2017
O que se segue é um histórico de opiniões pessoais muitas vezes errôneas que me levaram a fazer jorrar o esboço-vômito acima:
2015:
Minhas pobres opiniões políticas tem variado como um pêndulo. É de dar dor de cabeça. E ainda por cima acho o assunto insignificante. Mas como creio haver uma unidade oculta, aqui vai:
Trata-se de um “esboço vômito” (draft 0)
PELO ZIG-ZAG POLÍTICO
Quero começar excluindo aquilo que foge ao escopo de
nossa discussão, que são os sistemas totalitários de esquerda ou de direita.
Minha intenção é procurar esclarecer os verdadeiros papéis da esquerda e da
direita em uma sociedade legitimamente democrática.
Minha tese é simples. Esquerda e direita em uma
democracia são opostos dialéticos interdependentes que podem e idealmente devem
alternar-se em uma enriquecedora dinâmica interna. Ou seja: faz parte da
dinâmica de um estado democrático um possível revezamento entre governos de
direita e esquerda, pois ambos se complementam na felicidade de maximizar o bem
comum.
Essa tese, naturalmente, demanda esclarecimentos.
Primeiro, preciso definir com mínima precisão o que entendemos por direita e
esquerda. Depois é necessário esclarecer por que considero ambas as posições
legítimas. Depois preciso explicar por que uma alternância entre ambas, em um
sistema sócio-político suficientemente desenvolvido, é desejável. Terceiro, quero
testar minhas considerações aplicando o critério de estado justo de John Rawls,
mostrando que ele pode se aplicar a ambas a ambos os casos, uma vez dado o
contexto adequado.
Vejamos primeiro como podemos definir o espectro
politico que vai da esquerda a direita de forma que espero não ser ideologicamente
comprometida. Os termos surgiram no período da revolução francesa e constituem
um espectro que vai da estrema esquerda a esquerda moderada, ao centrismo
moderado, a direita moderada e a estrema direita. Desse espectro quero
considerar apenas a esquerda e a direita moderadas, uma vez que elas são
compatíveis com um sistema democrático desenvolvido e capazes de um dialogo
mutuo, o que nao e o caso de posições extremadas. Nesses termos podemos dizer
que
1)
A
esquerda está mais comprometida com a mudança sob o suposto do progresso econômico.
2)
A
direita está comprometida com a conservação da ordem estabelecida, com a
resistência à velocidade da transformação ou com o retorno à ordem já
estabelecida.
1)
A
esquerda está comprometida com o redistributivismo com relação as classes menos
favorecidas e com a maximização da igualdade social.
2)
A
direita está comprometida com a defesa das classes mais favorecidas sob a
justificação meritocrática. Membros dessas classes merecem mais porque produzem
mais e são mais capazes de maximizar o bem comum.
1)
Economicamente,
a esquerda moderada é social-democrata. Ela defende uma maior intervenção
estatal na economia, pois geralmente o estado é quem é capaz de redistribuir
riquezas que tendem a se acumular nas mãos de alguns poucos, diversamente da
economia privada. Além disso a esquerda moderada deve ter a preocupação moral
de auxiliar o mais fraco. Ela deve diminuir as desigualdades principalmente
acrescentando valor ao desprotegido, principalmente pela educação, a começar
pela educação básica. O problema causado por isso e que há um aumento da taxação,
diminuindo a competitividade da economia privada. A economia privada é a
verdadeira responsável pelo progresso. A tese propagada por Adam Smith vale até
hoje. O que enriquece uma nação é a livre competição entre os agentes econômicos;
uma livre competição sem monopólios, eu diria, com base em leis que sejam
válidas para todos. Trata-se da “mão invisível” do mercado. Se ela for
estendida até os limites o que teremos será um estado paquidérmico que irá
esmagar a economia privada produzindo estagnação, matando o “espírito animal”
do empreendedorismo. A falência de sistemas totalitários de esquerda como a
URSS e a China de Mao é uma prova disso. Esses sistemas de capitalismo de
estado só funcionaram à força e na medida em que dessem um algum espaço para a
economia privada. O pecado capital da esquerda, claramente visível em sistemas
comunistas, tem sido o da inveja.
2)
Economicamente,
a direita defende o capitalismo privado. Ela defende a livre competição da
parte da economia privada e a minimização do papel do estado. A diminuição das
taxas e intervenção do estado auxilia no crescimento econômico porque em um
sistema livre de monopólios no qual o estado é pequeno e taxa minimamente, as
empresas livres se tornam muito mais capazes de competir umas com as outras. A
livre competição faz com que as empresas mais eficazes e criativas predominem,
enquanto as menos competitivas vão à falência, o que no final é o principal
instrumento no enriquecimento de uma nação. O melhor exemplo disso talvez tenha
sido o desenvolvimento dos Estados Unidos na última metade do século XIX notado
pelo economista Newton Friedman. O governo taxava os cidadãos em menos de 5%,
restringindo-se ao papel de manter a lei e a ordem. Praticamente tudo era
privado. Como havia, por exemplo, competição entre as companhias ferroviárias,
o preço das viagens era minimizado, facilitando a vida do cidadão. O resultado
disso foi um crescimento econômico exponencial que na virada do século já fazia
os Estados Unidos ultrapassarem a Europa em termos de riqueza. Mas essa forma
radical de capitalismo não acontece sem um preço, pois os perdedores da
competição capital caem na miséria, seja por incapacidade ou por simples má-sorte,
passando a depender simplesmente da caridade dos mais afortunados. O pecado capital
da direita, claramente visível no assim chamado capitalismo selvagem, é o da
ganância.
Muitos pensaram, talvez influenciados pelo marxismo,
que a esquerda e a direita devessem ser posições incompatíveis, uma delas pelo
menos defendendo a justiça social. A esquerda, influenciada principalmente pelo
marxismo, defende que os pobres são socialmente explorados e injustiçados. Esse
ponto vale para claramente para certos momentos da história, como os abusos da
revolução industrial, mas não vale para todo e qualquer caso. Já a direita,
influenciada por conservadores como Edmund Burke, defende que os ricos formam
uma elite preservadora da tradição conquistada pela experiência de séculos,
sendo no final das contas aqueles que se demonstraram os mais capazes e que por
isso merecem o que conquistaram. Em termos individuais isso é claramente
falacioso. Mas se considerarmos como o estado funciona há uma lógica em se
pensar assim. Por exemplo: os mais ricos tem mais acesso à educação, tem meios
de conhecer os mecanismos do poder, e são capazes de passar sua experiência
para os que pertencem ao mesmo grupamento social. Em princípio, ao menos,
pressupondo a legalidade e a ausência de corrupção, são mais capazes de gerir o
estado de modo a produzir o bem comum. Isso é um fato.
Quero defender aqui algo diverso disso, pois penso que
ao menos quando consideramos formas moderadas de esquerda e direita representadas
em um sistema verdadeiramente democrático de governo em que a corrupção é
minimizada e as leis são reconhecidas e seguidas, ambas as posições são
complementares e capazes de uma interação enriquecedora capaz de beneficiar a
todos. John Searle devia ter algo assim em mente quando notou que o
bipartidarismo americano foi uma forma de sabedoria política.
Quero considerar a questão da justiça social, mas
antes disso pretendo considerar a questão das classes sociais. A existência de
diferentes classes sociais e algo necessário sociedades desenvolvidas. Ela
praticamente não existem em tribos indígenas onde mais ou menos tudo e de
todos, onde frequentemente existem apenas duas classes. A dos homens, dedicados
a caca e eventualmente a guerra, e a das mulheres, dedicadas aos afazeres
domésticos e ao cuidado dos filhos. Mas desde os impérios da antiguidade a
existência de classes sócias se tornou um fato social cuja necessidade e
indiscutível. A existência de classes sociais não significa necessariamente
injustiça social, como pensam alguns. Uma pessoa de muitas na Finlândia tem
deveres sociais muito grandes estabelecidos pelo estado social-democrático e a
compensação proporcionada pela sua maior riqueza e pelo maior status social e
equilibrada pelos seus maiores deveres e responsabilidades sociais. Isso nos
faz passar a questão da justiça social.
Quero notar que tanto um estado de esquerda quanto um
estado de direita pode ser socialmente injusto. Quanto ao estado de direita,
quero exemplificar meu ponto com o estado francês pouco antes da revolução
francesa. Os custos do governo monárquico absolutista eram imensos, junto as
suas dividas, enquanto o povo passava fome. Aqui temos um exemplo de direita
injusta e exploradora. Passemos agora ao caso do comunismo soviético. Nesse
sistema uma pessoa que tenha pertencido a nobreza corria risco de vida. Seu
próprio modo de falar poderia fazer com que fosse indiciado e executado. Esse e
um exemplo de injustiça da esquerda. Outro exemplo, que quisermos, e o anômalo
estado da Coreia do Norte. O povo vive em extrema miséria. Comer grama não e
coisa rara, dada a escassez de alimentos. King John, no entanto, e extremamente
rico, junto com os que foram promovidos por seu governo. Não sei se e possível
classificar esse governo como sendo de esquerda, mas e injusto para o povo que
deveria beneficiar. Isso nos leva a questão de saber ate que ponto a extrema
esquerda não se aproxima da extrema esquerda. A diferença real parece ser
apenas a das intenções ideológicas pretendidas, mas do que uma diferença
concreta. Tanto a extrema esquerda como a extrema direita que conhecemos tem
como primado o capitalismo de estado que com o tempo se perverte pela falta de
transparência democrática.
Quero aplicar agora o teste de Rawls para a justiça
social. A pergunta e se, sob o veu da ignorância, que sistema você preferiria
viver. Rawls estava pensando no sistema social-democratico ao formular sua
teoria. Mas e interessante notar que a escolha pode se dar tanto com relação a
um sistema de esquerda quanto em relação a um sistema de direita. Por exemplo,
um sistema direitista justo como o da Rolandia e algo a que preferiríamos
pertencer, pois e algo bastante próximo de um sistema social justo. Um sistema
esquerdista como o da Finlândia também e algo que sob o véu da ignorância seria
de nossa escolha. Assim, tanto um governo de direita quanto um governo de
esquerda pode ser justo,
Finalmente, as circunstâncias de uma sociedade são
mutáveis. Um sistema esquerdista moderado pode levar longe demais suas
intenções, tornando-se injusto. Acredito que esse seja o caso da Suécia
contemporânea. A admissão descontrolada de imigrantes acabou por formar grupos
de pessoas sem instrução e presos a uma religião radical como o islamismo que
são sustentados pelo imposto pago pelo cidadão sueco. Quando esses impostos
forem insuficientes a criminalidade se tornara uma solução para muitos. Não
estamos mais diante de uma social-democracia bem sucedida. O exemplo contrário
e o de uma direita como a mexicana atual, que privilegia uma minoria de pessoas
que certamente não conquistaram o poder por méritos próprios e que impede a
mobilidade social. Pelo que soube o governo mexicano secretamente dirige o
narcotráfico e privatizou empresas entre amigos. Não há nenhuma proteção à
meritocracia em um governo dessa espécie.
Vejamos agora as vantagens da alternância de poder
entre esquerda e direita. Aqui outra vez os Estados Unidos servem de exemplo, o
partido democrático servindo como exemplo de esquerda moderada e o partido
republicano servindo como exemplo de direita moderada. No governo X,
republicano, foram cometidos erros assustadores na política externa, como a
invasão do Iraque. Já na época especialistas como ... advertiam que o resultado
disso seria a guerra civil, pois o Iraque era um estado artificial sustentado
pelas mãos de ferro de Sadam Hussein. O resultado da ação americana foi uma
guerra na qual talvez tenham sido vitimadas quase meio milhão de pessoas. O
contraponto disso foi o liberal Obama. Obama conseguiu conter a crise
econômica, mas foi além do possível na aceitação indiscriminada e excessiva de
imigrantes, aumentando a criminalidade e diminuindo a segurança interna do
país. Outro problema foi a excessiva flexibilidade da política externa, que
permitirá ao Irã em dez anos produzir uma bomba nuclear induzindo a uma
corrida armamentista no oriente médio. Finalmente, como é comum nas esquerdas,
Obama gastou mais do que pode: a dívida Norte Americana saltou de 8 trilhões de
dólares para mais de 20 trilhões de dólares, pondo em risco a estabilidade
econômica do país. Ou seja: a esquerda foi longe demais. O contraponto disso
deverá ser o governo conservador de Donald Trump, cujo programa é de direita:
diminuir os gastos do estado, aumentar o papel da iniciativa privada taxando
menos e com isso criando mais oportunidades de emprego. Vemos aqui um exemplo
do zig-zag da política em um país desenvolvido. Os programas de esquerda e de
direita se corrigem um ao outro, como se poderia dizer, dialeticamente.
Tudo isso nos
leva a concluir que tanto a esquerda – privilegiando as classes desfavorecidas
– como a direita – privilegiando os mais ricos – tem o seu lugar, e que uma
alternância de poder entre uma e outra e algo desejável e plenamente compatível
com uma sociedade legitimamente democrática.
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O que se segue é um histórico de opiniões pessoais muitas vezes errôneas que me levaram a fazer jorrar o esboço-vômito acima:
2015:
Minhas pobres opiniões políticas tem variado como um pêndulo. É de dar dor de cabeça. E ainda por cima acho o assunto insignificante. Mas como creio haver uma unidade oculta, aqui vai:
NÃO DEIXE A MÍDIA FAZER SUA CABEÇA! (2010)
Confesso que por
muitos anos vivi politicamente alienado. Como não tenho televisão nem leio
jornais, achei que poderia me fiar na revista Veja, que na década de 70 sob a direção de Mino Carta foi uma boa revista. Por preconceito e completo desconhecimento achei que Lula fosse um incompetente e não FHC.
Mas mudei radicalmente de opinião ao assistir com atenção os muitos vídeos
sobre a política brasileira no Youtube - essa inesgotável fonte de cultura onde você pode escolher e comparar fontes de
informação. Agora acredito que nos últimos dez anos temos presenciado uma pequena revolução sócio-política na América Latina. Uma transformação através da
qual – para desagrado das elites – a grande maioria da população tem conseguido um começo de
libertação, através da eleição democrática de líderes que realmente a
representam, de profundas distorções sócio-culturais deixadas por centenas de
anos de colonialismo.
Agora as escamas cairam-me outra vez dos
olhos. Foram as dezenas de entrevistas e conferências de Noam Chomsky sobre
política internacional. Ler dá preguiça, mas ouvir dá pro gasto. O que ele nos
traz é uma versão renovada da tese da indústria cultural da escola de Frankfurt
– idéias exploradas originariamente nos ensaios de Marx sobre a alienação.
A idéia básica é a seguinte. O capitalismo
é um sistema intrinsecamente injusto, pois divide a riqueza de forma absurdamente
desigual. Além disso, ele privilegia valores imorais ao instaurar um perverso
sistema de competição que premia a ganância... Se o resultado fosse apenas esse,
não seria de tanta gravidade. O problema maior nasce do fato de que as elites
do dinheiro são também as elites do poder. E no capitalismo contemporâneo, os
donos do poder são os que controlam as grandes corporações. Para realizar o
objetivo de aumentar ainda mais a riqueza e o poder, essas corporações precisam
exercer controle sobre as pessoas, de modo que elas façam o que lhes interessa.
Como as sociedades contemporâneas deixaram de ser totalitárias, esse controle
não pode ser exercido pela força. Mas ele se exerce de um modo bem mais sutil e
eficiente, através da mídia. As corporações são quem paga a grande mídia, que
vive de seus comerciais, fazendo com que as notícias sejam filtradas e
manipuladas de maneira a controlar o pensamento das pessoas. A mídia nos torna
vítimas de uma lavagem cerebral diária, que sistematicamente distorce e
simplifica o entendimento que temos do mundo em que vivemos... Finalmente, as corporações estão por trás dos políticos, financiando suas campanhas, etc.
Uma
peça essencial na tarefa de fazer a cabeça das pessoas são os intelectuais. Ao
contrário do que se possa imaginar, segundo Chomsky eles quase sempre estão a
serviço do poder. Como ele notou, em situações de crise foram raros os
intelectuais que não apoiaram o governo, e os poucos que ousaram levantar a voz
foram encarcerados ou mortos, como no caso de Bertrand Russell, preso durante a
primeira guerra, na Inglaterra, e Rosa Luxemburg, assassinada na Alemanha. Como
resultado do constante martelar das informações pela mídia, as pessoas passam a
apoiar aquilo que interessa aos donos do poder, aderindo de modo não-crítico às
suas políticas.
Para Chomsky nós não vivemos hoje em
democracias no sentido pleno da palavra. O cenário por ele descrito algo
parecido com aquele apresentado por George Orwell em 1984, no qual as opiniões e ações das pessoas eram manipuladas sem
que elas percebessem. Só que através de mecanismos de dominação muito mais
sutis e complexos. Os Estados Unidos é um dos países menos democráticos que
existem, sugere Chomsly, pois nele uma oligarquia constituida pelos 3% das
pessoas com as quais se concentra mais da metade dos ganhos, ou seja, empresários,
executivos, banqueiros, especuladores, intelectuais, é quem escolhe e apoia os
políticos que trabalham a seu favor e que controla, através da mídia, o
pensamento da maioria da população, que uma vez a cada quatro anos tem o
direito de ir às urnas escolher entre alternativas pré-determinadas. Chomsky sugere
que a Bolívia seja o país mais democrático do mundo, pois colocou na
presidência Evo Morales, um índio cujos interesses se identificam com os do
povo. Mas qual seria o caso da Venezuela? Aqui temos mais um exemplo de mentira
martelada na cabeça das pessoas pela mídia brasileira, inclusive por
intelectuais como Arnaldo Jabor. As notícias são de que Hugo Chaves
está levando a Venezuela ao totalitarismo e ao desastre econômico com uma
inflação de 30%. Mas ninguém informa que a Venezuela também é o país do mundo que
teve maior aumento de IDH nos governos de Chaves, reduzindo pela metade a porcentagem
de pobreza. Chaves foi taxado de antidemocrata por não ter renovado a licença
de um canal de televisão pertencente à oposição. Mas o fato é que esse mesmo
canal estava escandalosamente envolvido no golpe de direita que por alguns dias
o sequestrou. Imaginem, observa Chomsky, que nos Estados Unidos haja um golpe
de estado: a Casa Branca é invadida, o presidente é sequestrado e um canal de
televisão se encontra envolvido... Nesse caso, não somente o canal será fechado...
mas os responsáveis serão encarcerados e provavelmente condenados à pena máxima! Contudo, as
pessoas não estão acostumadas e julgar os lados opostos pelos mesmos standards.
Os efeitos dos mecanismos descritos são
muito mais pervasivos do que se possa imaginar. Eis alguns exemplos atuais
apresentados por Chomsky em conferências. O Irã é hoje um país mais aberto do
que a Arábia Saudita, aliada dos Estados Unidos. Não tem um histórico de
envolvimento em guerras. Se
deixado em paz acabará retirando o poder dos Aiatolás. A chance do Irã iniciar
uma guerra nuclear, segundo analistas militares americanos, é de 1%. Mas os Estados
Unidos insistem em promover sanções econômicas que apenas protelam a abertura
do regime e a mídia norte-americana o demoniza. Afinal, os Estados Unidos não
tem controle sobre esse país, que por possuir petróleo é estrategicamente
importante.
Vejamos agora o lado oposto, o de Israel. Esse
país possui secretamente mais de uma centena de armas nucleares, capazes de
pulverizar o oriente médio em questão de minutos. Mas a mídia não discute o
assunto e ninguém insiste em fazer uma inspeção nos vários locais de Israel
onde, como é perfeitamente conhecido, o material atômico é processado. Israel é
uma espécie de pequeno estado norte-americano, um estado criminoso, aliás, por
manter um gueto com mais de três milhões de prisioneiros – o povo palestino – condenados
a uma vida miserável e sem opção. Mas Israel tem um fortíssimo Lobby no congresso norte-americano e uma
indústria de propaganda que se encarrega de fazer as pessoas perceberem os
palestinos que se rebelam na região ocupada como se fossem agressores fanáticos
contra os quais Israel precisa se defender. No final, através de sua política agressiva (a Esparta do oriente médio) Israel age contra os interesses dos Estados Unidos e se pensarmos bem no frigir dos ovos contas contra os interesses de seu próprio estado.
Outro exemplo é a guerra no Afeganistão. O
Al-Kaida se dispersou, a maioria das pessoas que participaram do ataque
terrorista ao World Trade Center eram provenientes da Arabia Saudita... Contudo, os Estados
Unidos e seus aliados insistem em manter o país sobre ocupação com um governo
fantoche corrupto, ligado ao tráfico de drogas e odiado pela população,
acreditando que isso irá reprimir o terrorismo potencial. Na TV alemã ouço que
se os aliados abandonassem o país haveria um banho de sangue produzido pelos
Talibâs... Mas isso é uma desculpa, pois sairia mais barato oferecer asilo às
pessoas que se opuseram aos Talibâs do que continuar gastando milhões de
dólares em uma guerra insana que já matou muitos milhares de pessoas. E é
contraproducente, posto que a melhor maneira de acabar com o terrorismo é
acabar com o intervencionismo.
O
maior problema, segundo Chomsky, é que o domínio dos interesses econômicos de
poucos, aliado à indústria cultural montada em cima deles, costuma produzir o
que se chama de externalidade.
Explico: se você e eu interagimos apenas em interesses próprios, como ocorre no
sistema capitalista, isso costuma ter efeitos imprevistos para os outros ao
redor. Chomsky apresenta como exemplo o acordo do NAFTA. A maioria da população
dos Estados Unidos e do México era contra. Mas o acordo foi assinado,
demonstrando-se lesivo aos interesses da maioria da população de ambos os
países, por aumentar o desemprego e só favorecer os interesses de uns poucos. Ou
seja: as estratégias político-econômicas costumam ser desenvolvidas pelas
elites e para as elites, com o cuidado de produzir na maioria da população a
ilusão de que a coisa está sendo feita no interesse de todos.
Isso
tem sido claro nos Estados Unidos nos últimos trinta anos. A política da
suspensão do controle da economia pelo estado só produziu estagnação no que
concerne aos interesses da população. Assim, é fato bem conhecido que nos
últimos trinta anos 80% da população norte-americana, além de não ter aumentado
os seus rendimentos, tem sofrido uma diminuição na qualidade de vida, apesar de
os poucos que dominam o país se encontrarem hoje mais ricos do que nunca. A
crise econômica de 2008, provocada pela excessiva desregulamentação da economia,
é um exemplo. A política militar desastrosa é outro. Metade dos gastos
militares do mundo são feitos pelos Estados Unidos, cujas dívidas com a China e
o Japão se escalam hoje a um nível impressionante. Sustentar uma política
imperialista quando isso já deixou de ser razoável é exatamente o que o
presidente Obama tem feito. Sobre isso Chomsky adverte que a Alemanha da década
de 1920 tinha uma democracia parecida com a americana e que os desastres
sociais junto com as respostas fáceis e enganosas fornecidas pela propaganda e
apoiadas pelas elites econômicas foi o que precipitou a ascenção do Nazismo. Este,
porém, acabou escapando do controle dessa mesma elite e os seus resultados acabaram
sendo desastrosos para todos. Esse é o mais sério exemplo de externalidade que conheço.
Em resumo: onde as decisões pretensamente
democráticas são secretamente dirigidas pelos interesses do capital, o sistema é
como um todo irracional – e o sono da razão, como disse Goya, produz monstros. A
conclusão mais importante de tudo isso parece ser a de que uma verdadeira
democracia só é possível em uma sociedade socialmente justa.
Minha intenção ao escrever isso foi apenas
a de informar. Não sou conhecedor do assunto. Apenas penso que se essas idéias
forem verdadeiras – como acredito – então elas são de real importância.
*****
Se você quiser
se informar melhor, sugiro começar com vídeos do youtube como:
Manufaturing Consent
e
The Corporation
Além dos inúmeros
vídeos de Chomsky e alguns de Michael Moore. Sketches da estória você encontra
em
George Carlin American Dream
José Saramago – Falsa Democracia
E o informativo documentário
sobre o golpe fracassado contra Hugo Chaves vale a pena assistir:
The Revolution will not be Televised
(este último também no google videos).
Sobre as
mentiras da guerra no Iraque há um documentário de John Pilger intitulado:
The war you don’t see
Interessante é também Chris Hedges e Sheldon Wollin, o último com sua teoria do totalitarismo invertido, Enquanto no totalitarismo tradicional o lider decidia sobre a economia (ex Stalin) no totalismo invertido as oligarquias economicas decidem o que os lideres devem decidir em desprezo do povo:
Chris Hedges: The pathology of the super-riches
A isso eu adicionaria os muitos documentários do excelente comentarista político Peter Scholl-Latour (infelizmente em alemão). Nesses documentários ele viaja pelo mundo avaliando os acontecimentos. Exemplos:
Chris Hedges: The pathology of the super-riches
A isso eu adicionaria os muitos documentários do excelente comentarista político Peter Scholl-Latour (infelizmente em alemão). Nesses documentários ele viaja pelo mundo avaliando os acontecimentos. Exemplos:
Weltmacht im Treibsand
Russland im Zangengriff
Ende der weissen Weltherrschaft
Die neue Achsen der Macht
Peter Scholl Latour berichtet ueber den Vietnam Krieg
Esses vídeos para
mim apenas reforçam o ponto de vista defendido por Chomsky. Há também livros como The Essential Chomsky (New Press, 2008),
que você pode importar pela Amazon.com.
***
OBSERVAÇÃO (1912):
Hoje, dois anos
depois, vejo o que escrevi acima de um modo que demanda qualificações. Lula, por exemplo,
teve a sorte de chegar ao governo em um contexto econômico favorável aos
países da América Latina, em geral com desenvolvimento até maior do que o do Brasil
no período. Seu partido foi em medida menor do que a mídia pretende conivente com a corrupção e as tentativas de interferir na política internacional foram ridículas.
Há alguns exageros populistas em Chomsky, por
exemplo, dizer que o Irã tem razão em prevenir-se nuclearmente contra Israel,
pois não há termos de comparação entre um estado totalitário que mal saiu da Idade Média,
como o Irã, e Israel. Outro ponto é que nem todo o mundo subdesenvolvido teve o
destino da Somália. Países subdesenvolvidos também lucraram enormemente com a
tecnologia criada por países de primeiro mundo e que agora está sendo
transferida; sem isso estaríamos hoje na selva caçando animais a tacape. Pode-se argumentar
que se não houvesse um monopólio dos países desenvolvidos no que concerne ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia, países como o Brasil não seriam inibidos no desenvolvimento de
ciência e tecnologia próprias... Mas é extremamente difícil avaliar a verdade dessa suposição. Seja como for, convém notar que a cultura de massas não é tanto uma imposição
alienadora que vem de cima, da corporação, do establishment, do complexo industrial... como parecem ter acreditados neo-marxistas como Theodor Adorno. Há muito de conivência implícita nisso e me parece que a auto-alienação é a regra no sistema de defesas normal dos seres humanos
normais. Aqui eu prefiro a explicação mais realista de Dostoievsky no famoso capítulo de
Os Irmãos Karamazov, onde o grande
inquisidor defende que as mentiras da igreja secular são um mal necessário,
capaz de proporcionar às pessoas uma réstia de felicidade terrena, mesmo que ao
preço de ilusão e injustiça... Contudo, essa explicação parece nos levar à crença na sabedoria das multidões... Parece que foi Marx quem disse que não se pode apressar a história.
OBSERVAÇÃO (2013):
Expressões como 'classe trabalhadora' e 'classe burguesa' são ideologicamente viciadas. Vou chamá-las respectivamente de classes mais populares e classes mais instruídas (a existência das últimas é um fato inegável, sejam quais forem as causas). Acredito mais no zig-zag histórico do lado certo e do errado do que na submissão de uma classe a outra. Sociedades minimamente complexas sempre possuíram diferenças de classe. É assim que funciona. Se considerarmos a história veremos que há períodos históricos nos quais as classes populares tinham mais razão, como no reinado de Luis XVI, enquanto há outros períodos nos quais as classes mais instruídas é que foram injustiçadas, por exemplo, na União Soviética do período stalinista, quando ser uma pessoa instruída implicava em permanente risco de vida. A primeira situação requer uma virada liberal-socializante, a segunda uma virada mais, digamos, conservadora. No Brasil, considerando o tipo de sociedade que temos, somos muito facilmente levados à conclusão maniqueísta de que as classes populares sempre tem razão e que as classes dominantes (algo mais instruídas) nunca podem ter razão.
OBSERVAÇÃO (2013):
Expressões como 'classe trabalhadora' e 'classe burguesa' são ideologicamente viciadas. Vou chamá-las respectivamente de classes mais populares e classes mais instruídas (a existência das últimas é um fato inegável, sejam quais forem as causas). Acredito mais no zig-zag histórico do lado certo e do errado do que na submissão de uma classe a outra. Sociedades minimamente complexas sempre possuíram diferenças de classe. É assim que funciona. Se considerarmos a história veremos que há períodos históricos nos quais as classes populares tinham mais razão, como no reinado de Luis XVI, enquanto há outros períodos nos quais as classes mais instruídas é que foram injustiçadas, por exemplo, na União Soviética do período stalinista, quando ser uma pessoa instruída implicava em permanente risco de vida. A primeira situação requer uma virada liberal-socializante, a segunda uma virada mais, digamos, conservadora. No Brasil, considerando o tipo de sociedade que temos, somos muito facilmente levados à conclusão maniqueísta de que as classes populares sempre tem razão e que as classes dominantes (algo mais instruídas) nunca podem ter razão.
A campanha política das últimas eleições no Brasil foram mais um exemplo da força da midia para dirigir o eleitorado segundo o que oligarquias acreditam que irá satisfazer melhor seus interesses. Quase conseguiram. Para me informar fiz uns 1000 amigos do PT no Facebook, que evidenciavam a "falta de estrutura" (eufemismo que saiu no Suddeutsche Zeitung) do político que se opunha à Dilma. Dessa vez tivemos sorte... E depois assiti no Youtube os depoimentos do editor da revista "Retratos do Brasil" mostrando que o julgamento do Mensalão foi político e destituido de qualquer base factual.
O problema é mundial. Há pouco encontrei em Paris um livrinho muito claro, crítico em relação aos políticos e à politica da Comunidade Européia, destinada a privilegiar o capital a qualquer custo. O título diz tudo:
Jack Dion: Le mépris du people: comment l'oligarchie a pris la société en otage
Mas, como disse Bukowsky, "politics is like to fuck a cat" e me sinto perdendo tempo ao escrever sobre o assunto.
O problema é mundial. Há pouco encontrei em Paris um livrinho muito claro, crítico em relação aos políticos e à politica da Comunidade Européia, destinada a privilegiar o capital a qualquer custo. O título diz tudo:
Jack Dion: Le mépris du people: comment l'oligarchie a pris la société en otage
Mas, como disse Bukowsky, "politics is like to fuck a cat" e me sinto perdendo tempo ao escrever sobre o assunto.
MAIS UMA OBSERVAÇÃO (2015):
Acabo de mudar de opinião. Claro, existe o PIG, a justiça pode não ser neutra, a corrupção ocorre em todos os partidos e no Brasil inteiro. Sei disso. Outro dia em um avião me sentei ao lado de um italiano que havia estudado economia e ficou me falando que falta o livre mercado, a mão invisível por aqui. Depois assistindo mais no Youtube ouvi algo importante, também de economia. Que o desenvolvimento é a capacidade de gerar riqueza, mas que aumentar o salário mínimo não torna a pessoa que recebe capaz de gerar riqueza. E aí começaram a ficar claras as causas da crise brasileira atual: o governo investiu demais e investiu mal. Um jornalista arguto notou que a Dilma não acredita no capitalismo. E a Dilma, todos sabem, se cercou de pessoas pouco competentes, O governo investiu em si mesmo se agigantando. Não privatizou coisas que poderiam ser privatizadas. Inventou coisas desnecessárias como o programa "Minha casa minha vida", clientelista e para a pequena classe média etc. (ouvi falar de um político que comprou 100 casas para alugar no futuro). E o Lula tornou a dívida externa interna, o que a aumentou ainda mais e apenas pareceu resolver o problema. E ainda se deixou de fazer o mais essencial, cuidar da educação básica, da saúde pública, da segurança, coisas que são obrigação do governo mais libertarista que você imaginar, isso em mais de 12 anos de um governo dito social-democrático. E o Lula só tem um discurso: acabar com a fome e a miséria... Esqueceram da indústria, que é o motor de tudo isso, e tinham pouca consciência do fato de que a economia globalizada está em constante competição. Se a coisa continuar nessa direção esse país terminará na rabeira da história. Ou seja: o problema não é corrupção não, mas INCOMPETÊNCIA pura e simplesmente. Seria o caso de impeachment? Pela lei não, mas deveria haver uma lei que demandasse impeachment a qualquer governo federal ou estadual ou municipal que chegasse a menos de 10% de aprovação.
Se pensarmos assim e houver um impeachment isso pode querer dizer que foi algo meio esquivo judicialmente, mas que pode ser bom para o país em termos factuais, pois possibilitará uma nova eleição, quem sabe daí surgindo uma liderança mais competente, espero que não pior.
Isso tudo o que disse é meramente factual e nada tem de filosófico. Mas faz com que eu me pergunte se a ideologia falsa não pode por vezes ter um papel positivo. Seria os EUA o que é o que se tornou, um país com incomparável desenvolvimento tecnológico, se não tivesse acontecido o que Chris Hedges notou, a invenção durante a Primeira Guerra de uma máquina de propaganda que atoleimou o povo? A mentira vital, ou seja, voltando a Dostoiewsky e ao grande inquisidor, algo necessário para que o sistema funcione? Nesse caso Chomsky pode estar falando a verdade, mas não é da verdade que as pessoas precisam. Trazendo isso para o caso do Brasil, o esgotamento do PT não está sendo combatido com a verdade, ou seja, observações sobre uma condução incompetente da economia e da política (sem dúvida nos últimos anos), mas com a mentira vital, ou seja, a desculpa da luta contra corrupção e coisas do gênero, na verdade simples desculpas e algo que de alguma forma, talvez inconscientemente, os políticos sabem que são simples desculpas, mas que no final das contas podem fazer as coisas darem certo. Pois se a economia não dá certo nada mais dá certo e algumas pessoas sabem disso, sabendo que não se faz política sem se sujar as mãos. Não digo que não foi bom. Mas parece que acabou. É o zig-zag da política. E o resto é ingenuidade.
MUDEI MAIS AINDA DE OPINIÃO
Tenho a impressão que o Brasil não tem desenvolvimento ético-social nem econômico, nem a espécie de homogeneidade cultural que suportaria uma social-democracia do tipo escandinavo, que me parece o ideal. Não dá para saltar etapas. Também nada temos do altruísmo social da cultura oriental, coisas como a Coréia do Sul, que depois de uma guerra que tornou o país miserável teve condições de se desenvolver com um governo autoritário, voltando o estado para o desenvolvimento industrial sem bloquear a iniciativa privada. A classe política aqui é em geral uma tristeza para qualquer lado que se olhe. O país é viciado em estado desde o tempo colonial. Sabemos que Pedro II, um monarca responsável, percorria o país em lépido sua carruagem na ânsia de resolver os problemas e a segunda metade do século XIX que, segundo consta, foi de grande desenvolvimento. Em nosso tempo tentou-se primeiro o capitalismo de estado de direita, teve o primeiro milagre econômico que desandou em estagnação. Tentou-se então o capitalismo de estado de esquerda, deu certo por algum tempo, parecia mais um milagre que hoje parece estar pondo a pique o país inteiro para além da fossa das Marianas. Estamos sempre a espera de um milagre no país da ilusão. Por que não tentar o que nunca existiu por aí? Capitalismo? Esperar que o progresso venha pelo livre mercado, pela livre concorrência produtora de valor. Vender a Petrobrás, o Banco do Brasil, Correios, as estradas e essa coisarada toda. Pois o que importa não é quem comanda, que pode precisar de psicólogo ou ter um enfarto, nem os acionistas - que ninguém sabe quem são - mas quem lá trabalha. Pois como empreendedor o governo é um mau gestor porque não tem concorrentes, uma vez que basta imprimir dinheiro para não ir à falência, faz dívidas e se transforma em um explorador do patrimônio público e do cidadão. Assim, um governo mínimo mas suficiente, desburocratizado, cuidando da proteção do cidadão, da educação, saúde, incluindo mesmo um salário desemprego seria a terceira alternativa. Poderia com isso se resolver o problema endêmico da corrupção, que é sobretudo gerada no ventre desse mastodonte incompetente chamado governo. Eis porque vejo no Partido Novo a proposta mais razoável. Se o país já é um Mohagony, é melhor que seja como Hong-Kong. Mas pode ser que tudo isso seja outa história com a nova crise econômica mundial que parece estar vindo por aí.
PS: Agora leio Veja outra vez e os informes da PRAGER UNIVERSITY de Dennis Prager, um republicano..Me candidato a ser a pessoa que mais rapidamente muda de opinião em política.
MUDEI MAIS AINDA DE OPINIÃO
Tenho a impressão que o Brasil não tem desenvolvimento ético-social nem econômico, nem a espécie de homogeneidade cultural que suportaria uma social-democracia do tipo escandinavo, que me parece o ideal. Não dá para saltar etapas. Também nada temos do altruísmo social da cultura oriental, coisas como a Coréia do Sul, que depois de uma guerra que tornou o país miserável teve condições de se desenvolver com um governo autoritário, voltando o estado para o desenvolvimento industrial sem bloquear a iniciativa privada. A classe política aqui é em geral uma tristeza para qualquer lado que se olhe. O país é viciado em estado desde o tempo colonial. Sabemos que Pedro II, um monarca responsável, percorria o país em lépido sua carruagem na ânsia de resolver os problemas e a segunda metade do século XIX que, segundo consta, foi de grande desenvolvimento. Em nosso tempo tentou-se primeiro o capitalismo de estado de direita, teve o primeiro milagre econômico que desandou em estagnação. Tentou-se então o capitalismo de estado de esquerda, deu certo por algum tempo, parecia mais um milagre que hoje parece estar pondo a pique o país inteiro para além da fossa das Marianas. Estamos sempre a espera de um milagre no país da ilusão. Por que não tentar o que nunca existiu por aí? Capitalismo? Esperar que o progresso venha pelo livre mercado, pela livre concorrência produtora de valor. Vender a Petrobrás, o Banco do Brasil, Correios, as estradas e essa coisarada toda. Pois o que importa não é quem comanda, que pode precisar de psicólogo ou ter um enfarto, nem os acionistas - que ninguém sabe quem são - mas quem lá trabalha. Pois como empreendedor o governo é um mau gestor porque não tem concorrentes, uma vez que basta imprimir dinheiro para não ir à falência, faz dívidas e se transforma em um explorador do patrimônio público e do cidadão. Assim, um governo mínimo mas suficiente, desburocratizado, cuidando da proteção do cidadão, da educação, saúde, incluindo mesmo um salário desemprego seria a terceira alternativa. Poderia com isso se resolver o problema endêmico da corrupção, que é sobretudo gerada no ventre desse mastodonte incompetente chamado governo. Eis porque vejo no Partido Novo a proposta mais razoável. Se o país já é um Mohagony, é melhor que seja como Hong-Kong. Mas pode ser que tudo isso seja outa história com a nova crise econômica mundial que parece estar vindo por aí.
PS: Agora leio Veja outra vez e os informes da PRAGER UNIVERSITY de Dennis Prager, um republicano..Me candidato a ser a pessoa que mais rapidamente muda de opinião em política.
2017 (diferente de tudo o que escrevi acima):
PORQUE SOMOS TÃO POBRES
Lamento, mas após ler um pouco de economia
política cheguei à conclusão de que o Brasil não tem desenvolvimento
ético-social nem cultural nem econômico para uma social-democracia liberal do tipo
escandinavo. É necessário lembrar que essa social-democracia é um subproduto do
capitalismo de livre mercado defendido por Adam Smith e depende do último. Eles
primeiro ficaram ricos, depois instituíram social-democracia, depois esqueceram
disso e começam a se ver em dificuldades. Além disso, essa mesma social-democracia
só funcionou devido à grande homogeneidade cultural e a valores culturais que ainda
são insipientes em um país como o Brasil. Valores civis importam. A sociedade
civil no Brasil é minoria. A coisa é cultural. Nenhum país de cultura islâmica,
por exemplo, conseguiu sequer democracia – quem dirá social-democracia. Não dá
para queimar etapas. E a social-democracia seria disfuncional se tentada nos
EUA, como a recente história tem mostrado.
Também nada temos do altruísmo social da
cultura oriental, coisas como a Coréia do Sul, que depois de ter sido completamente
devastada pela guerra teve condições de se desenvolver, com um governo
inicialmente autoritário, voltando o estado para o desenvolvimento industrial
sem esmagar a economia privada como o nosso inepto governo tem feito. O que
aconteceu por lá foi um milagre com apoio Americano.
Para
dar exemplos, ouvi dizer que em 2015 uma bicicleta de dois mil reais era taxada
pelo governo brasileiro em mil reais e que empresas brasileiras foram para o
Paraguai para se livrar dos impostos e agora vendem para o Brasil. Exceto as
escolhidas pelo governo, que passava leis que as protegiam.
A classe política Brasileira é em geral – mas
nem sempre – decepcionante, para qualquer lado que se olhe, tanto em termos
éticos quanto em competência. E em termos éticos eles não tem nem sequer tanta
culpa assim, pois vivem no interior de um sistema intrinsecamente perverso.
O país é viciado em estado desde o tempo
colonial. Pessoas inteligentes de classe média buscavam algum cargo como
funcionários públicos. Um exemplo foi Machado de Assis. Mas os tempos mudaram.
Sabemos que Pedro II, um monarca responsável,
percorria o país lépido em sua carruagem na ânsia de resolver os problemas.
Segundo um historiador que li, o Brasil seria hoje um país desenvolvido se
tivesse continuado se desenvolvendo como na segunda metade do século XIX. Não
sei!
Mas era ingenuamente liberal, liberal demais
para a época, errando, criou condições para o golpe militar que instaurou uma
democracia de fachada, sem consulta popular. A herança Varguista - um pouco
como o Peronismo na Argentina - é no mundo atual mais um lastro ultrapassado,
como o Lulopetismo, se é que é possível comparar.
Ora, seguindo a tradição do governo-maternal
em nosso tempo tentou-se primeiro o capitalismo de estado de direita, a chamada
ditadura militar, que teve o primeiro esperado milagre econômico que acabou
abrigando corrupção e desandando em estagnação.
Tentou-se então o capitalismo de estado de
esquerda, inspirado em um pouco de Gramscismo e Marxismo-Leninismo infantil. Ajudou
um pouco pro questão de sorte, em grande parte devido à conjuntura
internacional favorável (que fez outros países da América Latina se
desenvolvessem mais do que o Brasil) e à estabilidade financeira conseguida
pelo governo anterior e a alguma ousadia. Parecia outra vez que lá vinha o
milagre, mas que hoje está quase ponto a pique o país inteiro mais fundo do que
a fossa das Marianas.
O Brasil não tem sido o país do futuro, mas o país
da ilusão. Como alguém disse: o país que não cuida da educação do povo não sabe
o preço que isso pode custar. A esquerda cuidou da educação universitária, como
se isso fosse promover um milagre, talvez por aumentar votos pelo auxílio de
professores influentes. Mas esqueceu-se do essencial, a educação básica, na qual
o aluno aprende a aprender – afinal crianças não dão votos. O resultado foi
mais de trinta por cento de analfabetos funcionais nas universidade federais.
Daí surge a pergunta: por que não tentar o que
nunca existiu por aqui? Capitalismo de verdade? Honesto, sem monopólios,
desburocratizado? Esperar que o progresso venha principalmente do livre
mercado, do que Adam Smith chamava de “a mão invisível” da livre concorrência
produtora de valor, que premia o bom empreendedor e leva a falência o mau, e que
se bem conduzida por um pequeno governo não lhes cobre taxas sufocantes e que
impeça monopólios, produzindo através dessa competição progresso e um aumento
geral da riqueza. A Microsoft é resultado disso, tanto quanto o McDonalds.
Cobrar menos impostos, diminuir a burocracia,
fazer as reformas necessárias, vender a Petrobrás, o Banco do Brasil, os
Correios, aeroportos, estradas, essa coisa toda! Quanto à universidade pública,
onde trabalho, vamos com mais calma. Sugiro que alunos sem condições de pagar
não paguem. Que alguns recebam bolsas. Quanto aos que tem condições, que
paguem. E quanto ao número de alunos, este poderia ser reduzido pela metade sem
perda alguma.
Note que não estou pensando em Estado Mínimo
como nos EUA. Lá há riqueza, mas o nível de stress também é grande e muitos não
conseguem resistir à pressão competitiva. Países como Brasil e França tem
cultura própria e o tamanho do livre mercado pode ser calibrado de acordo com
demandas culturais específicas. O que não funciona é o mega-estado que cuida de
tudo menso do principal e que inoperante esmaga a economia produtiva, como
ocorreu por aqui.
O
caso dos EUA serve de exemplo. O país começou com socialismo: um por todos e
todos por um, terras divididas. Não deu certo porque os que trabalhavam,
sabendo que ganhariam a mesma coisa deixaram de trabalhar e o resultado foi um
fracasso. Depois, na primeira metade do século XIX o governo tentou intervir
com veleiros, viagens internacionais, código morse, por ele monopolizadas. Resultado:
prejuízo. Afinal, o governo não tem competidores. Então descobriram a pólvora. O
governo ficaria apenas com os serviços essenciais, como segurança, educação
básica, defesa. Na segunda metade do século XIX o governo cobrava apenas 3 a 5
% de impostos (ao invés dos nossos de mais de 40%. O resultado foi um florescimentos
explosivo da iniciativa privada (Friedman). As ferrovias tinham uma diversidade
de donos que competiam entre si baixando os preços. E essa é a razão pela qual
os EUA é um país rico enquanto o Brasil é um país pobre. Nós nunca descobrimos
o que é capitalismo. Nós apenas recorremos a ele, um pouco envergonhados.
Enfim, continuar acreditando no
patrimonialismo anti-meritocrático, entre nós um fetichismo ingênuo, tolo e verificado
como destrutivo e perverso em todos os exemplos históricos. É como dizer que a
Amazônia é nossa. Mesmo que a internet produza mecanismos de transparência absolutos,
a falta de competição não diz às empresas estatais como melhorar de verdade.
Produzem-se melhoras de faz-de-conta ou incompetentes, como a biblioteca
virtual do CNPq, na qual não encontrei sequer a Philosophical Review, que é vista como a melhor revista filosófica
do mundo.
Além disso não tem nenhuma importância quem é
o pobre do empresário – que se arrisca a enfartar – nem os acionistas – que
ninguém sabe quem são – mas quem trabalha nessas empresas. Assim, uma
multinacional é bem-vinda, pois produz empregos e dá as pessoas condições de
ascender.
Depois,
como empreendedor o governo é um péssimo gestor do ponto de vista econômico
porque – como Mises e Hayeck notaram – não é capaz de saber o que é do
interesse de cada um dos agentes econômicos e por conseguinte age como um
investidor míope. Os descalabros da economia soviética foram provas cabais
disso. Da Venezuela à Cuba, da URSS à Coréia do Norte e ao Laos, temos visto
provas de que o governo dirigista pode ser bem pior do que míope: pode se
tornar genocida.
Afora isso ele não é controlado nem tem
concorrentes, uma vez que basta imprimir dinheiro para não ir à falência, se
atola e nos atola em dívidas de forma irresponsável e ainda, como vimos,
explora essas empresas estatais em detrimento do cidadão pagador de imposto. A
burocracia estatal se deixada livre cresce como um câncer e a corrupção se
segue como consequência natural.
Assim,
um governo mínimo mas suficiente, adaptado à cultura do país, cuidando da segurança,
da escolaridade e educação, mesmo em nível superior, saúde, incluindo um
salário desemprego e nada mais, me parece a alternativa realista em termos da
mentalidade brasileira – um país em que se plantando tudo dá.
Poderia com um pouco disso até se resolver o
problema endêmico da corrupção, que é sobretudo gerada no ventre desse
mastodonte inepto, perdulário e promíscuo chamado governo.
Eis porque vejo em algo como, digamos, o pequeno
Partido Novo uma proposta razoável. Eles perceberam o ponto crucial. Se somos por
natureza uma Mohagoni, que seja mais do tipo Hong-Kong, que pela sábia
orientação inglesa se tornou um dos lugares mais ricos do mundo, décimo segundo
em IDH, acima da Inglaterra, da França e da Alemanha.
Cheguei a essa conclusão ao tentar entender a
crise de 2015 e diante dos escândalos que vieram à tona. Fui ler um pouco de economistas
como Friedman, Hayeck e von Mises e percebi os riscos do Keynesianismo. Marx é
um clássico, mas não era um economista profissional e em seus devaneios em
muitos pontos trocou os pés pelas mãos. Por exemplo, Mises notou que não é o
trabalho que produz valor, desfazendo a ideia de mais-valia. O que produz valor
é aquilo que o consumidor está disposto a pagar. Uma pessoa pode passar anos
construindo uma máquina, devotando para isso um imenso trabalho, mas pode ser
que ninguém veja nessa máquina utilidade alguma, e portanto essa máquina não
tem valor. Outra coisa que Mises notou é que as terríveis condições dos
trabalhadores no início da revolução industrial não eram tão terríveis como
Marx descreve. A vida no campo era segundo Mises ainda pior. E Friedman notou
que um operário tinha uma vida melhor do que um soldado romano. Mais ainda, as
condições miseráveis do trabalhador durante a revolução industrial começaram a
melhorar para o final o século XIX, razão pela qual se deixou de acreditar em uma
revolução Marxista na Inglaterra, contrariamente ao que previra Marx. Lênin
inventou então a falácia do Marxismo-Leninismo.
Política é o domínio do provável, mas imprevisível.
Pode ser que amanhã tudo se torne diferente. Não creio, pois estou falando de
uma realidade que se formos ver com cuidado já existe há mil anos.
A UNIVERSIDADE E O POPULISMO DE ESQUERDA (2018)
Meu pai passou a vida lendo jornais, hábito que eu pessoalmente sempre menosprezei. Em 2006 eu o visitei em Nova Veneza. Ele, aos 76 anos, estava com uma porção de jornais nas mãos. Me disse que a oposição (o PT) nunca esteve no poder e agora estava "indo com toda a sede ao pote". Ou seja: roubando como nunca. Eu, desinformado, acreditava no PT e achei que ele estava errado. Depois de 2015 fiquei impressionado com a crise política e econômica e as travas começaram a me cair dos olhos. Acabei percebendo que a cúpula do partido era formada de dois tipos: populistas sem excrúpulos e os idiotas da esquerda radical. O mais importante era o poder e a incompetência e corrupção grassavam. Não queriam a democracia, os primeiros por oportunismo, os segundos por não acreditarem nela. Tiveram a sorte de pegar um momento em que a conjuntura internacional estava extremamente propícia para o Brasil. Com o PT na frente, a direção e o destino do país seriam o da Venezuela. Acabaríamos nas mãos de ditadores populistas sem excrúpulos pelo simples fato de que em um ambiente não-democrático isso é inevitável: populistas sem excrúpulos tomam facilmente o lugar dos idealistas ingênuos ou dos idiotas úteis. Foi assim na URSS com Stalin. No caso do PT, basta checar as reuniões do Forum de São Paulo, lideradas por Lula, no início da década de 90. Eles terminavam cantando o hino da Internacional Comunista. O plano do Forum era tornar a América Latina socialista, mas se não desse (e por razões econômicas é certo que não daria), comunista como Cuba, que vista sem ilusões não passa de um país de escravos, dominado por ditadores e seus capatazes: os membros do partido.
A UNIVERSIDADE E O POPULISMO DE ESQUERDA (2018)
Meu pai passou a vida lendo jornais, hábito que eu pessoalmente sempre menosprezei. Em 2006 eu o visitei em Nova Veneza. Ele, aos 76 anos, estava com uma porção de jornais nas mãos. Me disse que a oposição (o PT) nunca esteve no poder e agora estava "indo com toda a sede ao pote". Ou seja: roubando como nunca. Eu, desinformado, acreditava no PT e achei que ele estava errado. Depois de 2015 fiquei impressionado com a crise política e econômica e as travas começaram a me cair dos olhos. Acabei percebendo que a cúpula do partido era formada de dois tipos: populistas sem excrúpulos e os idiotas da esquerda radical. O mais importante era o poder e a incompetência e corrupção grassavam. Não queriam a democracia, os primeiros por oportunismo, os segundos por não acreditarem nela. Tiveram a sorte de pegar um momento em que a conjuntura internacional estava extremamente propícia para o Brasil. Com o PT na frente, a direção e o destino do país seriam o da Venezuela. Acabaríamos nas mãos de ditadores populistas sem excrúpulos pelo simples fato de que em um ambiente não-democrático isso é inevitável: populistas sem excrúpulos tomam facilmente o lugar dos idealistas ingênuos ou dos idiotas úteis. Foi assim na URSS com Stalin. No caso do PT, basta checar as reuniões do Forum de São Paulo, lideradas por Lula, no início da década de 90. Eles terminavam cantando o hino da Internacional Comunista. O plano do Forum era tornar a América Latina socialista, mas se não desse (e por razões econômicas é certo que não daria), comunista como Cuba, que vista sem ilusões não passa de um país de escravos, dominado por ditadores e seus capatazes: os membros do partido.
Quanto às universidades, para mim é claro. Pelo menos em parte, havia um objetivo estratégico-eleitoreiro. Comprar a consciência dos professores (mesmo que de maneira subliminar), pois eles são capazes de influenciar alunos, aumentando o número de votos a favor do partido. Quanto aos estudantes de primeiro e segundo grau, azar o deles, não dão votos, e quanto mais intelectualmente incapazes forem, mais fácil será adestrá-los ideologicamente. Fizeram então jorrar dinheiro para as universidades. Deu certo. Por isso, quem primeiro percebeu a verdade acabou sendo o próprio povo, enquanto os professores, vivendo em um meio elitista e alienado, estão comendo o capim petista até hoje. É decepcionante ver pessoas das quais se espera terem algum discernimento fechando os olhos para o óbvio,
Quanto a mim, tenho como ideal a social-democracia como ainda existe em países como a Finlândia. Mas o PT não teve nada de social-democracia. No poder ele se demonstrou uma mistura de demagogia populista e esquerda radical da idade da pedra.
.
UMA REVOLUÇÃO POLÍTICO-DIGITAL
Há várias maneiras pelas quais a democracia é restringida e distorcida.
Uma delas é pela ignorância. O voto comprado e mesmo o voto à cabresto sempre
foram comuns no interior do Brasil. O primeiro se baseava na ignorância e em
limitações da moralidade e do costume, o segundo se baseava na lei do mais
forte. Mas há uma outra razão, mais forte, da restrição e distorção da democracia:
os meios de comunicação. Isso é sabido de todos. Os nazistas se alçaram ao poder
por essa maneira, apoiados pelos magnatas da indústria que temiam o comunismo e
que depois não o conseguiram controlar. Os meios de comunicação servem aos
interesses daqueles que os possuem. Um jornalista não deve discordar da
orientação política dos donos do meio de comunicação, sob o risco de perder o
emprego. Assim, a democracia, tanto no Brasil quanto em quase todo lugar sempre
foi restringida ou distorcida, no mais das vezes de maneira subliminar. As
notícias são filtradas e distorcidas de maneira a satisfazer os interesses de políticos
e donos do poder. A política sempre jogou com estratégias que tinham por
finalidade, em maior ou menor medida, usar a pretensa democracia para iludir as
pessoas. A vocação para o blefe se encontrava como que estampada no rosto e nas
atitudes da maioria dos políticos. Era parte do jogo. Quem enganasse de maneira
mais eficaz ganharia os louros da vitória. Daí a importância da habilidade de discursar
e convencer as massas da retidão de uma ou de outra ideologia, fosse de direita
como no peronismo argentino, fosse de esquerda como no petismo brasileiro. Na
eleição de Lula para a presidência em 2002, a habilidade dos marqueteiros foi
crucial. Eles liam a mente do povo e orientavam os políticos a vender uma ideologia
de compreensão fácil – redistribuição da riqueza como uma maneira de produzir
justiça social dentro das regras do estado de direito. Por trás dos panos a estória
era outra. Um comentarista político, Olavo de Carvalho, notou que se a história
do Foro de São Paulo tivesse sido exposta pelos meios de comunicação Lula não
teria ganho as eleições. O Foro de São Paulo, para quem não sabe, constituía-se
de uma reunião anual de representantes da esquerda latino-americana existente
desde 1990 com o objetivo de a longo prazo implantar o socialismo na América Latina.
O Foro recebia auxílio da FARC, uma organização guerrilheira ligada ao narcotráfico
e apoiava a ditadura cubana. Terminavam a reunião cantando a internacional
socialista. O problema é que Lula estava comprometido com o projeto socialista
democrático apenas na aparência. Socialismo, de diz, há de dois tipos: o socialismo
vegetariano e o carnívoro. O socialismo vegetariano é a social-democracia encontrada
em países como a Finlândia. O socialismo vegetariano é um subproduto do capitalismo
avançado e da educação e cultura de um povo. Ele deve respeitar a democracia e
a propriedade privada e funcionou bem nos países nórdicos. O socialismo carnívoro
objetiva a abolição do capitalismo e da sociedade privada e, na forma de
marxismo-leninismo, resulta no que foi chamado de capitalismo de estado, que do
ponto de vista econômico, tendo abolido a lei da oferta e procura, produz uma
população de escravos pobres trabalhando para uma elite totalitária. Essa espécie
de socialismo nunca deu certo em lugar algum: União Soviética, a China de Mao,
o Kmehr Vermelho, a Coréia do Norte, Cuba e Venezuela são alguns tristes
exemplos, e economistas da escola austríaca demonstraram já há muito tempo a sua
inviabilidade. Mas os principais membros do PT – gente como Dilma e José Dirceu
– haviam sido treinados em Cuba. Tratava-se, pois, de socialismo carnívoro
travestido de socialismo vegetariano com o fito de ganhar as eleições. Tanto
pela ideologia quanto pela lógica da economia do capitalismo de estado em um
país economicamente e culturalmente subdesenvolvido o caminho natural seria em
direção ao totalitarismo como meio de se eternizar no poder, o que obrigava a
paulatina destruição do estado democrático de direito, que deveria ser desfeito
de várias maneiras, desde a censura à imprensa até a compra de políticos no
Mensalão e ao aparelhamento do judiciário e do comando militar. Conseguiu-se
isso na Venezuela, como todos sabemos, pelo fato de que foram os próprios
militares que tomaram o poder em nome da esquerda carnívora. No Brasil a crise
econômica chegou antes.
Ao dar esse exemplo não estou defendendo
a direita não-radical, como talvez pareça. Pouco tenho de conservador. Sou,
pelo menos em matéria de princípio, um social-democrata, acho a concorrência
capitalista um mal necessário, mas que se me afigura como perverso (onde Marx está
certo até hoje), e acredito que um dos papéis do estado está na redistribuição
de renda. Mas o pano de fundo que foi escondido do povo era outro. Nele se
encontravam marxistas-leninistas com ideologias ultrapassadas junto com
arrivistas sem escrúpulos cuja verdadeira ambição era a de ganhar poder e
dinheiro a qualquer preço. Os últimos, mais inteligentes, deveriam liderar e,
para garantir o seu poder e o seu dinheiro, conduzir o país aos poucos a uma
ditadura como a de Cuba e agora da Venezuela.
Mas o que disse acima foi
somente a título de exemplo, para mostrar como a democracia pode ser subvertida
pela propaganda política e pelos meios de comunicação, coisa que não é fenômeno
restrito à esquerda, mas se estende também à direita, vide a ascendência do
Nazismo na Alemanha em 1933.
O fenômeno que quero apontar é
outro. Trata-se do fenômeno que vimos em parte acontecer com a inesperada
eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e com a ainda mais inesperada
eleição de Bolsonaro no Brasil. Trata-se de uma mudança no paradigma político.
Bolsonaro ganhou uma eleição sem recorrer a marqueteiros, sem debates na
televisão, sem sequer ser um grande orador, apenas dizendo a verdade ou pelo
menos o que ele acreditava que fosse a verdade, ou seja, sendo honesto.
Chegamos agora ao ponto que quero considerar. Nada disso seria possível sem a
internet. O que elegeu Bolsonaro foram as redes sociais, o Youtube e coisas do
gênero. Antes mesmo das eleições os melhores jornalistas já haviam emigrado para
o Youtube, onde podiam opinar sem serem obrigados a estarem em sintonia com os
interesses financeiros ou ideologias de seus patrões. E também o papel de
jovens inteligentes, como o pessoal do Brasil Paralelo. O Youtube esclareceu
aqueles que tinham algum conhecimento, e esse conhecimento se replicou de modo
que um número cada vez maior de pessoas acabaram por se convencer. Claro que
não foi só isso. A liberação dada pela presidente Dilma à polícia federal para
investigar a corrupção, que era esperada como se restringindo a casos externos,
saiu do controle e acabou resultando em um tiro no próprio pé, revelando
escândalos após escândalos, da exploração das estatais até os empréstimos do
BNDS, expostos pela grande mídia que o PT pretendia silenciar. Isso, adicionado
à crise financeira – o fator indispensável – causada por incompetência
econômica, corrupção e hiperdimensionamento do estado, que destruiu o espírito
animal dos empreendedores, acabou por produzir uma silenciosa revolta da
maioria da população contra os políticos, principalmente contra a esquerda. Mas
notem que só essa revolta não teria sido suficiente. Se não existisse a mídia
digital quem tomaria o poder seriam os velhos políticos, como Geraldo Alckmin, que
haviam sido abalroados pelo PT, e Bolsonaro não teria tido a menor chance. Um
fator suplementar que deve ter contribuído no Brasil é a nossa chamada cultura
oral. O Brasil é um país no qual todos falam de tudo o tempo todo. Não se
escreve nem se lê muito, mas fala-se. Falar diante de um whatsapp se tornou um
estilo de vida. As ondas de informação circulam, verdades e falsidades, revelações
contundentes e fake-news escabrosas, mas basta um mínimo de bom senso para,
tendo ouvido ambos os lados, a pessoa instintivamente perceba quem está dizendo
a verdade.
Acho que é assim, pois, como disse
Heráclito, a razão é comum a todos. Conversei com um taxista e com um marceneiro
que sabiam claramente o que estava acontecendo. Gente da pequena classe média
que vive o dia-a-dia. O mesmo eu não vi acontecer com pessoas de classe média, que
tinham acesso à mídia, que passou a perseguir Bolsonaro por medo de perder o
dinheiro destinado à propaganda e a calar a boca dos mais afoitos, uma vez que para
dizer a verdade não era mais preciso comprar a mídia tradicional. Aqui as
opiniões se dividiam. Alguns acreditavam na mídia tradicional, outros percebiam
o contraste e se revoltavam contra ela. A grande mídia tem aprendido lentamente
a lidar com o inevitável. Começou com fake-news durante a campanha. Agora usa
de omissão. Por exemplo: ao invés de dizer que o acordo Mercosul-Europa foi
barrado pelos governos de esquerda, diz que ele levou vinte anos para
acontecer, um acordo que irá proporcionar aos cofres públicos mais de 200
bilhões por ano e que se deve à Bolsonaro e a sua equipe escolhida em termos da
competência. Se esses acontecimentos não são revolucionários então eu não sei o
que essa palavra significa.
Há, finalmente, o caso mais
triste, o dos professores universitários. O plano do PT era fazer jorrar
dinheiro para as universidades, esquecendo dos cursos básicos: 70% para as
universidades e 30% para os cursos básicos, quando a proporção deveria ser a
inversa. Poderia haver um elemento de ingenuidade nisso. Mas o mais provável é
que tenha havido o objetivo de comprar subliminarmente a consciência política
dos professores. Afinal, professor universitário tem influência formadora nos
alunos e os alunos podem votar. Já crinça não vota, e quanto mais alienada for melhor. A ideologia marxista-leninista é sedutora e de
fácil assimilação. Professores universitários não são conhecedores profundos de
política, principalmente dos bastidores da política a ponto de perceberem o que
há de errado, muito menos os seus inexperientes alunos. O resultado é que a
universidade se transformou em um reduto do atraso político e de uma inabalável
cegueira com relação à revolução no modo de se fazer política que está em
curso.
Sou otimista em crer que a
universidade irá aprender, assim como a própria grande mídia, pois estou convencido
de que a democracia está ganhando uma transparência sem precedentes, algo que
nunca teve antes, um relacionamento verdadeiro e sem intermediários entre o
político e o cidadão, e que esse país terá tudo a ganhar com o processo. Não sou
contra a direita nem contra a esquerda, conquanto não sejam radicais. A esquerda
se apequenou a ponto de se tornar balbuciante. Tudo o que conseguem fazer é
repetir o mantra do “racista-fascista-golpista-misógeno-homofóbico”, o que entre
o exagerado e o falso é muito pouco para um programa político. A existência do
zig-zag político que há tanto tempo tem funcionado nos Estados Unidos, entre situação
e oposição, é algo esperado e saudável dentro do processo democrático. Mas nesse
zig-zag o momento atual é o da direita liberal, democrática e tolerante, necessária
para contrabalançar os excessos contraproducentes de uma esquerda carnívora que
só conseguiu cumprir parte de seu, no final das contas, quase maquiavélico projeto.
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