present as an illusion. The relativity theory has shown us that what is present is present only relative to a frame of reference, but it can be past or future relatively to other frames of reference. Otherwise we will be lead to subjectivism about time.

   However, even if we think so, the present continues to exist and having reality when considered upon innumerable different frames of reference since all that we have made was to multiply the presents. One could object that this multiplication makes the present subjective. But this is not true. We can fix a frame of reference (for instance, our own) and agree intersubjectively within this frame of reference about what is present, future and past. And in this sense the present is objective. Remembering Einstein’s famous experiment with the train, if we are outside the train, we can agree intersubjectively about the simultaneity of events and consequently about events simultaneously given in the present. And this interpersonal agreement gives us all the criteria of objectivity that is demanded for by the usual sense of the word.

 

II

   Another possible answer to the problem is to retreat to the subjective experience of time. We need to renounce to the objective present and appeal to something like the specious present. We have the feeling of the present. This feeling is caused, not by the above noticed nothing, but essentially by our short time memory and our short-term expectations. I remember the beginning of the sense I am writing and I am able to expect what I will say now that I am ending this sentence. This is which gives me a feeling of the present, the impression that the present has some duration. One could try to answer our question saying that when speak of the present we are in fact speaking of the specious present and only misleadingly intending the objective physical time. Since the only present that we can see as lasting is the subjective specious present, this is the only present that for us exists, which seems to open the doors to all kind of idealist metaphysics which seems to most of us today unpalatable.

   This answer stands until we ask what is the cause of the specious present. This cause cannot be other than the objective physical present. But here we are once more lead to a paradox. Since the objective physical present is a nothing, since it does not exist, it cannot be the cause of anything. We seem to be leaded from idealism to solipsism.

   Our attempt to save the present leads us to inconsistences, it seems. Is there a way to scape from the absurd of having to deny the reality of the present as we experience, which would also lead us to deny that the specious present mirrors something real?

 

III

I would like to propose an easier answer to the problem. The objective present that we usually refer to is not a nothing, not something unreal, it is not even something really subjective. It is not a moment, an instant in the absolute sense of these words, supposing that this is a meaningful sense. It requires a duration in time, as much as the what we have called specious present. Consequently, something like the specious present is what we mean when we speak about the objective physical present: a short duration of time in which we are able to apprehend the change of objects or of facts or even of anything essentially unchangeable in the flux of time that we can feel in changes going on in our own minds. In other words: the present time is the time we need to apply our conceptual rule in order to experience the world.

   I think that this answer can be made more consistent if we consider it as a problem concerning the reality or existence. Assuming by hypothesis presentism, present are all things that are real, that exist. But what means reality, existence? Something that demands duration in time, for sure. There is no instantaneous existence or reality. Existence is being in time, said Kant. If we agree with Frege and understand existence as the falling of an object under a concept, we have a possible process. Since Frege’s concept of concept as the abstract reference of a predicate is very improbable, we can understand the concept as a conceptual sense or (in accordance with Dummett’s interpretation) we can view a conceptual sense as a conceptual rule and the existence of something as the effective applicability of a conceptual rule, or, conversely, as the disposition of something (an object, a tropical property) of having its identifying conceptual rule effectively applicable to itself. In this case existence or reality demands duration in time. And this is a subjectivist move, since application and not applicability is something that demands the existence of a cognitive perceiver as a subject. Even the rule does not need to exist when we speak of its effective applicability, diversely from its actual application. Moreover, the actual application of the conceptual rule can be seen as something objective, since it can be considered interpersonally.

   To see this point clearly, suppose that something, say, a blue lake, exists now in an uninhabited planet of another galaxy that was never detected by any cognitive perceiver. This thing has the possibility of a conceptual rule being applied to it (the effective applicability of a rule), a rule able to identify it. This disposition of the object (that could be only imaginary) of having a rule effectively applicable to it is what we call its existence. If the blue lake exists, this means that the identifying conceptual rule for its existence would be effectively applied if, under the right circumstances, a cognitive perceiver able to form and apply this rule were there. However, this disposition does not demand that someone effectively applies the rule to it or even that this rule is instantiated in the mind of any cognitive being of any world; the conceptual rule does not need to exist, though it surely needs to be able to exist.

    The point that is important to our concern here is that the application of a rule demands time. We cannot have instantaneous perception of anything. And even things that exist without having had any perceptual rule applied to it exist only because if a conceptual rule were applied to them would be seen as existing in a process involving time. My conclusion is that not only the specious present endures in time, but that the objective present captured in the specious present must also endure in time – enough time to involve the application of an effectively applicable conceptual rule.

   There are, of course, at least two assumptions of my reasoning that could be questioned. The first is my adoption of an improved Fregean view of existence as a second order property of a something of having to itself an identifying conceptual rule that is effectively applicable.[1] This view is plausible, insofar as the competitive view regarding the existence as a first order property leads us to the undesirable conclusion that there is nothing that does not exist. The second assumption is my adoption of presentism: the only real things are those that are present. This is also plausible, since it is in conformity with our best common sense. Past things were real; future things will be real. Therefore, the only things that are real are those given to us in the present enduring moment.



[1] A defense of this view of existence as a property-property is presented in the chapter four of my book Philosophical Semantics: Reintegrating Theoretical Philosophy (Cambridge Scholars Publishing, 2018).