Capítulo do livro Uma introdução contemporânea à filosofia (São Paulo: Martins Fontes 2002) - C.F.Costa
UNIVERSAIS PUROS E SUBSTRATOS NUS:
COMO LIVRAR-SE DELES
COMO LIVRAR-SE DELES
Podemos dizer de muitas folhas que elas são verdes, de muitos seres vivos diversos que eles são seres humanos, de muitas ações que elas são justas, mesmo que elas nos pareçam completamente diferentes umas das outras. Como é possível que coisas por vezes muito diferentes compartilhem da mesma propriedade? O que nos permite aplicar um mesmo predicado a coisas muito diversas, generalizar, descobrir a unidade na multiplicidade, esse pressuposto que é fundamental ao entendimento humano?
Há basicamente duas espécies de resposta a essa questão: o realismo e o nominalismo(1). Em sua versão clássica, o realismo dos universais afirma que podemos distinguir a mesma propriedade ou atributo em muitas coisas diversas, posto que essa propriedade é um universal puro ou abstrato (uma entidade abstrata, a idéia, a forma), o qual é de algum modo compartilhado por todas essas coisas, talvez por serem elas próprias, como pensava Platão, cópias imperfeitas desse universal. Uma vez que esse compartilhamento seja por nós percebido, tornamo-nos capazes de aplicar o predicado às diversas coisas através da referência ou conotação que ele faz do atributo universal. Assim, podemos dizer de muitos seres vivos que eles são humanos porque eles compartilham da propriedade universal de humanidade; podemos dizer de muitas folhas que elas são verdes porque elas compartilham da propriedade universal da “verditude”. Essas propriedades universais são consideradas pelos realistas entidades não-empíricas; elas não estão nem no espaço nem no tempo, mas é pela semelhança que as coisas empíricas guardam com elas que podemos encontrar a unidade na diversidade, dizer o mesmo de muitos, generalizar.
A posição do nominalista é a de que não é necessário recorrer a um universal para justificar o compartilhamento de uma mesma propriedade por coisas diferentes. Na verdade, “compartilhamento de uma mesma propriedade” é apenas uma maneira de falar. Quando dizemos que muitas folhas são verdes, que alguns seres vivos são humanos, que certas ações humanas são justas, o que queremos dizer é que muitas folhas são semelhantes umas às outras pelo fato de serem verdes, que alguns seres vivos são semelhantes uns ao outros em suas propriedades empíricas de humanidade, que certas ações são semelhantes umas às outras por serem justas. Não precisamos, pois, recorrer a um universal como o verde, a humanidade, a justiça, para explicar por que podemos predicar algo único de muitas coisas. Como os filósofos nominalistas desde Guilherme de Occam objetaram, o realista multiplica entidades sem necessidade, produzindo um Doppelgänger de nosso mundo atual; um supérfluo reino de entidades abstratas cuja natureza ninguém jamais conseguiu precisar e cuja existência ninguém pode provar.
1. REALISMO
Antes de examinarmos o nominalismo convém, contudo, considerar os argumentos do filósofo realista mais de perto. Sua posição pode ser precisada da seguinte maneira. Quando aplicamos predicados adjetivais como ‘verde’, ‘justo’, ‘bom’, ‘idêntico a’, ou mesmo quando aplicamos predicados substantivais ou sortais como ‘homem’, ‘árvore’, ‘casa’(2), estamos nos referindo aos objetos empíricos dos quais estamos predicando ser verde, ser homem etc., mas também estamos indicando ou conotando as propriedades ou, para usar o termo preferido, as idéias abstratas do verde em si, do ser humano como tal, da justiça, do bem e da identidade. É porque os objetos referidos compartilham essas idéias, talvez no sentido de serem cópias imperfeitas delas, que podemos aplicar tais predicados a eles. Assim, podemos predicar bondade das pessoas a, b, c... porque sendo boas elas contém cópias do universal, que é a idéia ou forma da bondade. Além do mais, esse universal não é concebido pelo realista como algo pertencente ao nosso mundo empírico, espácio-temporal, seja ele físico ou psicológico, posto que esse mundo se encontra em perpétuo vir-a-ser, sendo formado de entidades ontologicamente instáveis e por isso mesmo epistemologicamente pouco confiáveis. O universal, tal como ele é entendido pelos realistas, não pode ser uma coisa entre as coisas no mundo empírico, mas simplesmente a forma imutável que as coisas desse mundo são capazes de compartilhar.
Há duas espécies básicas de realismo: o platônico e o aristotélico. A diferença entre eles é que no realismo platônico os universais, as idéias ou formas, existem antes das coisas, a saber, em completa independência das coisas, enquanto no realismo aristotélico as idéias existem nas coisas; ou seja, para existirem, os universais precisam estar sendo atualizados em coisas que os exemplifiquem. Uma implicação disso é que para o realista platônico, mesmo no caso em que o mundo empírico nunca tivesse existido, as idéias ou formas continuariam a existir; mas para o realista aristotélico, no caso em que o mundo empírico nunca tivesse existido, elas também não poderiam existir. O realismo platônico é mais coerente que o aristotélico, pois explica a unidade que encontramos na diversidade das coisas com base em universais ontologicamente anteriores a elas; o realismo aristotélico, ao contrário, torna os universais ontologicamente dependentes das coisas, perdendo coerência ao tentar colocar a carroça empírica na frente dos bois ontológicos(3).
O universo de entidades abstratas postulado pelos realistas pode ser mais ou menos populado. Cônscios de que parece haver algo estranho com as entidades cuja existência propõem, filósofos realistas tentaram diminuir ao máximo a densidade demográfica de seu universo. O próprio Platão questionava se devemos admitir que idéias como a de cabelo ou escremento seriam dignas de pertencer ao mundo das idéias, ao qual ele admitia pertencerem as idéias mais elevadas de justiça, do bem, do belo, da verdade. Realistas contemporâneos tentaram reduzir o número de universais ao mínimo ao definir uns predicados por intermédio de outros, buscando chegar assim a predicados indefiníveis, os quais conotariam diretamente os universais. Por exemplo: o predicado ‘triângulo’ pode ser definido como ‘figura formada por retas ligando três pontos não alinhados’. A definição mostra que o universal ‘triângulo’ de fato não existe independentemente, mas pode ser reduzido a uma combinação de outros universais, como o ponto e a reta. Talvez pudéssemos então reduzir os universais a umas poucas entidades. No entanto, semelhantes tentativas de tornar o realismo mais plausível pela diminuição do número de suas entidades postuladas parecem insuficientes por princípio. Pois ou admitimos a existência de universais abstratos ou não; e se admitimos, tanto faz admitir um único como um número infinito deles. Alexander Meinong, o maior multiplicador de universais de que se tem notícia, que admitia que mesmo entidades contraditórias como o quadrado redondo existem (subsistem) no universo platônico, ainda que elas não possam efetivamente existir em nosso mundo empírico, era quanto a isso mais conseqüente.
Por estranho que pareça, o realismo teve enorme influência na história da filosofia e ainda hoje possui defensores talentosos, especialmente entre pessoas com especial aptidão para ciências formais ou com uma certa disposição mística(4). Os argumentos positivos mais reveladores a favor do realismo são talvez os de caráter lingüístico. Um deles é o da assim chamada nominalização ou referência abstrata. Isso é conseguido quando predicados são colocados na posição de sujeito ou objeto da sentença e geralmente antecedidos de um artigo definido, o que parece fazer com que eles realmente se refiram ao universal. Eis alguns exemplos de sentenças contendo predicados nominalizados (que os realistas preferem intitular ‘termos singulares abstratos’), que adapto do livro de M. J. Loux(5):
Há duas espécies básicas de realismo: o platônico e o aristotélico. A diferença entre eles é que no realismo platônico os universais, as idéias ou formas, existem antes das coisas, a saber, em completa independência das coisas, enquanto no realismo aristotélico as idéias existem nas coisas; ou seja, para existirem, os universais precisam estar sendo atualizados em coisas que os exemplifiquem. Uma implicação disso é que para o realista platônico, mesmo no caso em que o mundo empírico nunca tivesse existido, as idéias ou formas continuariam a existir; mas para o realista aristotélico, no caso em que o mundo empírico nunca tivesse existido, elas também não poderiam existir. O realismo platônico é mais coerente que o aristotélico, pois explica a unidade que encontramos na diversidade das coisas com base em universais ontologicamente anteriores a elas; o realismo aristotélico, ao contrário, torna os universais ontologicamente dependentes das coisas, perdendo coerência ao tentar colocar a carroça empírica na frente dos bois ontológicos(3).
O universo de entidades abstratas postulado pelos realistas pode ser mais ou menos populado. Cônscios de que parece haver algo estranho com as entidades cuja existência propõem, filósofos realistas tentaram diminuir ao máximo a densidade demográfica de seu universo. O próprio Platão questionava se devemos admitir que idéias como a de cabelo ou escremento seriam dignas de pertencer ao mundo das idéias, ao qual ele admitia pertencerem as idéias mais elevadas de justiça, do bem, do belo, da verdade. Realistas contemporâneos tentaram reduzir o número de universais ao mínimo ao definir uns predicados por intermédio de outros, buscando chegar assim a predicados indefiníveis, os quais conotariam diretamente os universais. Por exemplo: o predicado ‘triângulo’ pode ser definido como ‘figura formada por retas ligando três pontos não alinhados’. A definição mostra que o universal ‘triângulo’ de fato não existe independentemente, mas pode ser reduzido a uma combinação de outros universais, como o ponto e a reta. Talvez pudéssemos então reduzir os universais a umas poucas entidades. No entanto, semelhantes tentativas de tornar o realismo mais plausível pela diminuição do número de suas entidades postuladas parecem insuficientes por princípio. Pois ou admitimos a existência de universais abstratos ou não; e se admitimos, tanto faz admitir um único como um número infinito deles. Alexander Meinong, o maior multiplicador de universais de que se tem notícia, que admitia que mesmo entidades contraditórias como o quadrado redondo existem (subsistem) no universo platônico, ainda que elas não possam efetivamente existir em nosso mundo empírico, era quanto a isso mais conseqüente.
Por estranho que pareça, o realismo teve enorme influência na história da filosofia e ainda hoje possui defensores talentosos, especialmente entre pessoas com especial aptidão para ciências formais ou com uma certa disposição mística(4). Os argumentos positivos mais reveladores a favor do realismo são talvez os de caráter lingüístico. Um deles é o da assim chamada nominalização ou referência abstrata. Isso é conseguido quando predicados são colocados na posição de sujeito ou objeto da sentença e geralmente antecedidos de um artigo definido, o que parece fazer com que eles realmente se refiram ao universal. Eis alguns exemplos de sentenças contendo predicados nominalizados (que os realistas preferem intitular ‘termos singulares abstratos’), que adapto do livro de M. J. Loux(5):
(i) A coragem é uma virtude moral.
(ii) A sabedoria é o objeto da vida filosófica.
(iii) Suzi prefere o vermelho ao azul.
(ii) A sabedoria é o objeto da vida filosófica.
(iii) Suzi prefere o vermelho ao azul.
As nominalizações ‘a coragem’, ‘a sabedoria’, ‘o vermelho’, ‘o azul’ parecem aqui nomear as respectivas idéias universais.
Além disso, há sentenças que apesar de não incorporarem tais nominalizações de predicados, parecem afirmar alguma coisa acerca de propriedades ou atributos universais. Eis alguns outros exemplos, também adaptados do texto de Loux:
Além disso, há sentenças que apesar de não incorporarem tais nominalizações de predicados, parecem afirmar alguma coisa acerca de propriedades ou atributos universais. Eis alguns outros exemplos, também adaptados do texto de Loux:
(iv) Aquele tomate e aquele extintor de incêndio têm a mesma cor.
(v) Essa cor foi exemplificada muitas vezes.
(vi) Algumas espécies são férteis ao se cruzarem.
(vii) Há relações não descobertas ligando as partículas físicas entre si.
(viii) João tem os mesmos traços de caráter que Maria.
(v) Essa cor foi exemplificada muitas vezes.
(vi) Algumas espécies são férteis ao se cruzarem.
(vii) Há relações não descobertas ligando as partículas físicas entre si.
(viii) João tem os mesmos traços de caráter que Maria.
Parece, pois, que sentenças como essas são afirmações acerca de universais como a cor vermelha, uma certa cor, espécies, relações não conhecidas e traços de caráter, e parece mesmo que tais sentenças só podem ser verdadeiras porque esses universais existem. São exemplos como esses suficientes para assegurar o realismo? Para Loux a resposta é sim. No que se segue quero mostrar que nenhum desses exemplos é convincente.
A reação tradicional do crítico do realismo a exemplos como os mencionados é considerar que a forma gramatical de nossas sentenças encobre o que é realmente considerado através delas, a sua verdadeira estrutura lógica, e que quando analisamos o que realmente queremos dizer com as sentenças acima, torna-se claro que o que está envolvido são apenas predicações relativas a entidades empíricas(6). Sob essa perspectiva, eis o que as primeiras três sentenças mais aproximadamente querem dizer:
A reação tradicional do crítico do realismo a exemplos como os mencionados é considerar que a forma gramatical de nossas sentenças encobre o que é realmente considerado através delas, a sua verdadeira estrutura lógica, e que quando analisamos o que realmente queremos dizer com as sentenças acima, torna-se claro que o que está envolvido são apenas predicações relativas a entidades empíricas(6). Sob essa perspectiva, eis o que as primeiras três sentenças mais aproximadamente querem dizer:
(i) Tudo o que é corajoso possui ao menos uma virtude moral (ou: “Para todo x, se x é corajoso, x possui ao menos uma virtude moral”)
(ii) Se alguém estuda filosofia, deve procurar ser sábio (ou: “Para todo x, se x estuda filosofia, x deve procurar ser sábio”)
(iii) Se as outras propriedades das coisas consideradas não tiverem importância na escolha de Suzi, Suzi prefere coisas vermelhas a coisas azuis. (ou: “Para todo x e para todo y, se x e y forem indiferentes em outros aspectos para s, se x é vermelho e y é azul, s prefere x a y”).
(ii) Se alguém estuda filosofia, deve procurar ser sábio (ou: “Para todo x, se x estuda filosofia, x deve procurar ser sábio”)
(iii) Se as outras propriedades das coisas consideradas não tiverem importância na escolha de Suzi, Suzi prefere coisas vermelhas a coisas azuis. (ou: “Para todo x e para todo y, se x e y forem indiferentes em outros aspectos para s, se x é vermelho e y é azul, s prefere x a y”).
Logicamente analisadas, as sentenças evidenciam-se como não fazendo referência a universais, sendo os termos que pareciam referir-se como nomes aos universais – a coragem, a sabedoria, o vermelho, o azul – sido deslocados para uma posição de predicado. Não é difícil seguir uma estratégia semelhante com relação à segunda lista de sentenças:
(iv) Aquele tomate e aquele extintor de incêndio têm cores que são idênticas uma a outra.
(v) Cores similares a cor desse objeto aqui (digamos, um tomate) foram encontradas em muitos outros objetos.
(vi) Existem seres vivos que pertencem a grupos de seres vivos que constituem espécies diferentes, mas que mesmo assim são férteis ao se cruzarem.
(vii) Novas relações entre as partículas físicas poderão vir a ser descobertas.
(viii) Todos os traços de caráter de João e todos os traços de caráter de Maria são similares.
(v) Cores similares a cor desse objeto aqui (digamos, um tomate) foram encontradas em muitos outros objetos.
(vi) Existem seres vivos que pertencem a grupos de seres vivos que constituem espécies diferentes, mas que mesmo assim são férteis ao se cruzarem.
(vii) Novas relações entre as partículas físicas poderão vir a ser descobertas.
(viii) Todos os traços de caráter de João e todos os traços de caráter de Maria são similares.
Em todas essas paráfrases, supostas afirmações acerca de universais – cores, espécies, relações,
traços de caráter – são eliminadas, permanecendo apenas as referências a coisas do mundo empírico: o tomate, o extintor, partículas físicas, João, Maria...
A possibilidade de parafrasearmos todos esses exemplos eliminando referências a universais ou afirmações acerca deles sugere que eles sejam uma ilusão produzida pelo que Wittgenstein chamou de roupagem gramatical de nossas línguas. A linguagem natural abrevia, por razões de economia, as nossas complexas e indiretas referências a particulares, produzindo a ilusão de que por meio dela conotamos, referimos ou fazemos afirmações sobre universais.
Uma objeção aqui feita é a de que pode parecer estranho que as paráfrases precisem ser tão complexas e diversificadas. Mas é lícito argumentar que elas são assim porque traduzem a complexidade e diversidade das estruturas lógico-conceituais que constituem o conteúdo analisado de nossos pensamentos.
Uma outra objeção recorre ao princípio da simplicidade: a estratégia de fazer paráfrases torna as coisas demasiado complexas, sendo mais econômico recorrermos às velhas doutrinas dos universais abstratos. Mas uma coisa é aplicarmos o critério da simplicidade aos princípios de uma teoria, preferindo a teoria que for mais econômica – isso é legítimo. Outra coisa é aplicarmos esse mesmo critério a casos complexos de aplicação de uma teoria, o que deixa de ser legítimo.
A possibilidade de parafrasearmos todos esses exemplos eliminando referências a universais ou afirmações acerca deles sugere que eles sejam uma ilusão produzida pelo que Wittgenstein chamou de roupagem gramatical de nossas línguas. A linguagem natural abrevia, por razões de economia, as nossas complexas e indiretas referências a particulares, produzindo a ilusão de que por meio dela conotamos, referimos ou fazemos afirmações sobre universais.
Uma objeção aqui feita é a de que pode parecer estranho que as paráfrases precisem ser tão complexas e diversificadas. Mas é lícito argumentar que elas são assim porque traduzem a complexidade e diversidade das estruturas lógico-conceituais que constituem o conteúdo analisado de nossos pensamentos.
Uma outra objeção recorre ao princípio da simplicidade: a estratégia de fazer paráfrases torna as coisas demasiado complexas, sendo mais econômico recorrermos às velhas doutrinas dos universais abstratos. Mas uma coisa é aplicarmos o critério da simplicidade aos princípios de uma teoria, preferindo a teoria que for mais econômica – isso é legítimo. Outra coisa é aplicarmos esse mesmo critério a casos complexos de aplicação de uma teoria, o que deixa de ser legítimo.
2. NOMINALISMO E A TEORIA DOS TROPOS
Para o nominalismo só existem particulares. Mas não há consenso acerca de que particulares devem ser aceitos. Uma posição que teve considerável influência foi o que pode ser chamado de nominalismo austero. Segundo essa forma de nominalismo, as únicas coisas que existem são particulares concretos como essa pedra, essa árvore, aquele homem, aquele planeta, para os que favorecem objetos do senso comum, e esse quark, esse muom e aquele gluon para o reducionista cientificista(7). Para o nominalista austero as propriedades ou atributos na verdade não existem: é um traço fundamental dos particulares concretos que eles concordam quanto a certas predicações que atribuímos a eles. E como não existem propriedades, a pedra e a árvore, o muom e o gluon, não podem ser analisados em termos de propriedades reais que eles possuam. O nominalismo austero é uma versão contemporânea e lingüística do nominalismo do filósofo medieval Roscelini, que sustentava que as propriedades universais não são mais que sopros de voz (flatus vocis). Essa é uma posição que exagera na economia a ponto de tornar-se seriamente contra-intuitiva, pois parece claro que propriedades são algo mais do que complementos dispensáveis dos nomes, parecendo também plausível que os particulares concretos podem ser analisados em termos das propriedades constitutivas que eles possuem.
A forma contemporaneamente mais “progressista” de nominalismo, que me parece em princípio capaz de pavimentar o caminho para uma solução mais satisfatória do problema dos universais, é o que poderia ser chamado de nominalismo dos tropos(8). A idéia é a de que por sua própria natureza as propriedades, atributos, qualidades, características, traços etc. são particulares, sendo as propriedades etc. de tal maneira concebidas tecnicamente chamadas de tropos. Os tropos são, pois, as unidades de construção do mundo real. Eles podem ser cores, formas, sons, odores, densidades, estados psicológicos etc. Eles podem ser concebidos como simples ou como entidades analisáveis em termos de outros tropos. O vermelho de um certo tomate, por exemplo, pode ser considerado um tropo; e o vermelho de um certo extintor de incêndio pode ser considerado um outro tropo. Ambos são entidades reais pertencentes ao mundo externo. Quando dizemos que dois objetos, o tomate e o extintor, compartilham da mesma propriedade, essa é apenas uma maneira equívoca de dizer que eles possuem tropos que são similares entre si. Quando dizemos que esses dois objetos possuem a mesma cor, essa também é uma maneira equívoca de dizer que eles possuem tropos de cores que são idênticos, sendo essa uma identidade qualitativa (de uma coisa com outra) e não numérica (de algo consigo mesmo). Essa relação de similaridade entre os tropos é primitiva e não comporta explicação ou análise: é um fato do mundo, ao qual estamos tão acostumados que custamos a perceber. Nosso aparato cognitivo nos torna capazes de identificar tal similaridade e por isso somos capazes de aplicar o mesmo termo geral a dois ou mais tropos e dizer o mesmo de muitos... A idéia de considerar propriedades como particulares (tropos) é, se considerarmos mais atentamente, perfeitamente intuitiva. Elas são os objetos imediatos de nossa atenção perceptual. Elas são também objetos de atenção seletiva: posso focalizar minha atenção no rugido do mar tempestuoso, na forma de suas vagas, em sua cor cinzenta; e quando atento para a sua cor cinzenta não estou pensando na cor cinza em si, mas nesse cinza particular, nesse tropo que estou vendo(9).
A teorização acerca dos tropos pode ser estendida na explicação da natureza dos particulares concretos como pedras, cadeiras, pessoas, planetas... Um objeto físico como o livro que você tem nas mãos nada mais é do que um feixe especialmente organizado de tropos compresentes: tropos de formas, tropos brancos e pretos, tropos de solidez, de flexibilidade etc., que coexistem no tempo. E a relação de compresença é a de localização desse feixe de tropos em uma específica região do tempo e do espaço.
Contra a economia ontológica originada da postulação de uma relação de compresença já foi objetado que uma relação de compresença C entre os tropos A e B, sendo ela própria um tropo, exigiria a existência de uma nova relação de compresença C1, para localizar A, B e C, o que exigiria a existência de uma nova relação de compresença C2 e assim infinitamente(10). Mas essa objeção só se justifica se supormos, como fez D. C. Williams, que cada tropo existe por si mesmo, sendo C um novo tropo a existir independentemente. Essa é, porém, uma suposição desnecessária: pode bem ser que C exista apenas devido a A e B, e que só o todo exista de maneira autônoma.
A teoria dos tropos proporciona também uma resposta ao velho problema metafísico da substância. Para certas teorias da substância, como a de Locke, a substância é um substrato nu (bare substratum), um “sei lá o que” incognoscível, que é repositório das propriedades. A dificuldade é que postular a existência de alguma coisa que em princípio não pode ser conhecida parece ser algo profundamente contraditório. Como podemos dizer que algo existe na ausência de uma experiência que nos permita inferir a sua existência? Locke acreditava que havia uma razão para tal inferência no fato de que precisamos ter sujeitos para a predicação de propriedades, pois não podemos começar predicando propriedades das próprias propriedades. Mas a teoria dos tropos torna essa postulação desnecessária. Um particular concreto, o livro que você tem nas mãos, é uma combinação (bundle) de tropos, e é uma tal combinação espácio-temporalmente localizável de propriedades que serve de sujeito de predicações. Um objeto físico – para usar uma metáfora de Wittgenstein – é como uma alcachofra, cujas folhas representam as suas propriedades. Pode parecer que após desfolharmos a alcachofra algo restará: a alcachofra em si. Mas na verdade nada restará, posto que a alcachofra consiste apenas de suas folhas.
Uma objeção à idéia de que combinações de tropos possam ser objetos de predicação é a de que toda predicação passaria a ser tautológica: dizer que essa bola é vermelha passa a ser redundante, pois o sujeito da predicação, a bola, consiste em uma combinação de tropos que já inclui o vermelho como constituínte(11). A resposta a essa objeção é em princípio muito fácil: devemos distinguir os tropos que constituem essencialmente a identidade de um objeto físico dos tropos que se aderem ao objeto físico de forma contingente, inessencial. Só uma combinação de tropos essencial à individuação de um objeto funciona como sujeito de predicação. É por isso que quando dizemos “Essa bola é redonda”, dizemos algo que é tautológico: admitindo que ‘Essa bola’ seja o sujeito da predicação, predicamos dele um tropo que lhe pertence essencialmente; mas o mesmo não acontece quando dizemos que a bola é vermelha ou que é de borracha. Essa mesma distinção entre a combinação de tropos que constitui essencialmente um objeto e aquela que não o constitui essencialmente também permite responder à objeção de que a teoria dos tropos não permite compreender processos de mudança nos particulares concretos. Ora, eles mudam sem deixar de permanecer os mesmos precisamente porque o que muda não é a combinação local de tropos compresentes que o constituem essencialmente, mas os tropos que o constituem contingentemente.
Consideremos agora como a teoria dos tropos poderia explicar fenômenos como o da referência abstrata ou das aparentes afirmações acerca de universais. Filósofos como D. C. Williams sugeriram que termos singulares abstratos não-sortais como ‘a coragem’ não denominam universais abstratos, mas conjuntos de tropos similares entre si. Mas há dificuldades com essa solução: como conjuntos possuem um número definido de membros, não podemos aumentar ou diminuir os tropos da coragem e outros objetos de referência abstrata, sem falar no fato de que os próprios conjuntos seriam objetos abstratos.
Minha solução é mais simples. Ela consiste em traduzir a solução clássica que empiristas como Berkeley e Hume deram para o problema dos universais em termos de tropos. Segundo essa maneira de ver, termos universais como ‘a coragem’ devem fazer referência a um certo tropo X e a todos os tropos que lhe forem similares. Para concebermos um universal precisamos primeiro ser capazes de representar um particular qualquer, um tropo X, e além disso conceber que o universal é constituido por X e por todos os tropos que lhe forem similares, sendo a própria similaridade entendida em termos de tropos. Com isso não precisamos mais nos preocupar com a quantidade de tropos existentes semelhantes a X ou com o status ontológico da própria noção de conjunto.
A solução que proponho responde também à objeção, cuja origem remonta a Bertrand Russell, segundo a qual se admitirmos as similaridades entre os tropos T1, T2, T3... de modo que T1 = T2, T2 = T3... precisaremos garantir que cada nova identidade é idêntica às anteriores, recorrendo então a identidades de nível superior, que por sua vez precisam ser provadas idênticas entre si, o que nos conduz a um abominável regresso piramidal ao infinito(12). Nada disso parece aqui necessário; tudo o que precisamos é perceber que T1 = X, que T2 = X, que T3 = X... sem precisar comparar identidades, posto que X (ou o que representamos por X) é tomado como um paradigma.
Apenas a ponta do tapete da teoria dos tropos foi levantada e, se minhas emendas são corretas, seria preciso defendê-la mais apropriadamente do que tem sido feito até aqui. A construção de uma adequada e completa teoria dos tropos é um empreendimento em aberto que, abstendo-se de recorrer a conceitos no fundo ininteligíveis, como os de universais puros e substratos nus, promete tornar a discussão tradicional acerca dos universais tão ultrapassada quanto se tornou a discussão clássica acerca das várias formas de dualismo para a discussão contemporânea do problema da relação mente-corpo.
A forma contemporaneamente mais “progressista” de nominalismo, que me parece em princípio capaz de pavimentar o caminho para uma solução mais satisfatória do problema dos universais, é o que poderia ser chamado de nominalismo dos tropos(8). A idéia é a de que por sua própria natureza as propriedades, atributos, qualidades, características, traços etc. são particulares, sendo as propriedades etc. de tal maneira concebidas tecnicamente chamadas de tropos. Os tropos são, pois, as unidades de construção do mundo real. Eles podem ser cores, formas, sons, odores, densidades, estados psicológicos etc. Eles podem ser concebidos como simples ou como entidades analisáveis em termos de outros tropos. O vermelho de um certo tomate, por exemplo, pode ser considerado um tropo; e o vermelho de um certo extintor de incêndio pode ser considerado um outro tropo. Ambos são entidades reais pertencentes ao mundo externo. Quando dizemos que dois objetos, o tomate e o extintor, compartilham da mesma propriedade, essa é apenas uma maneira equívoca de dizer que eles possuem tropos que são similares entre si. Quando dizemos que esses dois objetos possuem a mesma cor, essa também é uma maneira equívoca de dizer que eles possuem tropos de cores que são idênticos, sendo essa uma identidade qualitativa (de uma coisa com outra) e não numérica (de algo consigo mesmo). Essa relação de similaridade entre os tropos é primitiva e não comporta explicação ou análise: é um fato do mundo, ao qual estamos tão acostumados que custamos a perceber. Nosso aparato cognitivo nos torna capazes de identificar tal similaridade e por isso somos capazes de aplicar o mesmo termo geral a dois ou mais tropos e dizer o mesmo de muitos... A idéia de considerar propriedades como particulares (tropos) é, se considerarmos mais atentamente, perfeitamente intuitiva. Elas são os objetos imediatos de nossa atenção perceptual. Elas são também objetos de atenção seletiva: posso focalizar minha atenção no rugido do mar tempestuoso, na forma de suas vagas, em sua cor cinzenta; e quando atento para a sua cor cinzenta não estou pensando na cor cinza em si, mas nesse cinza particular, nesse tropo que estou vendo(9).
A teorização acerca dos tropos pode ser estendida na explicação da natureza dos particulares concretos como pedras, cadeiras, pessoas, planetas... Um objeto físico como o livro que você tem nas mãos nada mais é do que um feixe especialmente organizado de tropos compresentes: tropos de formas, tropos brancos e pretos, tropos de solidez, de flexibilidade etc., que coexistem no tempo. E a relação de compresença é a de localização desse feixe de tropos em uma específica região do tempo e do espaço.
Contra a economia ontológica originada da postulação de uma relação de compresença já foi objetado que uma relação de compresença C entre os tropos A e B, sendo ela própria um tropo, exigiria a existência de uma nova relação de compresença C1, para localizar A, B e C, o que exigiria a existência de uma nova relação de compresença C2 e assim infinitamente(10). Mas essa objeção só se justifica se supormos, como fez D. C. Williams, que cada tropo existe por si mesmo, sendo C um novo tropo a existir independentemente. Essa é, porém, uma suposição desnecessária: pode bem ser que C exista apenas devido a A e B, e que só o todo exista de maneira autônoma.
A teoria dos tropos proporciona também uma resposta ao velho problema metafísico da substância. Para certas teorias da substância, como a de Locke, a substância é um substrato nu (bare substratum), um “sei lá o que” incognoscível, que é repositório das propriedades. A dificuldade é que postular a existência de alguma coisa que em princípio não pode ser conhecida parece ser algo profundamente contraditório. Como podemos dizer que algo existe na ausência de uma experiência que nos permita inferir a sua existência? Locke acreditava que havia uma razão para tal inferência no fato de que precisamos ter sujeitos para a predicação de propriedades, pois não podemos começar predicando propriedades das próprias propriedades. Mas a teoria dos tropos torna essa postulação desnecessária. Um particular concreto, o livro que você tem nas mãos, é uma combinação (bundle) de tropos, e é uma tal combinação espácio-temporalmente localizável de propriedades que serve de sujeito de predicações. Um objeto físico – para usar uma metáfora de Wittgenstein – é como uma alcachofra, cujas folhas representam as suas propriedades. Pode parecer que após desfolharmos a alcachofra algo restará: a alcachofra em si. Mas na verdade nada restará, posto que a alcachofra consiste apenas de suas folhas.
Uma objeção à idéia de que combinações de tropos possam ser objetos de predicação é a de que toda predicação passaria a ser tautológica: dizer que essa bola é vermelha passa a ser redundante, pois o sujeito da predicação, a bola, consiste em uma combinação de tropos que já inclui o vermelho como constituínte(11). A resposta a essa objeção é em princípio muito fácil: devemos distinguir os tropos que constituem essencialmente a identidade de um objeto físico dos tropos que se aderem ao objeto físico de forma contingente, inessencial. Só uma combinação de tropos essencial à individuação de um objeto funciona como sujeito de predicação. É por isso que quando dizemos “Essa bola é redonda”, dizemos algo que é tautológico: admitindo que ‘Essa bola’ seja o sujeito da predicação, predicamos dele um tropo que lhe pertence essencialmente; mas o mesmo não acontece quando dizemos que a bola é vermelha ou que é de borracha. Essa mesma distinção entre a combinação de tropos que constitui essencialmente um objeto e aquela que não o constitui essencialmente também permite responder à objeção de que a teoria dos tropos não permite compreender processos de mudança nos particulares concretos. Ora, eles mudam sem deixar de permanecer os mesmos precisamente porque o que muda não é a combinação local de tropos compresentes que o constituem essencialmente, mas os tropos que o constituem contingentemente.
Consideremos agora como a teoria dos tropos poderia explicar fenômenos como o da referência abstrata ou das aparentes afirmações acerca de universais. Filósofos como D. C. Williams sugeriram que termos singulares abstratos não-sortais como ‘a coragem’ não denominam universais abstratos, mas conjuntos de tropos similares entre si. Mas há dificuldades com essa solução: como conjuntos possuem um número definido de membros, não podemos aumentar ou diminuir os tropos da coragem e outros objetos de referência abstrata, sem falar no fato de que os próprios conjuntos seriam objetos abstratos.
Minha solução é mais simples. Ela consiste em traduzir a solução clássica que empiristas como Berkeley e Hume deram para o problema dos universais em termos de tropos. Segundo essa maneira de ver, termos universais como ‘a coragem’ devem fazer referência a um certo tropo X e a todos os tropos que lhe forem similares. Para concebermos um universal precisamos primeiro ser capazes de representar um particular qualquer, um tropo X, e além disso conceber que o universal é constituido por X e por todos os tropos que lhe forem similares, sendo a própria similaridade entendida em termos de tropos. Com isso não precisamos mais nos preocupar com a quantidade de tropos existentes semelhantes a X ou com o status ontológico da própria noção de conjunto.
A solução que proponho responde também à objeção, cuja origem remonta a Bertrand Russell, segundo a qual se admitirmos as similaridades entre os tropos T1, T2, T3... de modo que T1 = T2, T2 = T3... precisaremos garantir que cada nova identidade é idêntica às anteriores, recorrendo então a identidades de nível superior, que por sua vez precisam ser provadas idênticas entre si, o que nos conduz a um abominável regresso piramidal ao infinito(12). Nada disso parece aqui necessário; tudo o que precisamos é perceber que T1 = X, que T2 = X, que T3 = X... sem precisar comparar identidades, posto que X (ou o que representamos por X) é tomado como um paradigma.
Apenas a ponta do tapete da teoria dos tropos foi levantada e, se minhas emendas são corretas, seria preciso defendê-la mais apropriadamente do que tem sido feito até aqui. A construção de uma adequada e completa teoria dos tropos é um empreendimento em aberto que, abstendo-se de recorrer a conceitos no fundo ininteligíveis, como os de universais puros e substratos nus, promete tornar a discussão tradicional acerca dos universais tão ultrapassada quanto se tornou a discussão clássica acerca das várias formas de dualismo para a discussão contemporânea do problema da relação mente-corpo.
Notas:
1 A presente distinção realismo/nominalismo é facilmente confundida com a distinção realismo/idealismo acerca do mundo externo. A primeira é uma distinção ontológica (ou seja, relativa ao que é, ao que existe) acerca de entidades mais fundamentais que constituem a realidade; já a segunda é uma distinção epistemológico-metafísica acerca da natureza do que nos é dado conhecer pela experiência, o realismo afirmando que conhecemos um mundo externo independente da mente e distinto dela, enquanto o idealismo afirma que o mundo externo possui de algum modo natureza mental.
2 Predicados (expressões predicativas, termos gerais) podem ser de dois tipos. Os predicados adjetivais, que possuem uma regra de aplicação caracterizando a entidade a que se aplicam, e os predicados substantivais ou sortais, cuja regra de aplicação envolve uma regra de particularização, permitindo-nos distinguir a entidade a que se aplicam de outras entidades similares. Se, por exemplo, alguém nos pergunta quantos verdes há na praça, não teremos como responder, pois ‘...é verde’ é um predicado adjetival; mas se alguém nos pergunta quantas árvores há na praça, nós poderemos contá-las e responder distinguindo uma árvore de outra, pois ‘... é (uma) árvore’ é um predicado sortal.
3 Para uma breve exposição crítica do realismo platônico-aristotélico, ver C. F. Costa: Estudos Filosóficos (Tempo Brasileiro/EDUFRN), Rio de Janeiro 1999, cap. 7.
4 Exemplos ilustres de platonistas de carteirinha são Gottlob Frege e Sir Karl R. Popper. A grande maioria dos filósofos do século XX parece ter cedido a alguma forma mais ou menos econômica de realismo.
5 Os exemplos desse e do próximo parágrafo foram adaptados da excelente introdução de M. J. Loux: Metaphysics, London 1998, pp. 25, 31, 32. Minha análise dos exemplos leva, porém, a conclusões opostas às de Loux.
6 Ver o artigo de G. Ryle “Expressões sistematicamente enganadoras” (“Systematic Misleading Expressions”), col. Os Pensadores (ed. Abril), São Paulo 1975, vol. LII.
7 Ver, por exemplo, W. V. O. Quine: From a Logical Point of View, Harvard 1954, pp 10-13.
8 Em sua forma atual a teoria dos tropos surgiu com o artigo de D. C. Williams, “The Elements of Being I”, Review of Metaphysics 7, 1953, pp. 3-18 e 171-92, tendo sido desenvolvida por K. Campbell em Abstract Particulars, Oxford 1990.
9 Contra esse exemplo é possível apresentar toda espécie de objeção representacionalista, não havendo espaço para respondê-las aqui (para uma introdução ao problema da percepção, ver capítulo 7 deste livro).
10 C. Daly: “Tropes”, em D. H. Mellor e A. Oliver (eds.): Properties, Oxford 1997, p. 157.
11 Ver M. J. Loux: Metaphysics: a Contemporary Introduction, London 1998, p. 103.
12 C. Daly: “Tropes”, em D. H. Mellor e A. Oliver (eds.): Properties, ibid. p. 149 ss.
2 Predicados (expressões predicativas, termos gerais) podem ser de dois tipos. Os predicados adjetivais, que possuem uma regra de aplicação caracterizando a entidade a que se aplicam, e os predicados substantivais ou sortais, cuja regra de aplicação envolve uma regra de particularização, permitindo-nos distinguir a entidade a que se aplicam de outras entidades similares. Se, por exemplo, alguém nos pergunta quantos verdes há na praça, não teremos como responder, pois ‘...é verde’ é um predicado adjetival; mas se alguém nos pergunta quantas árvores há na praça, nós poderemos contá-las e responder distinguindo uma árvore de outra, pois ‘... é (uma) árvore’ é um predicado sortal.
3 Para uma breve exposição crítica do realismo platônico-aristotélico, ver C. F. Costa: Estudos Filosóficos (Tempo Brasileiro/EDUFRN), Rio de Janeiro 1999, cap. 7.
4 Exemplos ilustres de platonistas de carteirinha são Gottlob Frege e Sir Karl R. Popper. A grande maioria dos filósofos do século XX parece ter cedido a alguma forma mais ou menos econômica de realismo.
5 Os exemplos desse e do próximo parágrafo foram adaptados da excelente introdução de M. J. Loux: Metaphysics, London 1998, pp. 25, 31, 32. Minha análise dos exemplos leva, porém, a conclusões opostas às de Loux.
6 Ver o artigo de G. Ryle “Expressões sistematicamente enganadoras” (“Systematic Misleading Expressions”), col. Os Pensadores (ed. Abril), São Paulo 1975, vol. LII.
7 Ver, por exemplo, W. V. O. Quine: From a Logical Point of View, Harvard 1954, pp 10-13.
8 Em sua forma atual a teoria dos tropos surgiu com o artigo de D. C. Williams, “The Elements of Being I”, Review of Metaphysics 7, 1953, pp. 3-18 e 171-92, tendo sido desenvolvida por K. Campbell em Abstract Particulars, Oxford 1990.
9 Contra esse exemplo é possível apresentar toda espécie de objeção representacionalista, não havendo espaço para respondê-las aqui (para uma introdução ao problema da percepção, ver capítulo 7 deste livro).
10 C. Daly: “Tropes”, em D. H. Mellor e A. Oliver (eds.): Properties, Oxford 1997, p. 157.
11 Ver M. J. Loux: Metaphysics: a Contemporary Introduction, London 1998, p. 103.
12 C. Daly: “Tropes”, em D. H. Mellor e A. Oliver (eds.): Properties, ibid. p. 149 ss.
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