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quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

LÓGICA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Texto didático:

 LÓGICA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS 



No que se segue quero expor alguns conceitos indispensáveis ao curso de lógica dedutiva.


1. ARGUMENTO

A primeira noção a ser considerada é a de frase, que é um conjunto unificado de símbolos com significado independente (morfemas). Uma frase ou sentença além de poder ser afirmativa, pode ser interrogativa, um comando, uma exclamação... casos nos quais não será nem verdadeira nem falsa. O que nos interessa aqui são as frases enunciativas. Uma frase enunciativa é a que exprime uma proposição (enunciado, pensamento), uma unidade de compreensão que pode ser definida como aquilo que a frase diz, aquilo que ela dá a entender, o conteúdo semântico por ela expresso, chamado por Frege de pensamento. Característico da proposição assim considerada é que com ela podemos erguer uma pretensão de verdade, ela pode ser verdadeira ou falsa (Aristóteles chamava as frases enunciativas significativas de logos apophantikós, caracterizando-as por poderem ser verdadeiras ou falsas). Ao conjunto da sentença assertiva com a proposição por ela expressa iremos chamar de enunciado.
     Um argumento é uma sequência de enunciados na qual um dos enunciados é a conclusão e os demais são as premissas, as quais servem de evidência para a conclusão. Exemplo de argumento:

       (1)
       Todos os homens são mortais. (primeira premissa)
       Sócrates é homem (segunda premissa)
       Portanto: Sócrates é mortal (conclusão)

     O raciocínio é o argumento pensado enquanto o argumento é o raciocínio linguisticamente expresso.
     A lógica estuda os argumentos; ela pode ser definida como o estudo da relação formal entre as premissas e a conclusão dos argumentos.
     Existem dois tipos de argumento: os dedutivos e os indutivos. Vejamos primeiro os argumentos dedutivos. Os argumentos dedutivos se definem como aqueles nos quais se todas as premissas forem verdadeiras a conclusão terá de ser verdadeira. Ou, o que vem a dar no mesmo, aqueles nos quais é (logicamente) impossível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão seja falsa. Uma característica suplementar é que neles a conclusão já vem implícita nas premissas.
     No argumento dedutivo a verdade das premissas garante a verdade da conclusão, não sendo possível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. Isso significa que, dada a verdade das premissas, a conclusão passa a ter probabilidade 1 (probabilidade de 100% de ser verdadeira). O argumento apresentado no exemplo (1) é dedutivo, pois a conclusão de que Sócrates é mortal já estava implícita nas premissas. Além do mais ele é válido, pois se for verdade que todos os homens são mortais e que Sócrates é homem, se torna necessariamente verdadeiro que ele é mortal.
     Devido ao fato de a conclusão já se encontrar de algum modo implícita nas premissas, o argumento dedutivo não é capaz de ampliar o nosso conhecimento. Considere outra vez o exemplo (1). A conclusão de que Sócrates é mortal já vem implícita nas premissas, que dizem que ele é homem e que todos os homens são mortais. Esse fato deixa de parecer óbvio em argumentos mais complexos.
     O argumento dedutivo é chamado de válido quando, sendo as suas premissas verdadeiras a sua conclusão é necessariamente verdadeira. A definição de validade é na verdade redundante, servindo apenas para distinguir a classe dos argumentos dedutivos da classe dos argumentos aparentemente dedutivos. Eis um exemplo de argumento aparentemente dedutivo (inválido):

     (2)
     Todos os homens são mortais.
     Sócrates é mortal.
     Portanto: Sócrates é homem.

É inválido porque se Sócrates fosse um cão as premissas seriam verdadeiras e a conclusão falsa. É crucial entender que a validade do argumento não depende da verdade das premissas. Argumentos válidos com premissas verdadeiras são chamados de corretos (sound). Considere o argumento:

      (3)
      Todos os ratos são cães.
      Todos os cães comem gatos.
      Portanto: todos os ratos comem gatos.

Esse argumento é válido, pois se as premissas forem verdadeiras, a conclusão será verdadeira. Se fosse o caso que os ratos fossem cães e comessem gatos, então os ratos comeriam gatos. Mas como isso não é o caso, ele não é correto. A lógica não se interessa pela correção dos argumentos, mas pela validade deles. Ela se interessa pela forma dos argumentos capazes de transmitir verdade das premissas para a conclusão. Em filosofia não nos interessamos apenas pela validade de nossos argumentos, mas também pela sua correção, o que filósofos formalistas extremados (os logicósofos) costumam esquecer.
     Vejamos agora os argumentos indutivos. Eles podem ser definidos como aqueles em que a conclusão contém conteúdo que não está implícito nas premissas, sendo, pois, capaz de ampliar nosso conhecimento. Neles a verdade das premissas não torna (logicamente) necessária a verdade da conclusão. Neles a verdade das premissas dá à conclusão um grau de probabilidade que é sempre menor do que 1 (menor do que 100%). Quando a probabilidade da conclusão é maior do que 0,5 (maior do que 50%) dizemos que o argumento indutivo é forte (ou válido). Nesse caso ele torna a verdade da conclusão provável. Exemplo:
            
                  (4)
                  O sol sempre nasceu a cada dia.
                  Portanto: o sol também nascerá amanhã.

O argumento indutivo pode ter a conclusão falsa, mesmo sendo as suas premissas verdadeiras. É perfeitamente possível, embora improvável, que o sol não nasça amanhã. Quando a probabilidade da conclusão do argumento indutivo é menor do que 0,5, dizemos que o argumento é indutivamente fraco (ou inválido). Eis um exemplo:

                  (5)
                 Alguns brasileiros gostam de picles.
                 João é Brasileiro,
                 Portanto: João gosta de picles.


Note-se que a força de um argumento indutivo pode variar com a adição de novas evidências. Um argumento indutivo deve conter todas as premissas relevantes para a sua conclusão. Se no argumento (4) a premissa “Esta tarde o planeta errante Melancholia irá colidir com a terra” estivesse sendo suprimida, o argumento seria indutivamente fraco. A supressão de premissas relevantes para um argumento indutivo se chama de falácia a evidência suprimida.
   Argumentos também podem ser relevantes ou não. Um argumento é relevante quando as premissas são relevantes para a conclusão. Um argumento é bom quando é dedutivamente válido e relevante ou quando é indutivamente forte. Eis um exemplo de argumento válido, mas sem relevância:

               (6)
               Alguns mosquitos picam.
               Alguns mosquitos não picam.
               Todas as coisas são idênticas a elas mesmas.

Curiosamente, esse é um argumento dedutivo válido. A validade decorre do fato de que as premissas são verdadeiras e a conclusão é um enunciado necessariamente verdadeiro. Mas a conclusão “Todas as coisas são idênticas a elas mesmas” é necessariamente verdadeira por si mesma, ela não resultando aqui da verdade das premissas, sendo essa conjunção de verdades mera coincidência. Esse argumento é válido, mas não é relevante, pois a relevância se mede pelo quanto a verdade das premissas importa para a verdade da conclusão, e aqui elas não parecem importar nem um pouco.



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Exercício I
Classifique cada um dos seguintes argumentos em dedutivo ou indutivo, correto ou incorreto. Se indutivo, diga se é forte ou fraco. Diga se o argumento for irrelevante.

(1)
      Nenhum ser humano tem 10 metros de altura.
João é um ser humano.
Portanto: João não pode ter dez metros de altura.

(2)
Geralmente faz calor em Mossoró.
Está fazendo calor em Mossoró.

(3)
Alguns porcos tem asas.
Todas as coisas aladas gorjeiam
Portanto: Alguns porcos gorjeiam.

(4)
João está lendo Proust.
Portanto: João tem mais de um mês de idade.

(5)
Deus fez o universo.
Deus é perfeitamente bom.
Se Deus é perfeitamente bom então ele não permite o mal.
Portanto: não existe o mal no universo.

(6)
O céu está carregado de nuvens negras.
Se chover não haverá piquenique.
Portanto: parece que não haverá piquenique.

(7)
Uma vez olhei para um sapo e no mesmo dia quebrei o dedo.
Olhar para um sapo dá azar.

(8)
7 + 2 = 9
1 + 1 = 2
Portanto: 2 + 2 = 2 x 2

(9)
5 > 2
8 > 5
Portanto 8 > 2

          (10)
          Nenhum ser humano tem mais de 150 anos.
          Portanto: nenhum ser humano vivo viverá mais de 150 anos.

         (11)
         Todos os homens são mortais.
         Silver (o cavalo de Zorro) é mortal.
         Portanto: Silver é um homem.

         (12)
         Um fóssil não pode ser enganado no amor.
         Uma ostra pode ser enganada no amor.
         Portanto: ostras não são fósseis.







Respostas do exercício I:
(1) dedutivo, correto (sound), relevante; (2) indutivo, forte, relevante; (3) dedutivo, incorreto (unsound); (4) indutivo forte; (5) dedutivo, correto, pouco relevante; (6) indutivo forte, bom; (7) indutivo fraco, mau; (8) dedutivo, correto, irrelevante. (9) dedutivo, correto, relevante. (10) indutivo, correto, bom. (11) Dedutivo, inválido, incorreto (12) dedutivo válido incorreto.


































  

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